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Segunda-feira,
7/10/2002
Hibakusha
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 102 >>>
Sem exagero: vale por uns dez cursos de jornalismo universitário. Somados e multiplicados. Estamos falando da coleção "Jornalismo Literário", idealizada pela Companhia das Letras, que a julgar pelo primeiro volume (recém-lançado), indicação de Matinas Suzuki Jr., vai tirar o Brasil de um atraso editorial de meio século. "Hiroshima" de John Hersey foi reportagem de capa e edição especial da lendária revista "The New Yorker", a 31 de agosto de 1946 (um ano e alguns dias depois da explosão da bomba A). Foi também aposta de Harold Ross e William Shawn, editores da era de ouro da publicação e, conseqüentemente, do jornalismo norte-americano. A edição se esgotou ainda nas bancas e o texto de Hersey se converteu na melhor matéria jamais escrita. A opção por uma narrativa factual, sem espaço para considerações morais ou para expressão de sentimentos do autor, conferiu perenidade às pouco mais de 150 páginas de "Hiroshima". Hersey preferiu se ater exclusivamente aos depoimentos dos sobreviventes e das vitimas, compondo um painel a partir de seis personagens principais. A frieza e a aridez do texto são, portanto, contrabalançadas pelo drama de cada protagonista em seu empenho particular de reconstruir a vida a partir das cinzas. Os horrores da explosão que matou mais de 100 mil pessoas, feriu outras 100 mil e inscreveu sua marca na História são descritos em detalhes. O único paralelo possível ao leitor de hoje são os atentados do 11 de setembro - com a diferença que Hiroshima foi atingida como um todo, por uma arma até então desconhecida (cujos efeitos eram imprevisíveis), tendo assistido à agonia de milhares que permaneceram dias ao léu, sem socorro. Além de ter se convertido numa das maiores bandeiras na luta pela paz, a reportagem de Hersey poderia ainda ser útil a um mundo que se lança numa conflagração sem precedentes, oriente-ocidente. Para o leitor individual, "Hiroshima" guarda, além do exemplo de estilo, as lições de seres humanos que venceram, quase sempre sozinhos, um dos maiores desastres que a humanidade já viu.
>>> Hiroshima - John Hersey - 176 págs. - Cia. das Letras
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Julio Daio Borges
Editor
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