DIGESTIVOS
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Quinta-feira,
28/11/2002
Affirmative action
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 110 >>>
Dentro da mostra "Meninas Malcomportadas", no Centro Cultural Banco do Brasil, está um dos filmes mais contundentes de David Mamet. Em 1994, o mesmo diretor de "Mera Coincidência" (1997) e "Deu a louca nos astros" (2000) resolveu dar sua resposta à onda do politicamente correto norte-americano. Foi através de "Oleanna", possivelmente inédito no Brasil, uma das mais bem realizadas críticas ao patrulhamento das esquerdas, à inversão de valores e às minorias oprimidas. A história se desenrola nas dependências de uma universidade nos Estados Unidos. Como não sai do gabinete de um professor e de sua sala de aula, transfere ao espectador a agonia lenta do protagonista. John (William H. Macy) e sua aluna, Carol (Debra Eisenstadt), começam uma disputa por questões de nota e terminam sua contenda na corte suprema. Num país onde a justiça não tarda e não falha. (Aliás, funciona até demais.) É um dos grandes absurdos retratados pela fita. Inconformada por ter sido reprovada, a estudante inicialmente se faz de desentendida, de ressentida, de perseguida desde a infância. Seu professor tenta mostrar-lhe que, quando jovem, também se sentia assim: um eterno incompreendido. Chega ao limite de provar que o sistema educacional, tradicional, não passa de um equívoco. Propõe, enfim, uma nova forma de avaliação, baseada em sessões privativas. O cinéfilo de primeira viagem não pesca, mas é justamente a "deixa" de que moça precisa. A partir dessa proposta (não se sabe se indecente) e da retórica exaltada de seu mestre, a aluna arruína-lhe a carreira - e a vida. Queixa-se ao conselho de professores que o suspende de imediato. Suspendido, perde a promoção e a casa que iria comprar. (Provavelmente, naufraga também seu casamento.) Junto a outros colegas, a estudante cria um movimento contra o "abuso de poder". O professor acaba expulso da universidade. Para completar, move-lhe uma ação por estupro - já que, numa das sessões, encostara em seu corpo. É um primor - e a platéia saí com dor de barriga. Não há, em sétima arte, uma representação mais fiel da atual histeria academicista. Mamet prova, mais uma vez, que, ao falar de seu país, não tem papas na língua.
>>> Mostra Meninas Malcomportadas | Oleanna
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Julio Daio Borges
Editor
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