DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
19/5/2003
Na onda da maré cheia
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 134 >>>
Quem é que vive mais: o ladrão besta ou o sabido? O besta morre logo e o sabido é garantido. Assim cantam Caju & Castanha, ou Cajuzinho & Castanha, desde que o Caju original faleceu (2001). Estamos falando da dupla de “emboladores de coco”, que deu primeiramente as caras nos anos 70, em Pernambuco, e que lança o seu segundo disco pela Trama (16º da carreira), em São Paulo. Embora sejam figurinhas fáceis nos mercados do norte e nordeste do Brasil, os repentistas (como são majoritariamente conhecidos) ficaram restritos a praças ou ao centro da cidade, no sul e sudeste, onde são geralmente apontados como atração pitoresca. Numa época, porém, em que a palavra perdeu aquela importância que já teve (para a MPB), revelam uma habilidade fora do comum em estruturar rimas, e uma argúcia contagiante em desencadear temas. No CD, “Professor de Embolada”, destacam-se inegavelmente as hilariantes “O ladrão besta e o sabido” (op. cit.), “A mulher feia e a mulher bonita” (um hino machista?), “O pobre e o rico” (uma preocupação social?), e “O poder que a bunda tem”, fechando o álbum. Na última, para que se tenha uma idéia, enumeram as vantagens da “mulher sereia” sobre a “mulher batida”, da “mulher de bunda cheia” frente ao “pau vestido” (mulher que “de bunda só tem [mesmo] a lasca”). Segundo eles, todos querem “pegar no volume da fartura”, “montar na garupa” ou então possuir uma “bunda exata”. Alguém vai falar em preferência nacional, mas é capaz que a composição seja de antes das propagandas de cerveja. Quem assina é Mestre Azulão, mas não encontramos o ano. Aliás, uma falha do encarte é não prover o ouvinte com as letras transcritas – a primeira ou a segunda maior riqueza, no disco, depois da interpretação. Caju & Castanha, no entanto, não são compositores (ou quase não são; as exceções ficam por conta de “História e Glória” e “Santa Cruz X Sport”). Entre os autores, reinam Pinto e Rouxinol. Mas também Lenine e Bráulio Tavares: sua “Lavadeira do rio” ganhou nova e interessante roupagem. Há que se ver quão receptivo se revela o público daqui a essas tradições (de lá), mas o preço é estimulante e uma audição antes não custa nada.
>>> Professor de Embolada - Caju & Castanha - Trama
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Julio Daio Borges
Editor
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