Digestivo nº 140 >>>
O teatro brasileiro oscila muito. Ou vence o apelo televisivo; ou o desejo de fazer “arte” é maior, e o espectador fica em último plano. Então termina assim: ou o público leva uma coleção de risadas para casa e nenhuma lembrança marcante do espetáculo; ou sai sem entender nada, com raiva de ter se arrastado até o centro da cidade, divorciando-se eternamente do palco. Não parece haver solução, mas há. No meio termo entre uma condição e outra, nem tanto à terra nem tanto ao mar, a “Terça Insana” vem se consagrando e recentemente comemorou mais de 100 apresentações. O número é representativo porque, além de ter se mantido semanalmente em cartaz durante todo esse tempo, o grupo nunca repetiu sequer um programa. O conjunto de “esquetes” (quadros, cenas, situações) é renovado a cada terça-feira, demonstrando que existe criatividade, aceitação e vitalidade para tanto. A trupe é comandada por Grace Gianoukas, uma cara conhecida da televisão, mas uma tremenda comediante gaúcha radicada há quase 20 anos em São Paulo. Junto a ela estão, fixos toda semana, Graziella Moretto, Luis Miranda, Marcelo Mansfield, Octávio Mendes e Roberto Camargo. Volta e meia, novos nomes são convidados, arejando o “cast” e demonstrando que o marasmo teatral é injustificável. Quem teve a oportunidade de conferir “O Melhor da Terça Insana”, que ficou pouquíssimo tempo em cartaz no Tom Brasil, pôde rir descontroladamente enquanto guardou a imagem de uma produção inteligente. O sexteto, depois dessas 100 e 1 noites, desenvolveu tipos que são aqueles que comumente encontramos, mas que não remetem aos velhos clichês de sempre. Assim, topamos com o guardador de carros diplomado, com a ex-diva de voz embargada, com a debutante de língua presa, com o moderninho da Avenida Paulista e com o executivo de mil e uma utilidades. A “Terça Insana” não tem papas na língua, o que já lhe rendeu e rende processos. Não tem medo de falar o que pensa e, nesse sentido, é impagável uma apresentação ao vivo dos “Tribalistas”, ops!, “Herbalistas”. Fica provado que o teatro pode ser interessante e fazer valer o ingresso.
>>> Terça Insana
"Fica provado que o teatro pode ser interessante e fazer valer o ingresso." Você fala como se esse fosse um dos poucos casos em que vale a pena ir ao teatro. Assim como no cinema, música ou TV, sempre há muita coisa ruim e muita coisa boa. É assim também com os livros. O problema de tudo isso é a falta de costume e a deseducação para atividades sociais promovida, principalmente, pela televisão e pelos veículos de massa. Não é só ao teatro que pensamos duas vezes antes de ir e, sim, em qualquer lugar fora dos nossos lares transformados em castelos fortificados. Amo ir ao teatro (besteirol, experimental, naturalista ou surrealista). E sempre vale a pena assistir uma ou outra coisa ruim para a descobrir belos trabalhos artísticos. Quero rir de vez em quando, mas não precisa ser em todo espetáculo... existem outras coisas.