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Segunda-feira,
5/4/2004
Imperador do samba
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 169 >>>
Talvez São Paulo não seja mesmo o túmulo do samba, mas é certo que – hoje – o berço do samba é o Rio de Janeiro. E não apenas por causa do carnaval (que a Bahia também tem, embalado por música baiana). Acontece que, quando surge uma figura como Marcos Sacramento, e um disco como “Memorável Samba” – entendemos que só no Rio essas coisas poderiam fazer sentido. São Paulo (que não entra na comparação, mas que serve de exemplo) introjetou a “metrópole rock”: plúmbea, soturna, agressiva. Outra associação (à Paulicéia) é com o “som” dos “excluídos”: o tal “rap” da periferia (ou “hip hop”, como queiram) – que pode ser ótima sociologia, mas que – me perdoem – não é música. Já o Rio – por mais violenta, desigual e desenganada que esteja a cidade maravilhosa – não perde sua vocação solar, gregária, malemolente. O álbum de Sacramento, além do fato de reinventar sambas clássicos (de Noel Rosa, Herivelto Martins, Wilson Batista e Ataulfo Alves, entre outros), transborda em alegria, luminosidade, sorrisos (a começar pela capa) – que seriam simplesmente impossíveis numa cidade como São Paulo. Infelizmente, os sociólogos de plantão (que contaminaram igualmente os artistas e os jornalistas) não concebem mais uma metrópole que não produza “matadores”, “justiceiros”, “vítimas”. Que mal há em cantar, digamos, o “Mulato Bamba” – que “Já nasceu com sorte/ E desde pirralho/ Vive à custa do baralho/ Nunca viu trabalho”? Ou então em “Deixar Falar!” (“Quando você dizia que trocava/ A gostosa feijoada pelo macarrão/ Desconfiava que você não era/ Brasileiro abençoado deste meu rincão”)? Ou ainda em recapitular “Meu Romance” (“... nosso amor nasceu/ Na tarde daquele memorável samba/ Eu me lembro, tu estavas de sandália/ Com teu vestido de malha/ No meio daqueles bambas”)? Porque poucos acertam o fraseado, como atualmente acerta, Marcos Sacramento. E com uma retaguarda instrumental de fazer inveja aos músicos da Época de Ouro, que ele homenageia. Aliás, se é para – no bom sentido – revirar tumbas, torna-se inevitável falar em João Nogueira – que deve ter ensinado Sacramento a deslizar macio, nítido, enquanto transmitia a boa nova dos velhos mestres.
>>> Memorável Samba - Marcos Sacramento - BF | Somlivre.com
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Julio Daio Borges
Editor
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