DIGESTIVOS
>>> Notas >>> Televisão
Sexta-feira,
2/7/2004
Andante majestoso
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 182 >>>
Luis Fernando Verissimo escreve, na capa, que Luiz Fernando Carvalho inventou um novo gênero, entre o cinema e a televisão. Osmar Prado brada, nos extras, que trata-se de um “marco histórico”. Fábio Assunção confessa, em entrevista, que nunca tinha tido tanta dificuldade em interpretar. Ana Paula Arósio sorri; Maria Adelaide Amaral conversa com o autor na tumba; Walmor Chagas compara a um “presente” que recebeu. Estamos falando de “Os Maias”, que a Globo realizou e que sai, neste momento, em DVD (4 unidades totalizando 940 minutos, mais de 9 horas). E, realmente, não existem palavras para classificar o trabalho. É, praticamente, irresistível sair da sessão (ou das sessões) confirmando o entusiasmo dos que participaram: em matéria de televisão, no Brasil, nunca houve nada igual (e se houve, é no máximo comparável, não chegando a superar). A começar pela fidelidade canina ao texto de Eça de Queiroz. Não é à toa que algumas das passagens mais saborosas são as “falas” do narrador, em “off”, na voz de Raul Cortez. A terminar pela composição “rembrandtiana” de Luiz Fernando Carvalho, cuja beleza plástica já se sustenta por si. Passando pelas locações deslumbrantes, pelas atuações memoráveis dos mesmos Walmor Chagas, Osmar Prado e Selton Mello, e pelas transformações (em todos os sentidos) dos idolatrados Ana Paula Arósio e Fábio Assunção. Se a televisão sempre foi restrita aos limites de uma arte chinfrim, “Os Maias” provou que ela pode ser – sim – uma grande arte. E o público, como era de se esperar, não respondeu à altura... Os realizadores se desculpam, nos depoimentos, por não terem sido “compreendidos” e pelo Ibope ter sido decepcionante. Mais isso não diminui a obra. (Às vezes, até, pelo contrário...) Algumas das maiores acusações a “Os Maias”, na época, mencionavam sua “lentidão” e obrigaram, o diretor e a autora, a uma “novelização” forçada. Os DVDs, felizmente, privilegiaram o “corte” de Luiz Fernando Carvalho, poupando o espectador dos enxertos de outras obras, como “A Relíquia” (que merecerão DVDs separados). Em resumo: ainda que haja controvérsias, a caixa é, de fato, imperdível. Também para os amantes da boa literatura. Afinal, nem o próprio Eça provavelmente imaginou – numa adaptação – tamanha grandiosidade.
>>> Os Maias - Globo Video
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Julio Daio Borges
Editor
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