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Sexta-feira,
12/11/2004
Behold, I tell you a mystery
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 201 >>>
Do Messias, oratório de Haendel, o mínimo que se pode afirmar é que impressionou Haydn a tal ponto que, depois de conhecê-lo, o mestre do classicismo e de Mozart voltou para casa e compôs A Criação e As Estações. Não poderia, portanto, haver encerramento mais adequado para a Temporada 2004 do Mozarteum Brasileiro, no Theatro Municipal de São Paulo, em fins de outubro. A cidade raras vezes dispôs de um coro como o da Sinfônica de Bamberg, de um regente como Rolf Beck e das vozes de Christiane Karg (soprano), Alison Browner (contralto), Hartmut Schröder (tenor) e István Kovács (baixo). Graças às legendas e à pronúncia irretocável dos cantores, foi possível acompanhar o desenrolar da obra em toda sua beleza e complexidade, desfrutando de cada interpretação e de cada passagem nos mínimos detalhes. É uma pena, no entanto, que a platéia não tenha extraído todo o brilho de trechos naturalmente preenchidos de qualidade literária, como tantas citações ao profeta bíblico Isaías, por exemplo. Dada a extensão do Messias, infelizmente nem todo mundo manteve a atenção e a atitude interessada, principalmente depois da primeira parte e do intervalo. Houve, obviamente, manifestações mais exaltadas por parte do público no chorus “Hallelujah!”, entre a segunda e a terceira partes, mas não durou mais que alguns minutos, como que respondendo à exaltação temporária do coro. E as interpretações “teatrais” das vozes foram, como se diz, uma atração à parte. Schröder, o tenor, era viril e usava de gestual forte, parecendo sublinhar os graves; Kovács, o baixo, era mais delicado e se preocupava sobretudo com a expressão facial, a qual não economizava; Browner, a contralto, muito altiva e elegante, conduzia as falas com ar professoral e não se furtava a acompanhar o coro, em alguns momentos, sibilando em voz baixa; Karg, por fim, foi a última a entrar – sempre enérgica, como convém a uma soprano, fazendo bom uso da aurora de seus 20 e poucos anos. Como se vê, o Messias esteve bem representado, e Haendel indubitavelmente teria aprovado, apesar da platéia dispersiva do século XXI e da presença tão pouco freqüente de oratórios assim bem montados.
>>> Mozarteum Brasileiro
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Julio Daio Borges
Editor
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