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Segunda-feira,
31/1/2005
Psychedelic funky experience
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 212 >>>
Em uma das edições do saudoso Empoeirado, programa de rádio sobre raridades em LP no UOL, Ed Motta desencavou alguns álbuns direto dos anos 60 e proclamou orgulhoso: “Isso é que é música eletrônica”, fazendo referência evidentemente ao boom eletrônico do final da década de 90 e do início dos anos 2000. Ed, que é um erudito em música popular, não estava obviamente se referindo apenas aos frenetic dancing days, mas sim a artistas que já experimentavam com instrumentos não analógicos há trinta ou mais anos. Ele não falou mas podia, também, estar pensando em João Donato. Donato, que, além de ser um dos pais fundadores da bossa nova, gravou um título, em aparência, completamente fora da sua discografia: A bad Donato (1970), que a Dubas relança agora. Parece tudo: música de seriado dos anos 70; música de filme de Quentin Tarantino; música exagerada da era progressiva (à maneira de Emerson, Lake & Palmer) – tudo menos João Donato. Sobre isso, comenta o próprio: “Eles queriam que eu gravasse seja lá como fosse, mas eu também não sabia como seria”; “(...) eu fiz o disco mais barulhento que me lembro de ter feito”; “Tava na época do LSD, não sei o quê...”. Em depoimento atualizado para a versão em CD, Donato confessa que fora descartado pela bossa cantada e que o jazz, em baixa, empurrava todo mundo para o fusion, inclusive Miles Davis e Wes Montgomery. Como ninguém é de ferro e o compositor de “A rã” queria emplacar no mercado americano, surfando na onda da novidade, recebeu carta branca do estúdio e lançou-se nesse seu Bitches Brew. Não embarcou sozinho, é claro: “Puxa, quer que eu vá aí te ajudar?”, era Eumir Deodato que logo se juntaria a Dom Um Romão e a Oscar Castro Neves, entre outros. O mais ironico de tudo é que, de acordo com Tommy Li Puma, A bad Donato, com seu impacto, seria uma das sementes justamente da... discothèque e da... disco music. Por essa, nem Ed Motta esperava. Talvez corrobore com a tese de Ruy Castro, de que um mau estilo estraga qualquer música (ou músico). Fica, contudo, como um retrato daquela atmosfera que enlouqueceu todo mundo – até os mais sóbrios e lúcidos.
>>> A bad Donato - João Donato - Dubas
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Julio Daio Borges
Editor
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