Digestivo nº 228 >>>
Nonato Luiz apareceu muito serelepe num daqueles programas de fim de tarde da Globo News empunhando o seu violão. Humilde, apesar da sólida carreira no exterior (talvez até mais sólida do que aqui no Brasil, lamentavelmente), explicava paciencioso, à repórter, sua transposição das composições de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira para as seis cordas – como se fosse um feito banal, quando, na verdade, era genial. Salvo engano, ninguém jamais executou essa proeza – de transpor o baião para o instrumento de João Gilberto (que não é a voz, embora muitos pensem) – com tanta perfeição. Nonato relatava madrugadas insones em que disputava com os mestres, Teixeira e Gonzaga, por causa de sua resistência – não muito óbvia para o ouvinte de primeira viagem – em deitar e rolar na viola (que já foi considerada instrumento de vagabundo...). Mesmo as já tão gravadas, hoje, “Asa Branca”, “Vem Morena” e “Juazeiro” soam, sob nova roupagem, como reluzentes e intrigantes novidades – evidenciando a estatura do baião, um gênero como qualquer outro, apesar dos velhos preconceitos, principalmente por parte da turma da bossa-nova, por causa da sua aparente falta de elaboração. Outras faixas, não tão conhecidas do grande público atual (nem sempre nordestino e versado), como “Fogo Pagô” e “Légua Tirana”, adquirem aquela coloração meditativa e lírica, graças aos tons pastéis, hoje típicos em sétima arte, quando se constroem cenas (estereotipadas?) do sertão. Por último, um certo caráter lúdico e até de marchinha permeiam as interpretações de peças como “Baião de Dois”, “Dono dos Teus Olhos” e “Deus me Perdoe”. A discrição do lançamento, em 2004, se reflete igualmente na presença de nobres convidados, como Dominguinhos, inevitavelmente na sanfona, e Hermínio Bello de Carvalho, assinando o encarte. Nonato Luiz, que realizou um dos grandes álbuns do ano passado, devia deixar de ser besta e aparecer mais, oxe.
>>> Baião Erudito - Nonato Luiz
Nonato Luiz reafirma o seu talento, a sua inventividade e o seu amor pelo belo. Ele, de forma única e com uma grande "sacada", nos dá o prazer desse som. É sempre gostoso ouví-lo e curtir as suas fantásticas performances. Belo trabalho. É impossível ouvir e não se arrepiar.