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Segunda-feira,
30/9/2002
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Redação
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Pq as pessoas lêem o Leminski?
Depois de duas edições [1 e 2], mais um pouco do blogueiro-filósofo, perdido no emaranhado da internet. Nesta seqüência, um peteleco na poesia e nos leitores de Paulo Leminski (atenção: foi mantida, de propósito, a grafia leminskiana original):
"e pq as pessoas lêem o Leminski? 1. pq é fácil. Vc ñ precisa prestar atenção, é só ler como quem está folheando o jornal que fica elas por elas. Não fácil como um lírico: o poema já está lá, com toda a sua ossatura a mostra, e tudo que vc precisa é olhar para ela e degustar a sensação de tê-la descoberto, satisfação instantânea garantida. Leminski faz vc se sentir inteligente, mesmo que tudo que o poema tenha a oferecer seja um trocadilho sem-graça. 2. pq o sujeito é de um charme. Há toda uma sub-espécie de leitores que se imagina beat, zen isso, psicodélico aquilo, e o Leminski é tudo c/ q eles querem se identificar. Aquilo dele ficar posando de 'samurai malandro', 'brasileiro zen', 'bandido que sabia latim' e não sei o q mais. E o verbo é posando, mesmo. O sujeito é discípulo do Haroldo de Campos (deus em forma de tradutor da ilíada) e só pq quem entende diz que ele é fraco já vira poeta marginal."
Quem quiser saber mais sobre o autor do que foi dito acima, ele se define assim: "Eu tenho tantas idéias legais de coisas pra fazer e tanta preguiça pra me impedir. Na verdade, eu tenho mais preguiça que idéias. Enfim."
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Julio Daio Borges
30/9/2002 às 11h43
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Falta alguma coisa ali no meio
O caderno Cultura do Estadão, aliás, que andava capengando, tomado por artigos chochos e colunismo social barato, publicou hoje uma resenha de "Seis Mil em Espécie", de James Ellroy, assinada pelo dono de dos melhores textos do jornalismo brasileiro: José Onofre. O assunto é limitado, mas Onofre consegue sempre ser instrutivo para o leitor médio, relembrando Edmund Wilson e apontando "O Grande Gatsby", de Scott Fitzgerald, como "o melhor romance norte-americano já escrito". Não sei se realmente aconteceu, mas a impressão que tenho, como leitor, é que seu artigo foi reduzido por algum editor apressado. Reparem: falta alguma coisa ali no meio.
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Eduardo Carvalho
29/9/2002 às 10h32
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A vantagem do Blog
Daniel Piza é um jornalista muito bem informado - o que é raríssimo. Mas o formato rápido e dinâmico da sua coluna, muito parecida com um Blog, é em parte desperdiçado pela inflexibilidade do jornal impresso. E acaba que, apesar de escolher os artigos certos para recomendar ao seu leitor, ele sai em desvantagem com a gente, e indica a resenha de Louis Menand publicada na New Yorker, por exemplo, com dias de atraso em relação ao meu post. Resta-lhe tentar ser mais profundo - o que, neste caso, ele não foi. Tudo bem, mais uma vez, Daniel: sua intenção continua boa, e sua opinião sobre Cidade de Deus é a mais - para usar um adjetivo que você gosta - perspicaz publicada na imprensa brasileira.
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Eduardo Carvalho
29/9/2002 às 10h26
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Ninguém é perfeito
Sérgio Augusto escreve hoje sobre Anthony Lane, o sucessor da lendária Pauline Kael na cadeira de crítica de cinema da revista New Yorker. Lane fecha o ciclo de entrevistas do programa IBM E-Nova, pelo GNT, "uma espécie de Milênio a dois", com Lúcia Guimarães e Jorge Pontual, cuja reprise vai ao ar amanhã, domingo, às 18h30:
"Nada simpático, mas engraçado (no sentido de wit) e meio chegado a um jogo de palavras, Lane virou crítico de cinema por acaso e preguiça. Seu pai até hoje lhe cobra uma profissão mais séria. 'Ele tem razão', reconhece Lane, que considera seu ofício 'um dos maiores casos de impotência profissinal', só importante para quem vive dele ou se interessa por cinema. 'O cinema independente ainda pode se beneficiar de um empurrão da crítica, mas para os filmes dos grandes estúdios, nossa importância é nenhuma', constata, friamente, regozijando-se com a liberdade de ação que o desprezo de Hollywood lhe proporcionou. Sem compromissos e livres de pressões, os críticos não arriscam mais seus empregos quando picham algum blockbuster artisticamente medíocre.
"Lane sem dúvida faz milagres brilhando à custa de um repertório cujas 'obras-primas' são A Época da Inocência, Tiros na Broadway, Los Angeles - Cidade Proibida, A Trapaça (The Spanish Gardner), Deuses e Monstros e O Show de Truman. Nem todas, por sinal, apreciadas por ele. Na entrevista ao IBM E-Nova ele se manifestou, en passant, sobre alguns filmes do período imediatamente anterior à sua entrada na New Yorker, sobre os quais certamente adoraria ter escrito um artigo. Adorou O Último dos Moicanos (aquele com Daniel Day-Lewis), A Dupla Vida de Veronique, Os Eleitos e Era Uma Vez na América. Dois xodós recentes: Paul Thomas Anderson (Magnólia) e Wes Anderson (Três é Demais e Os Exêntricos Tenenbaums). Achou furada a proposta do Dogma dinamarquês, enrabichou-se pelo novíssimo cinema mexicano e encantou-se com o François Ozon de Sob a Areia (a seu ver, a melhor aparição de Charlotte Rampling na tela)."
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Julio Daio Borges
28/9/2002 às 14h22
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Vontade de abraçar todo mundo
Tava demorando. Descobriram que o ecstasy faz mais mal ao cérebro do que se pensava. Como acontece com todas as outras drogas, os usuários vão negar até a morte - embora tenha sido publicado na Science - e vão dizer que "não tem nada de mais" e que "param quando tiverem vontade". (Ah, tá.) Abaixo, extratos da matéria completa de O Estado de S.Paulo:
"Segundo pesquisa publicada hoje na revista Science, o uso do ecstasy - ou 3,4 metilenodioximetanafetamina (MDMA) - em doses consecutivas durante um curto período, mesmo que por uma única noite, pode causar danos severos ao cérebro. Em experimentos realizados com macacos, os cientistas comprovaram pela primeira vez que a droga pode danificar neurônios do sistema de dopamina, que ajuda no controle de movimentos e regula o sentimento de prazer. Até então, sabia-se que o ecstasy atuava apenas sobre os neurônios de serotonina, um outro tipo de neurotransmissor, responsável pelo controle de apetite, sede e regulação de temperatura.
"O experimento é o primeiro a avaliar os efeitos do ecstasy em um modelo de consumo semelhante ao observado entre os jovens, segundo o pesquisador George Ricaurte, coordenador do trabalho na Universidade Johns Hopkins. Os macacos receberam de duas a três doses da droga, com intervalos de três horas entre cada uma. Foi o suficiente para danificar entre 60% e 80% dos neurônios dopaminérgicos do corpo estriado, região do cérebro que contém a maior parte desse sistema. Segundo Ricaurte, a droga não mata as células, mas destrói suas terminações nervosas. 'Ainda não sabemos como isso ocorre e se os danos são permanentes', disse o pesquisador ao Estado. Os efeitos foram observados até seis semanas após a ingestão da droga."
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Julio Daio Borges
27/9/2002 às 09h55
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Rasgos de memória
Foi assim que João Barone classificou a nova fase mental de Herbert Vianna, em que mistura os atuais lapsos a momentos de lucidez súbita, como nos trechos seguem abaixo (tirados de uma entrevista concedida a Jotabê Medeiros, no Caderno2 do Estadão):
Estado - Você compôs uma música chamada 300 Picaretas, que foi inspirada numa declaração do Lula. Como você vê a eleição atual?
Herbert Vianna - Tenho sentido muito claramente o desejo de ir a um programa do Lula. Não preciso falar nada, só levar um violãozinho e cantar e levar um tamborzinho e pedir para ele tocar. Dá a impressão, pelo menos para a gente que está torcendo tanto por ele, pela mudança que ele pode representar, que ele pode ganhar no primeiro turno.
Estado - Muitas das músicas novas parecem se referir a seu drama. Você faz a conexão entre o momento que as compôs para o atual?
Herbert - Por enquanto não. Acho que, por uma questão operacional do cérebro, não está acontecendo. Pelo contrário. Tenho um desejo de ter a seqüência do disco decupada na minha cabeça.
Estado - Como vocês se situam na numeração dos CDs, que foi defendida pelo Lobão?
Herbert - O Lobão já ofendeu a gente de tudo e a gente sempre teve uma visão positiva dele. Ele xinga e não obtém nenhuma ofensa de volta. A gente não precisa.
Estado - Sentem mágoa dele?
Herbert - Mágoa não. Mas me causou bastante perplexidade que ele visse no que a gente faz - e faz com tanto coração -, coisas de propósito para irritar ele. De vez em quando, a gente via o xingamento, o vômito dele.
Estado - Esse disco é um pouco mais soturno que os outros dos Paralamas. Isso foi deliberado? Nos discos dos Paralamas sempre tinha alguma coisa mais dançante, mais festiva.
Herbert - Quando você fala de coisas mais dançantes, eu me lembro de O Beco. O ritmo é dançante, mas se você ouvir a letra recitada, vai ver que não tem nada de festiva.
Estado - Herbert, você fez três discos-solo muito elogiados. Pretende continuar a fazê-los?
Herbert - Posso retomar no momento em que restabelecer o meu quadro mental antigo. Quando comecei a fazer isso, foi fruto de minha obsessão por equipamentos caseiros. Quando já havia a tecnologia para aquilo ter mais qualidade, eu experimentava. Tinha um pouco da vontade também de mostrar que era possível, que para fazer discos não precisa entrar numa gravadora, apertar a mão de ninguém, assinar contratos.
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Julio Daio Borges
27/9/2002 às 09h43
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Uma gracinha em Harold Bloom
Larissa MacFarquhar é uma gracinha. Eu acho, pelo menos. Me decepcionei quando descobri que ela escreveu, na época do escândalo Lewinsky, que seria difícil para qualquer mulher resistir a um homem que é, ao mesmo tempo, Presidente dos Estados Unidos e um bebê - essas duas qualidades são suficientes para compor um homem repugnante. Hoje, porém, ela ficou bonitinha de novo - a qualidade do seu texto impresso na "New Yorker" empresta um certo charme às irregularidades do seu rosto.
Se, há alguns posts atrás, recomendei atrasado uma resenha da revista, agora, para compensar, adianto uma matéria da próxima: Larissa MacFarquhar assina o Profile do crítico literário Harold Bloom. E oferece, online only, uma breve e simpática entrevista sobre o autor de, para ser convencional, "Como e Por Que Ler":
"It's not the notion of pleasure in general that separates Bloom from his profession; it's the type of pleasure involved. Many of his colleagues love literature for aesthetic reasons but also take pleasure in the construction of historical theories and the dissection of political logic. For Bloom, though, literary pleasure consists only in the struggle with poetic greatness.
"Bloom is very brilliant, and brilliance is always seductive, but many professors at Yale are brilliant. What sets Bloom apart is the extraordinary quality of the attention he pays to his students. He is extremely flattering-he is always calling people geniuses, or telling them that only they truly understand something or other, be it a poem or Bloom himself-and he has an enormous capacity for genuine fascination with and affection for other people. So you can imagine how appealing he is to students who are used to being more or less ignored by their teachers."
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Eduardo Carvalho
26/9/2002 às 23h09
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Hitchens deixa a The Nation
Depois de 20 anos como colaborador, Christopher Hitchens finalmente escreve sua última coluna para a revista The Nation. Já estava na hora. É o que acontece com intelectuais independentes: não se encaixam em revistas com ideologia definida e fechada. A Vanity Fair, a The Atlantic Monthly e a Harper's continuam publicando o homem que desmascarou personalidades como Henry Kissinger e Madre Teresa, e que acaba de lançar, nos Estados Unidos, um livro sobre seu ídolo, George Orwell. Só estamos esperando chegar aqui.
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Eduardo Carvalho
26/9/2002 às 16h49
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Quote of the day
"This is not something you retire from. It's your life. Writing songs and playing is like breathing you don't stop." [Não é uma coisa da qual você se aposenta. É a sua vida. Escrever canções e tocá-las é como respirar, você não pode parar.]
Foi citação do dia no New York Times. Embora a foto seja do pai do filho daquela moça, do Mick Jagger, a frase é de Keith Richards, companheiro inseparável e crítico mais severo. [Eu gostei tanto de ler isso hoje de manhã que ficaria por aqui mesmo, suprimindo apenas o trecho "canções e tocá-las".]
Em realidade, compõe uma matéria sobre a insistência dos roqueiros em permanecer em atividade. Mick Jagger até que tenta mas as melhores declarações, a exemplo da de cima, são da lavra de Keith Richards: "I want to do it like Muddy Waters - till I drop." [Quero fazer como Muddy Waters - até cair.]
"The Stones are incredibly strong and a well-oiled machine. Ideas keep popping up. After every tour - you've been on the road maybe three years - you go home and forget about it for, like, a year, and then after about 18 months, you start to expect a phone call. And after a few weeks, it'll be like Mick or Charlie saying, 'Are we going to do anything?'"
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Julio Daio Borges
26/9/2002 às 10h55
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