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Quinta-feira,
6/3/2008
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Redação
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A loucura por Hilda Hilst
(...)É horrível ser louco. Meu pai foi esquizofrênico paranóico e ele sofreu muito. As pessoas fantasiam muito com a loucura, ficam imaginando só um lado poético, genial de ser louco. Mas não é só isso. Padecer de loucura é terrivelmente doloroso. E não sei até onde a loucura garante a boa qualidade da sensibilidade ou percepção de alguém. O mundo teve loucos geniais, Nietszche, Nijinsky, tantos outros. Mas teve os horríveis. Hitler também tinha uma sensibilidade diferente do convencional, mas era um carniceiro monstruoso. E também deve ter muito louco chato, maluco mesmo, como acontece com [quase] todo o mundo.
Trecho de Hilda Hilst, no Scream & Yell, via Love, love, my season.
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Julio Daio Borges
6/3/2008 à 00h59
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A língua nossa de cada dia
"Toda noite, duzentos milhões de pessoas sonham em português" ― com esta frase, começa o documentário Língua ― vidas em português, de Victor Lopes. Filmado em seis países (Portugal, Moçambique, Índia, Brasil, França e Japão), o filme trata da capacidade que nosso idioma tem de modificar o próprio corpo, como diria o escritor Mia Couto. Mas essas modificações derivadas do casamento com outros solos (para usar outra expressão de Couto) são capazes de transformar o português em outra língua?
Na verdade, não. Apenas mudanças estruturais alteram uma língua, o que não ocorreu no Brasil, nem nos outros países usuários do português. Mas não podemos ignorar as diferenças entre o português do Brasil ― filho que se tornou maior que o pai ― e o de Portugal. Por exemplo: se você estiver em Lisboa, deve pedir uma bica e não um cafezinho. Isso mesmo: bica, que, na gíria dos jovens paulistas, significa pontapé. E quem nunca ouviu um relato das confusões geradas pelo significado da palavra "bicha", que, em Portugal, significa fila? Pensando nessas e em outras diferenças, como as de pronúncia e de morfologia e sintaxe ― em Portugal, diz-se "dá-me um baijo" e, no Brasil, "Me dá um beijo" ―, os lingüistas falam em diferentes modalidades de português. O nosso é o português brasileiro.
Em oito séculos de português, muita coisa se perdeu e se modificou, vossa mercê há de concordar. Os mais conservadores, como José Saramago, acham que nosso vocabulário está diminuindo e que, com isso, a comunicação será prejudicada. Então, nos comunicaremos com grunhidos ― numa espécie de retorno às cavernas. Talvez, esta seja uma visão parcial do nosso idioma, pois da mesma forma que algumas palavras estão em desuso, outras vão sendo criadas. A língua portuguesa também está viva e, como tal, sofre transformações todo dia. Mas o mesmo Saramago, na última parte do documentário, faz diferença entre a língua como mero instrumento de comunicação e a que se transforma, pelas mãos de escritores poetas e cronistas, em fonte inesgotável de beleza. E acrescenta: "Aquilo que sobrou, aquilo que as bibliotecas guardam, dava para passar a vida inteira mergulhado na língua portuguesa".
Para ir além
Língua ― vidas em português, com José Saramago, Martinho da Villa, João Ubaldo Ribeiro, Madredeus e Mia Couto. Já está nas locadoras e entra este mês na programação do Canal Brasil.
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Daniela Lima
5/3/2008 às 09h36
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Livros do Mal em Vídeo
Em outubro de 2001, Daniel Galera, Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla criaram em Porto Alegre o selo editorial Livros do Mal. Como parte da estratégia de lançamento da empreitada, fizeram esse Vídeo do Mal — VDM #UM. O vídeo foi exibido em telão no evento de inauguração do selo e enviado para uns poucos porcos sodomitas selecionados cuja identidade permanecerá anônima.
O vídeo passou mais de seis anos perdido numa única fita VHS empoeirada que foi carregada de estante em estante ao longo de mudanças interestaduais. Ei-lo, agora, digitalizado em toda (ou quase) sua glória, com porcos, vermes, diabos, máscaras antigás, tacos de beisebol, churros e nonsense no embalo de Mogwai, com flashes de uma Porto Alegre — e de uma época — que jamais será esquecida.
Daniel Galera, em seu Orkut, dias atrás.
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Julio Daio Borges
5/3/2008 à 00h30
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Big Bang
Acho que até o homem mais ateu, na hora da morte, clama por Deus. E o mais religioso, desconfia do paraíso!
Estas afirmações não possuem o menor lastro de confiabilidade. Pior, são à prova de comprovações científicas. A única possibilidade seria irmos a um próximo mundo para comprovar (ou isto não seria possível?). Porém, a resposta está no seu íntimo, não está? Na sua essência. Naquele medo que te dá um frio na barriga ao ouvir as palavras "morte", "desconhecido", "espírito", "inferno" e "paraíso". Aparece, também, em falas espontâneas, aparentemente sem sentido: "cruz-credo"; "ave-maria"; "oh Deus!".
O nome que se dá a este sentimento que criou as lendas, as religiões, os mitos e a própria ciência é medo!
Já dizia um famoso filósofo grego que o ser humano é naturalmente sociável. Questiono se esta sociabilidade não decorre do sentimento citado acima, pois sempre é bom estar com alguém quando se está aflito. "Jogue a primeira pedra quem não sente o mesmo"!
Freud, em seu livro O mal estar na civilização, já dizia que a coletividade possui um sentimento de oceanicidade, ou seja, todo mundo quer sempre fazer parte de alguma coisa.
É verdade que, às vezes, me confundo, não sabendo se é medo ou carência o nome desta agonia. Seria a carência decorrente do medo, ou vice-versa? Estamos ou não diante do temor de ficarmos sozinhos, de não ansiar o futuro... ou isso é carência?
Independentemente do que seja, os governos deveriam obrigar, por meio de lei, todas as escolas a oferecerem em seus currículos o ensino religioso. Notem que eu não disse catequese ou aula sobre o primeiro testamento, eu disse ensino religioso, uma espécie de workshop mais aprofundado.
Isto ajudaria as crianças e futuros adultos a estudar os principais fundamentos de cada religião, no que elas se baseiam e por que elas atraem ou não tantos fiéis. De quebra desenvolveriam uma maior tolerância com o "diferente".
Aprendendo suas essências talvez descobrissem mais cedo o que no fundo todos queremos: paz espiritual e respostas, mesmo que estapafúrdias, para não temermos o desconhecido. Se é através do Hinduísmo, da Cientologia ou da pura ciência, não importa. O que vale é a segurança.
Fora isto, vocês já perceberam que várias histórias bíblicas possuem um porquê científico ou moral? A circuncisão, nos meninos judeus recém-nascidos, é uma forma milenar de prevenir infecções. Jesus Cristo, ao transformar a água em vinho, semeou a esperança e o otimismo.
Ora, as religiões de uma forma geral possuem como seus dogmas os acontecimentos inexplicáveis, ou leis para "obrigar" a sociedade a se comportar, se desenvolver, saindo, assim, do mundo das trevas.
Ou alguém dúvida que sem a tábua das dez leis seria impossível estarmos aqui hoje? Na sociedade atual (talvez por isto o número cada vez maior de descrentes) o papel da religião está nas mãos dos juristas, dos médicos e dos cientistas.
Resta, portanto, para a religião, a filosofia e seus ensinamentos, que fazem as engrenagens da sociedade rodar melhor!
Deixemos a discussão entre os teólogos e os cientistas para o que ainda não conseguimos decifrar, mas não podemos esquecer, jamais, de sermos tolerantes, lembrando que a intolerância não encontra respaldo nem na religião e nem na ciência!
Minha sugestão: faça das religiões o seu "big bang", pegue o que há de melhor em cada uma delas, descarte as baboseiras, adapte com a ciência e viva feliz.
Ou seja, não tenha medo!
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Daniel Bushatsky
4/3/2008 às 19h48
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Um brilhante guitarrista
De todos os shows a que assisti na vida, nunca, mas nunca o artista faleceu, até hoje...
O brilhante guitarrista canadense Jeff Healey faleceu em 3 de março de 2008, aos 41 anos de idade, de um câncer que o acompanhava há pelo menos 40 anos. A doença o cegou quando ainda era criança, mas isso não o impediu de aprender a tocar guitarra e se tornar uma sumidade no assunto.
Eu era uma garota de 17 anos quando presenciei seu show em 1997 e fiquei impressionada com aquele jovem cego tocando sentado e com a guitarra no colo, um jeito único de fazer música que ele teve que desenvolver devido à sua deficiência visual. Era um bluseiro brilhante que fará falta para a família e para o mundo da música, que apesar de não saber — pois ele era pouco conhecido — ficou mais triste após sua partida.
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Tatiana Cavalcanti
4/3/2008 às 15h42
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Ócio criticativo
Nunca pensei em alimentar um blog com as minhas mazelas diárias. Também nunca imaginei que ficar sem fazer nada fosse tão entediante... Afinal posso acordar e ir dormir a hora que bem entender, ir ao shopping quando quiser, me dar ao luxo de passear com o totó as quatro da tarde.... Como a realidade é impiedosa, logo me vi sem companhia para estas saídas. (A não ser a do cachorro, que por sinal adora...)
Além da preguiça, meu pecado moral mais valorizado parece ser a língua ferina. Eu nego veementemente, acredito sinceramente que exponho apenas uma faceta da realidade que as pessoas não querem ver, ao menos não assim de frente... Sabe como é? Até porque rude ou não, estatisticamente sou incontestável. Quando eu falo que vai dar merda... Pode esperar. Era nisso que eu queria chegar. Não que eu sou o ícone pop do egocentrismo, mas que tenho um talento que está sendo subaproveitado para crítica. Ué, evidenciar onde mora o problema das coisas pode ser um dom, por quê não?
Dani Maria, no que se dani..., que eu acabei de descobrir.
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Julio Daio Borges
4/3/2008 à 00h09
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Escrever: voltar-se pra dentro
O escritor é uma pessoa que passa anos tentando descobrir com paciência um segundo ser dentro de si, e o mundo que o faz ser quem é: quando falo de escrever, o que primeiro me vem à mente não é um romance, um poema ou a tradição literária, mas uma pessoa que fecha a porta, senta-se diante da mesa e, sozinha, volta-se para dentro; cercada pelas suas sombras, constrói um mundo novo com as palavras. Esse homem — ou essa mulher — pode usar uma máquina de escrever, aproveitar as facilidades de um computador ou escrever com caneta no papel, como venho fazendo há trinta anos. Enquanto escreve, pode tomar chá ou café, ou fumar. De vez em quando, pode se levantar e olhar pela janela as crianças que brincam na rua e, se tiver sorte, contemplar algumas árvores e uma bela vista, ou apenas topar com uma parede escura. Pode escrever poemas, peças de teatro ou romances, como eu. Mas todas essas particularidades só vêm depois da decisão crucial de sentar-se diante da mesa e, pacientemente, voltar-se para dentro. Escrever é transformar em palavras esse olhar para dentro, estudar o mundo para o qual a pessoa se transporta quando se recolhe em si mesma — com paciência, obstinação e alegria. Enquanto passo os dias, os meses, os anos sentado à minha mesa, acrescentando pouco a pouco novas palavras à página em branco, sinto-me como se criasse um mundo novo, como se trouxesse à vida aquela outra pessoa que existe dentro de mim, da mesma forma como alguém poderia construir uma ponte ou uma ábóboda, pedra por pedra. As pedras que usamos, nós os escritores, são as palavras. Quando as colhemos com as mãos — tentando intuir a maneira como cada uma se conecta às outras, contemplando-as às vezes de longe, às vezes quase chegando a acariciá-las com os dedos e a ponta da caneta, sopesando-as, virando-as de um lado e de outro, ano após ano, sempre com paciência e esperança —, criamos novos mundos.
Orhan Pamuk, em A maleta do meu pai, um livrinho poderoso.
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Julio Daio Borges
3/3/2008 à 00h55
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Darwin, a biografia
Prepare-se. No próximo ano não se falará de outra coisa além do bicentenário do nascimento do naturalista britânico Charles Darwin, que veio ao mundo precisamente no dia 12 de fevereiro de 1809. Darwin é, ao lado de Marx e Freud, um dos estudiosos que mais impacto causou o curso da história recente, autor que foi da Origem das Espécies.
Procurei me adiantar ao fuzuê que em breve se seguirá, e saí atrás de uma biografia do homem. Soube que aquela que é considerada definitiva é Darwin: The life of a tormented evolucionist, de Adrian Desmond e James Moore, primeira e toscamente traduzida no Brasil em meados dos anos 90 pela Geração Editorial. Mais recentemente, a mesma editora colocou no mercado uma nova tradução do calhamaço, desta feita de autoria de Cynthia Azevedo e coordenada por Renato Sabbatini: Darwin: A vida de um evolucionista atormentado (Geração Editorial, 2007, 800 págs.).
Atormentado mesmo. Pois aquele homem de rosto cabeludo e expressão séria (que faria a alegria de chargistas-detratores) que acabou elaborando a, digamos assim, contra-teoria do criacionismo hegemônico era... um crente. Por isso, ao chegar à conclusão de que todos nós, do menor pé-rapado ao Santo Padre, somos descendentes diretos de moluscos hermafroditos acéfalos, informou: "É como confessar um crime".
Pode-se passar voando pelos primeiros capítulos de Darwin, que descrevem a pouco temperada infância e primeira juventude do biografado. Por suposto, os capítulos intermediários e finais são eletrizantes, à medida que Origem das Espécies vai sendo gerado e, por fim, vem à tona, gerando, como era de se esperar, uma quantidade absurda de ataques ao autor herege — o quê?!, o papa primo de um chimpanzé?
Cumpre ainda informar que o livro de Desmond e Moore não é uma mera descrição de fatos. Ao contrário, é um verdadeiro painel dos costumes, política, economia e religião de fins do século XVIII e de grande parte do XIX, o que, de resto, é absolutamente indispensável para compreendermos como e por que Charles Darwin evoluiu de um jovem com constantes problemas nos estudos (demorou muito a encontrar sua verdadeira vocação) para o cientista dilacerado entre suas crenças e suas descobertas que mudaria para sempre o modo como o homem vê a si mesmo e o mundo à sua volta. Muito mais dessa história, em 2009...
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Daniel Lopes
1/3/2008 às 11h36
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Música Popular, não
Sabe lá o que é escrever durante trinta anos sobre música popular? E ouvir tudo o que se grava, do péssimo ao detestável, receber telefonemas às três da madrugada para resolver a aposta que um grupinho animado e desconhecido faz na mesa de bar: "Camisa Amarela" é de Ary Barroso ou Assis Valente? Ou um outro, da senhora grã-fina, recém-chegada de Paris, que precisa, urgentemente, da gravação de "Tem galinha no bonde", para a filha completar seus estudos na Sorbonne. É aturar 3 mil mocinhas sem talento ou formosura; é agüentar os trezentos filhinhos de nossos amigos, meninos de genialidade indiscutível; é levar pedrada na cabeça quando não se gosta da maneira de um instrumentista tocar; é passar dias e dias de sua vida na televisão para julgar um concurso de sambas em que só há mambos; é ouvir o mesmo disco de Elizeth que Ofélia repete 15 vezes até Eliana aprender; é fazer nove programas de rádio por semana; é receber medalhas e títulos ridículos e ainda agradecer com discurso; é ouvir durante vinte horas seguidas os sambas iguais que as "escolas" fazem todos os anos; é passar horas inúteis no Museu da Imagem e do Som; é ouvir diariamente a pergunta cretina "como vai a nossa música popular?"; é escrever para jornais, revistas, calendários, enciclopédias, sempre sobre o mesmo assunto, e ainda ser chamado de papa(...).
Lúcio Rangel, em Samba, Jazz... (isso porque ele não conhecia os escritores novos...).
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Julio Daio Borges
29/2/2008 à 00h38
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Jornalismo 2.0, o livro
"Este é um livro sobre pessoas, e não sobre tecnologia. Com certeza, há muita tecnologia nas páginas a seguir, mas na essência o que vamos encontrar aqui são pessoas tentando
desenvolver suas habilidades dentro de um cenário novo e imprevisível. E são elas que importam, não o software mais recente ou o website. Se as pessoas conseguirem
aprender como fazer a tecnologia trabalhar a seu favor, o resto é apenas detalhe.
"Como jornalistas, precisamos mudar nossas práticas para nos adaptarmos, mas não nossos valores. Somos como os marinheiros do provérbio inglês que escolhi para título desta introdução ('Um mar tranqüilo não faz um bom marinheiro'): nem o desejo de retornar a mares tranqüilos pode acalmar a água à nossa volta.
"Seguindo ainda a metáfora da navegação: é hora de navegar conforme o vento. É hora de reorientar nosso navio e deixar que o vento que sopra nesse novo mar trabalhe a nosso favor, e não contra nós.
"Vamos usar as melhores práticas desenvolvidas por outros jornalistas para sinalizar o caminho. Vamos tomar como ponto de partida o trabalho criativo e inovador desenvolvido
pelos jornais, estações de rádio e televisão e websites (...). Podemos aprender bastante com todas essas experiências.
"E como Benjamim Franklin já dizia, 'quando você pára de promover mudanças, você está acabado'."
Mark Briggs, na introdução do seu Jornalismo 2.0 (de graça, em português, para quem não quer ficar parado...).
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Julio Daio Borges
28/2/2008 à 00h55
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Julio Daio Borges
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