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Sexta-feira,
22/11/2002
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Redação
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O webjornalismo agradece
É possível encontrar mais características do webjornalismo sendo praticadas em sites de jornalismo independente, que nos grandes portais da imprensa oficial. É o caso por exemplo do Digestivo Cultural. Inaugurado há dois anos, o site inova no aproveitamento de texto dos leitores, mantém memória de fácil consulta e desenvolve todo material em hipertexto. O internauta encontra no Digestivo uma estrutura que otimiza o conteúdo fazendo circular a informação por diversas correlações possíveis.
Mismana Militão, no site da Faculdade de Comunicação da UFBA
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Julio Daio Borges
22/11/2002 às 14h01
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Crimes sem texto
Tudo se passa como se essas jovens [Susan Smith e Suzane Louise], até agora ordeiras e nada excepcionais, mostrassem que nem sempre a lógica do chamado desenvolvimento econômico, do mercado, da riqueza material, seja o remédio para tudo. A barbaridade indizível do filicídio, do matricídio e do parricídio desnudam a impotência das fórmulas feitas e das receitas coletivas. Esses crimes sem texto revelam que há muito mais entre a sociedade e os homens do que fazem crer as nossas bem alinhavadas e hipercorretas teorias políticas e sociais.
Durante séculos, as sociedades tentam escapar da infinita crueldade de que são capazes pela adoção de receitas ideológicas que, uma vez estabelecidas e aplicadas, resolveriam todos os problemas, inibindo, corrigindo ou explicando as mazelas humanas. De fato, a consciência da injustiça social, da discriminação, da exploração do trabalho e da intolerância política (que só admite elogiar um lado, condenando o outro ao erro, pecado ou ao crime político), tem criado um mundo melhor e mais aberto. Mas a condição básica para a sua manutenção, o elemento fundamental para que as ideologias libertadoras venham a exercer esse papel, jaz precisamente na admissão de seus limites e, no caso em pauta, na consciência de sua incapacidade para explicar esses gestos tão perturbadores quanto são expressões veementes do lado obscuro, criminoso e demoníaco que toda convivência humana tem a capacidade de engendrar.
Roberto da Matta em "Em torno dos crimes sem texto"
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Julio Daio Borges
22/11/2002 às 11h11
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A social-democracia e o Brasil
A idéia de social-democracia (SD) desembarcou no Brasil no fim dos anos 80 e foi apropriada em maior medida pelo PSDB, mas também, na época, pelo PDT e mesmo pelo PT. O fato é que o PSDB, um "partido de quadros" (ou seja, cheio de intelectuais de sotaque europeu e de políticos sem muito voto, com honrosas exceções), depois de um arrastado quarto lugar nas eleições de 1989, chegou ao poder de forma avassaladora e inesperada nas eleições de 1994.
Com efeito, o mundo real foi um choque indelével para os tucanos, que chegaram ao poder como os franceses no Novo Mundo, no século XVI, e aqui descobriram a "cunhadagem", a indolência dos nativos, e também dos colonos, mais chegados a uma esperteza que ao trabalho. Tudo diferente do que se esperava.
Para quem tinha uma embocadura nacionalista, foi igualmente chocante perceber que o aparato protecionista havia degenerado em uma imensa máquina de geração de privilégios e de "rendas de monopólio", o mesmo valendo para a política industrial. Para quem imaginava criar parcerias européias, tripartites e concertadas, entre setor público e empresas privadas, o que se via eram conluios espúrios, com vistas a pilhar o Estado, centenas de maneiras de se apropriar da regulação pública para benefício privado.
Também melancólico era ver a maioria das estatais quebrada, muitas consumidas pelo corporativismo ou coisa pior. Para alguém de esquerda, que historicamente não gosta de banco, nada poderia ser pior que ver quebrados muitos, ou quase todos, os bancos públicos e muitos dos maiores bancos privados. E ter de montar operações para sanear o sistema financeiro a fim de proteger o depositante, que não tem culpa de nada, e ver-se, por fim, acusado de governar para os bancos.
Enquanto não era governo, e não tinha de resolver os problemas do mundo real, [a social-democracia] tinha tantas dúvidas que o "muro", não o de Berlim, mas o da hesitação, se tornou sua maldição. O poder levou o PSDB do muro à vidraça. Já o PT, mais socialista [...], em vez de lidar com suas dúvidas usando um muro, desenvolveu a habilidade de atirar pedras. E o fez com tamanha competência que chegou ao poder. A partir de agora deverá levar muitos sustos, esquecer seu passado todo dia um pouco e amadurecer.
Gustavo Franco em "Social-democracia e Brasil real"
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Julio Daio Borges
22/11/2002 às 10h59
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Blogs Mortos
"Pode ser uma crise existencial, pode ser simplesmente um ego ferido. Só sei que desacreditei um pouco nesse lance de Internet, de blog, de icq e o caramba a quatro. [...] A Internet aproxima as pessoas mas ao mesmo tempo as distancia. Sigo o exemplo de dois amigos q se gostam mas vivem n'um 'chove não molha' simplesmente por que um mora no Rio e a outra em SP."
Quotable
"Pode ser uma coisa boa para muitas pessoas que tem controle sobre a maquina, mas por enquanto esta máquina ainda me controla... e SIM eu não consigo mudar isso, estou tentando, mas é uma relação idêntica a droga <=> viciado, é difícil, não vejo minha vida longe do blog, dos amigos virtuais, dos e-mails, das listas, dos enormes downloads, e principalmente... não consigo ver minha vida sem o speedy.... sim, é estranho, antes você não tem uma coisa, agora que você a tem não quer perdê-la... de jeito nenhum... estou preocupado com que rumo minha vida vai tomar agora. Preciso cuidar de mim, de minha mente, de minha sanidade mental e reformular minhas idéias e isso requer um afastamento de tudo, começando pela internet."
Life of Rudwolf Black
"This is the end. Pois é. E assim termina este humilde blog. Foram quatro meses divertidos. Um sábio dinamarquês certa vez profetizou que este blog dificilmente chegaria aos 6 meses de vida. E ele tinha razão. De repente, virou um saco escrever aqui. Fazer o quê? Então tá bom. Cuidem-se. A gente se fala por aí."
Vai trabalhar, vagabundo
"Assim, sem nenhum motivo especial. A internet anda me enojando. Não vejo muito sentido em continuar escrevendo aqui, já que TODO MUNDO que eu conheço agora lê isto todo dia e é chato, muito chato, ficar escolhendo a dedo minhas palavras porque minha mãe, meus colegas da faculdade ou 783498723 pessoas que me odeiam podem ler. Sei lá, preciso dar um tempo nessa vida blogueira. Vou continuar acessando a internet, claro, vou continuar com as minhas pagininhas, e se der saudade um dia eu volto. Ou não :P"
Fuckable
"Tudo na vida tem um fim... As vezes, esse fim eh mais rapido do que vc espera, as vezes esse fim não eh aquele que vc sonhou... mas ele chega. Sonhos acabam... sonhos que são roubados... Esse blog hoje chega ao seu fim. Junto com algo mais... Foram 3 meses aonde aprendi muita coisa... mas aonde perdi outra coisa... Hoje tudo tem esse fim, o ponto final definitivo em um historia que poderia ser... sem fim. Obrigado a todos, por tudo... boa sorte em vossa jornada."
Big Dog
Rosana Motta, que registra os epitáfios no Blogs Mortos, a versão brasileira do Fucked Weblog. (Aliás, um blog que também morreu.)
[Depois dizem que eu implico com os blogs...]
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Julio Daio Borges
21/11/2002 à 00h08
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Felicidade
Eu diria que a imposição de racionalidade hoje é maior que a da época vitoriana, como se pode ver na exigência de que você administre seu tempo sem parar, que o use para fazer tudo. Veja as pressões no trabalho, além do risco do desemprego. E o politicamente correto. E a vigilância. Há até algumas expressões em inglês que foram criadas para descrever isso, como hurrysickness (doença da pressa) e timefamine (fome de tempo). Você não tem tempo para nada e precisa aparentar sempre que é bom pai, bom marido, bom profissional, bon vivant, etc. As mulheres de hoje têm consciência de que são muito mais livres do que suas avós eram, mas não se sentem mais felizes.
Não se pode negar que nossa época é marcada por um calculismo auto-interessado, em que tudo é reduzido ao custo-benefício, tudo é instrumentalizado. A amizade é qualificada em termos de vantagem, o amor em termos de sexo, a religião em termos de conquista do paraíso. Isso dificulta as relações afetivas espontâneas, dificulta o sentimento de felicidade. Gera um atomismo social que na verdade é contraproducente, pois o tempo de mudança do psíquico é diferente do econômico. Veja a tecnologia da informação, que produz muito mais dados do que o cérebro pode processar. Estamos ficando, como já se disse, "obesos de informação e famintos de sentido". As pessoas estão numa situação de perplexidade. Há um desapontamento com as promessas do mundo competitivo.
Marx e todos os economistas clássicos pensaram em como libertar o homem da escravidão do dinheiro. Mas hoje sabemos que não é acumulando dinheiro. É como na saúde: quanto mais saudável você está, mais obcecado fica com a saúde.
Eduardo Giannetti, em entrevista ao Estadão
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Julio Daio Borges
19/11/2002 às 10h11
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adrian arroba digestivo
O melhor modelo mental para a rede não é a clássica imagem do debate/polílogo, mas o da pichação. É a mesma lógica do efêmero, da comunicação anônima e da libertação pelo anonimato que governa a internet amadora, da publicação do usuário (enquanto é claro que na rede comercial e acadêmica vc enxerga os paralelos típicos, da discussão, do grande mercado e da biblioteca), aquela que vem sendo festejada e sobre a qual se escrevem idiotices e reflexões. Um escreve seu nome ou apelido com aqueles esquisitos caracteres quase ilegíveis (ou então, numa carteira de sala de aula, + o ano) numa tentativa de dizer "Eu existo, eu estou - ou eu estive - aqui"; outro faz uma página pessoal na geocities. Um picha "Fora fhc-fmi" e uma série de calúnias e frases de efeito contra o governo, a rede globo, os estados unidos, o capitalismo ou os órgãos internacionais; outro escreve ou passa adiante correntes de e-mail com o mesmo conteúdo. Até mesmo o graffiti com pretensões artísticas encontra seu duplo on-line nas web-installations, com uma proposta estética assustadoramente próxima, considerando os diferentes meios que usam. Pichações de banheiro e crianças fazendo cybersexo, o spam (agora deixando a comparação menos rígida) e a poluição visual publicitária. Não é de todo impressionante que o slogan (ou meme*, para os marqueteiros q tem medo das palavras) mais conhecido da rede, o lamentável "All your base are belong to us", foi chamar atenção no mundo real justamente quando flagraram alguém o pichando, pq é justamente aí onde a película entre os dois mundos é mais tênue. E é perfeitamente natural não gostar de blogs pensantes, como tantos dizem, pq blogs não são feitos para ler, ou, se tanto, são para ser lidos como um anúncio, uma frase rabiscada na parede ou algo afixado no mural no trabalho. Blogs pensantes, no sentido de blogs q realmente comunicam idéias, c/ tudo q isso implica (e não q simplesmente utilizam as riquezas do meio eletrônico para dar um verniz de confiabilidade ao que é no fundo uma pichação), são coisas tão aberrantes quanto escrever uma demonstração matemática na parede de um banheiro ou colar uma reprodução de Goya no mural de um supermercado.
Adrian Leverkuhn, o blogueiro-filósofo, agora também Colunista do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
19/11/2002 às 10h05
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Passaralho
Direto da agência Passaralho
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Julio Daio Borges
14/11/2002 às 11h35
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Sem nada para ler
Sinto um misto de revolta e inveja quando ouço alguém dizer que está sem nada para ler. Com a cabeceira entulhada de livros que só terminarei de ler com 217 anos, se a luz for suficientemente forte, e já convencido de que nunca cumprirei meu modesto projeto de vida, que é saber tudo sobre tudo, sinto-me ofendido com a queixa insensata. Da próxima vez que um folgado me pedir uma sugestão de leitura, pretendo produzir uma fita bobinada com os títulos de mil livros que ainda não li, de A de Amis a Z de Zweig, e atirar na sua cabeça. O tempo para ler, como a renda, deveria ser melhor distribuído no mundo.
A revolta é a mesma com as pessoas despreocupadas. Aqueles inconscientes que, quando você pergunta como vai a vida, respondem "Maravilha!". Como, "Maravilha!"?! Nem banqueiro brasileiro tem o direito de dizer "Maravilha". Se o que falta a esses contentes inexplicáveis é preocupações, eu tenho várias para fornecer. Ninguém diga na minha frente que está sem nada para se preocupar.
Luis Fernando Verissimo em "Preocupações"
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Julio Daio Borges
14/11/2002 às 10h36
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Só pensam naquilo
Com esse nome, mesmo antes de assistir, a gente - que, uma ou duas vezes na vida, já assistiu a um episódio isolado de seriados americanos - sabe que não presta. Mas só a gente. Porque, de menininhas deslumbradas de 14 anos a velhas insatisfeitas de 70, muita gente está achando graça nesse Sex and The City. É curioso como o apelo barato de um estilo de vida ridiculamente desinteressante seduz tanta gente. A fórmula do programa é simples e já cansou - tanto que, com esse nome, nem preciso dizer qual é.
O que me incomoda é a insistência obsessiva num assunto único. E a necessidade quase absoluta de fazer piadas apenas relacionadas a sexo - que são sempre as mesmas. E, depois, relações afetivas serem tratadas frigidamente por homossexuais e ninfomaníacas, como se todo mundo fosse iguais e eles. É preciso a vida estar mundo desinteressante para que sexo se torne o assunto principal. E, pelo jeito, para muita gente está.
Lee Siegel, na The New Republic, trata o assunto com competência admirável:
"The problem is that Sex and the City, once it mustered a striking frankness on the tube about urban men and women, has gone about squandering it. Instead of plunging into all the strange new present-day configurations of sex and emotion, the series has proceeded to divide sex from emotion. There is an abundance of fucking in Sex and the City, but it is the sort of fucking you did years ago, when you were very young, lying on the bed and cavorting in the head. As the series rolled along, you became aware of a damning artifice, an un-mimetic quality startling in a series that was supposed to be a candid look at urban life: none of these women is hurt by sex.
"(...)Every episode ritualistically has several scenes, usually set in restaurants over a meal, in which the women get together and talk about their romantic situations. But rather than talk about their adventures in terms of feelings or mental states, poignantly or angrily or comically, they speak about them almost exclusively in terms of sex. When they are not talking about "the classic dating ritual: the blow-job tug-of-war," or about "fucking your brains out," they are quipping, "If your friends won't go down on you, who will?" and discoursing interminably on anal intercourse.
"(...)It is not shocking to see women portrayed--though in comic caricature--talking the way women, when they are alone with each other, do talk sometimes (or so I assume), or to have part of the reality of female desire acknowledged on the small screen. What is startling is that for these smart, canny, emotionally alive women, pretty much every relationship comes down to the quest for sex--for perfect sex--as an end in itself.
(...) Now, a part of the reason for the show's portrayal of women seeking sex for sex's sake is that the series' two creators, Darren Star and Michael Patrick King, are gay. On this level, Sex and the City is part of a long imaginative streak in popular art, a trend that includes Cole Porter and Lorenz Hart and George Cukor and Rock Hudson and most of the writers of the 1970s series Bewitched and many other gay figures whose portrayals of heterosexual life brilliantly subverted heterosexual conventions even as they were providing models for (unwitting) straight boys and girls. But there is a quality to Sex and the City's subversions that is more bitter than playful, an element that is almost vindictive."
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Eduardo Carvalho
13/11/2002 às 21h35
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Do jornalismo como performance
"Às vezes acho que exagero nesta coluna e dou a impressão de prepotência. Meus amigos sabem que sou doce como mel. Alguns que não me conhecem bem ficam imaginando que ladro e mordo, mas sou uma pessoa afável, educada e sem preconceitos de qualquer espécie. Beijo minhas melhores amigas sem coragem de dizer a algumas que estão com mau hálito com esta mania de não comerem para emagrecer. Como São Paulo, agüento de cara alegre miríades de tolos."
Paulo Francis, na Folha de São Paulo, em 10 de fevereiro de 1990
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Postado por
Eduardo Carvalho
13/11/2002 às 12h13
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