Quero aqui avisar aos meus leitores ― se é que tenho algum, além de minha noiva ― que estou me despedindo do mundo literário/jornalístico. Decidi que vou mudar o rumo da minha vida. Em vez de continuar trilhando o caminho do jornalismo, vou abrir uma funerária. Já tenho até o slogan: "Funerária Rodrigues: sua morte em bom caixão". Afinal, o rádio já morreu, a televisão está morrendo, os jornais e os livros impressos também. É tanta coisa pra ser enterrada que vai faltar gente pra organizar a situação. É aí que eu entro e ganho uma baita grana.
Ainda mais agora, com a morte dos blogs sendo decretada por aí. Ora, existem quinzilhões de blogs no mundo todo. Se eu conseguir enterrar só os daqui da Bahia, já faço meu primeiro milhão antes de 2011.
Falando sério: qual o problema com esse povo? Não se pode mais inventar nada sem matar algo que veio antes?
Os blogs não estão morrendo, nem vão morrer. Como é que a maior revolução dos últimos anos pode acabar assim, de uma hora para a outra? A internet em si é uma revolução, mas os blogs é como uma revolução dentro de outra. Talvez até maior do que a primeira.
Fala-se muito do Twitter como uma nova revolução e tal, mas não chega a tanto. O pessoal é que é deslumbrado demais. Muita gente já fazia, em seus próprios blogs, o que muita gente faz via Twitter. Ou seja: posts curtos, links para matérias/ textos/ posts/ vídeos/ fotos, essas coisas. E é natural que alguém sem muito tempo para cuidar de um blog passe a ficar mais presente no Twitter. É o que está acontecendo comigo, por exemplo. E isso me deixa um tanto triste, até, porque gosto do meu blog ― mantenho um há 7 anos (não no mesmo endereço), é algo que gosto de fazer. Isso não significa, de forma alguma, que os blogs deixarão de desempenhar o papel importantíssimo que desempenham hoje. Talvez eles finalmente fiquem mais relevantes. Acho até que isso já está acontecendo, inclusive.
Além do que, pensar no fim dos blogs é admitir que a comunicação e a expressão humanas vão ser reduzidas a 140 caracteres (como disse o bom e velho Saramago, "Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido."). E isso não vai acontecer. Se acontecer, não quero estar aqui para ver.
"(...) se o único passarinho que você vê há meses é o do Twitter, passou da hora de desligar esse computador, fazer uma pausa para reflexões e ir ver a vida pulsar lá fora (...)"
"Minha geração (faço parte da X) sofreu muito com essa transição para o mundo on-line. Na época da escola, tínhamos uma semana para escrever uma redação. Íamos na biblioteca e ficávamos horas fazendo trabalhos. Hoje, nas pós-graduações, temos que pesquisar no Google e mandar o trabalho por e-mail no dia seguinte! Tudo acontecendo tão rápido que não aprendemos a lidar com o excesso de informação."
(...)
"E essa meninada, a geração Z, que já nasceu na correria (ou, como diz um amigo meu, não nasce, vem por download)? Que tem agendas lotadas, como executivos? Chegam em casa, depois de fazer mil coisas durante o dia, e ainda sentam no computador e assistem vídeos, navegam em redes sociais, papeiam no MSN."
(...)
"A internet não é problema, é solução. Problema somos nós. Somos abelhas morrendo afogadas em potes de mel."
O show que assisti aconteceu na última quarta-feira, dia 16 de setembro, no Teatro Verizon em Houston, Texas. Consegui me acomodar logo na segunda fila, no centro do palco. Os "Red Heads" (como são conhecidos os fãs do Sammy Hagar, numa alusão ao apelido dele, Red Rocker) formam uma enorme família, animada e solidária. Em 5 minutos, todos ao redor já batiam papo como velhos conhecidos, trocando impressões sobre shows anteriores, músicas preferidas, etc. A abertura foi de um garoto britânico chamado Davy Knowles. Quando ele subiu no palco, juro que pensei "bah, mas é um guri com cara de Jonas Brothers". Só que ele simplesmente arrasou, junto com sua banda de apoio, Back Door Slam.
Bom, e aí chegou a hora do Chickenfoot. É impressionante a energia e a alegria que vinha de cada um deles. Estavam ali pra se divertir e tocaram como se estivessem na sala de casa, como numa jam entre amigos. O Sammy é uma das criaturas mais carismáticas que eu já vi em um palco. Ele conversa com o público, conta histórias entre uma música e outra, vai até a galera para autografar o que entregam pra ele... Seu entrosamento e amizade com o Michael Anthony fica evidente o show inteiro. O Chad Smith é engraçadíssimo, fica jogando baquetas pra platéia o tempo todo (inclusive uma quase que me atingiu na cabeça). E o Joe é o Joe: fica mais na dele, toca guitarra de maneira absurda, mas não é de muita firulinha como os outros ― talvez por nunca ter feito parte de uma banda.
A essas alturas, eu já tinha ganho um "upgrade" para a primeira fila, já que a galera se espremeu um pouquinho para que eu ficasse ali e pudesse filmar melhor (como eu disse, os Red Heads são uma verdadeira família!). No bis, surpresa: Sammy voltou ao palco com uma slide guitar, sentou na minha frente (literalmente) e engatou "Bad Motor Scooter", grande sucesso da carreira dele na época do Montrose, seguida de "Highway Star" e "My Generation" (The Who).
"Para as classes que estão por baixo - você me desculpe a expressão, eu não tenho a menor cerimônia - não adianta fazer poesia. Para o operariado, por exemplo, não adianta nada fazer poesia, eles não têm tempo de ler ou sequer sabem o que é ler..."
Foi muito gratificante participar do "III Seminário Tendências Conectadas nas Mídias Sociais", da Cásper Líbero, neste último sábado. Primeiro pelo convite do Tiago Dória, que é um dos blogueiros que mais leio e admiro, e que considero "dos mais atualizados" em matéria de "discussão sobre internet" no Brasil.
Em segundo lugar, por fazer parte de um evento junto com o Pedro Doria, hoje no Estadão, com a Fabiana Zanni, da Abril, o Phelipe Cruz, da Capricho, o Marcelo Soares, do Los Angeles Times, e o Pedro Valente, do Yahoo Brasil. Aliás, o professor Walter Teixeira Lima Junior - a quem eu igualmente devo o meu agradecimento - falou que, neste ano, decidiram chamar "grandes empresas de mídia" e eu fiquei, particularmente, surpreso...
Confesso que não estou acostumado a ver o Digestivo como parte da "grande mídia", mas ele talvez o seja, na internet brasileira... Aqui no site, assumo uma postura de criticar o mainstream, porque sempre o achei "míope", para as tendências da internet, e porque sempre o achei "lento", para reconhecer as mudanças trazidas pela era digital. Contudo, talvez seja tempo de reconsiderar, até pelo que vi neste Seminário...
Fiquei feliz, por exemplo, de poder reencontrar o Pedro Doria e cumprimentá-lo, pessoalmente, por ter assumido a diretoria de toda a área de internet do Estadão. Acho que não poderiam ter feito escolha melhor; então aproveito e cumprimento, aqui, também o Estadão. Depois, senti uma satisfação inusitada, por servir de "vidraça", para o pessoal no Twitter, que estava assistindo à transmissão da minha palestra e, às vezes, "descendo a lenha" no que eu falava... (Ser "grande mídia" é passar, de vez em quando, para o lado de quem leva as pedradas?)
Quanto à minha apresentação, finalmente aposentei um "modelo" que tinha alguns anos, e passei uma tarde montando um novo PowerPoint, "do zero". Depois de assistir a tantas apresentações "gringas", deixei a minha mais "gráfica" e menos conceitual, trocando quase a totalidade dos "bullet points" por imagens e pequenos "roteiros", no rodapé (para não me perder nos slides). Fiz um "ensaio geral", no dia anterior, e estava razoavelmente seguro na hora "H".
Mesmo assim, teve gente que reclamou, como o @metheoro, para quem a história do Digestivo soava "linda", mas que preferia que eu tivesse entrado, sem delongas, no assunto principal: "Microblogs e novos formatos de mídia na área de entretenimento e cultura". Vale repetir que essa ênfase - que eu dei - foi um pedido do próprio Tiago Dória (por e-mail): "A idéia é que você faça um relato pessoal sobre a sua experiência com a criação do Digestivo Cultural, como pano de fundo você poderia falar também sobre o fato de artistas e escritores falarem cada vez mais diretamente para o seu público, o conceito de 'desintermediação'."
Ainda na parte "estrutural", o @gustavojreige reclamou que eu falei de "tendências", porque - segundo ele - elas ficam "velhas" logo. Em minha defesa, lembro que o título do evento, justamente, era: "III Seminário Tendências Conectadas nas Mídias Sociais" (grifo meu). O Gustavo ainda tirou sarro da parte em que o meu colega de apresentação, Phelipe Cruz, mandou um texto para o Digestivo, anos atrás, e não foi publicado. Vale lembrar que ser recusado, para publicação, é a coisa mais normal do mundo. Eu, mesmo, já fui recusado algumas vezes, e não me ressinto nem um pouco, porque acabei publicando em todos os lugares que desejava. (Gustavo: será que você também nos enviou um texto... e não foi publicado?)
Outro motivo de controvérsia, na minha apresentação, foi um comentário que fiz, en passant, sobre não querer implementar uma "rede social" dentro do Digestivo. Alguns entenderam que temos "medo" de Orkut, Facebook, Ning ou coisas assim. Como eu expliquei numa resposta a perguntas da plateia, não é nada disso - tanto que o Twitter é, hoje, a nossa segunda maior fonte de audiência, depois do Google (e seus sites). O problema maior é estrutural: uma rede social, dentro do Digestivo Cultural, sobrecarregaria o resto do site e não garantiria, necessariamente, mais audiência ou mais receita. (Vale insistir que o Orkut é deficitário e que o Twitter, por enquanto, não tem modelo de negócio...)
Felizmente, passadas as escaramuças pessoais, e os mal-entendidos sobre o Digestivo, da minha palestra, e no Twitter, parece que ficou registrado o que interessava: as profecias de "Where is Everyone?"; a ascensão do Posterous; a decisão de Murdoch de fechar seus jornais na internet; a chegada do e-book; o futuro da TV, dentro da Web; e o eternamente controverso Free, de Chris "Long Tail" Anderson... (Prometo, da próxima vez, prestar mais atenção na plateia e, sobretudo, no Twitter de quem estiver assistindo em tempo real!)