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Sexta-feira,
31/1/2003
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Redação
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Meu destino é pecar
Sou filha de canadense e francesa; os homens me acham bonita e se viram na rua, fatalmente, quando passo. Uns olham, apenas; outros me sopram galanteios horríveis, mas já estou acostumada, graças a Deus; há os que me seguem; e um espanhol, uma vez, de boina, disse, num gesto amplo de toureiro: "Bendita sea tu madre!". Lembrei-me de minha mãe que morreu me amaldiçoando e senti um arrepio, como se recebesse, nas faces, o hálito da morte. Bem, acho que meu tipo é miúdo, não demais, porém. E foi isso talvez que levou certo rapaz a me dizer, pensativo: "Se você cantasse, daria uma boa Mme. Butterfly". Há mulheres, decerto, menores do que eu. Mas gosto de ser pequena, de dar aos homens uma impressão de extrema fragilidade e de me achar, eu mesma, eternamente mulher, eternamente menina. Às vezes, não sempre, tenho uma raiva de umas tantas coisas que existem em mim e que atraem os homens. E, nessas ocasiões, desejaria ser feia ou, pelo menos, desinteressante, como certas pequenas que impressionam um homem ou dois, e não todos. O que acontece comigo é justamente o seguinte: eu acho que impressiono, se não todos, pelo menos a maioria absoluta dos homens. Mesmo homens de outras regiões, quase de outro mundo, se agradam de mim. Inclusive aquele marinheiro norueguês, alvo e louro, que me olhou de uma maneira intensa, uma maneira que me tocou tanto quanto uma carícia material. Tenho vinte e poucos anos e devo dizer, não sem uma certa ingenuidade, que vivi muito mais, que tive experiências, aventuras que mulheres feitas não têm. Para vocês compreenderem isso, precisavam me conhecer como eu sou fisicamente, isto é, ver os meus olhos, a minha boca, o modo de sorrir, as minhas mãos, todo o meu tipo de mulher. Se vocês me conhecessem assim - eu poderia dizer: "Esta é a história da minha vida".
Suzana Flag, no Portal Literal
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Julio Daio Borges
31/1/2003 às 11h22
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Aniversário
O aniversário é uma espécie de trégua, concedida pelo mundo ao aniversariante. Durante vinte e quatro horas, as pessoas te tratam com a maior indulgência - a mesma que você concede a si próprio nessa data. Ninguém vai te lembrar, por exemplo, que você tem marcas na face, que há contas a pagar atrasadas ou que o seu projeto de vida é um fracasso.
Durante o seu aniversário, as pessoas são obrigadas a pensar em você. Em alguma hora. Nem que seja contra a sua vontade. Ou então a mandar cumprimentos automáticos, mesmo sem pensar nada.
É o dia em que você tem de encarar a própria idade. Não tem como fugir. Aquele número está lá. Como uma realidade que se abre. E à qual você vai ter de se acostumar.
É também o dia de ficar sem graça. De não ter muito o que falar. De se sentir, incomodamente, o "centro das atenções". De se surpreender com as homenagens. E até de chorar.
O aniversário, no fundo, não é nada. (O dia em que você saiu da barriga da sua mãe? E daí? Grande coisa.) O aniversário é uma maneira de se estar com as pessoas. E de demonstrar coisas que, não se sabe bem por quê, só se demonstram nessas datas.
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Julio Daio Borges
29/1/2003 às 14h40
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Um clone meu
É claro que vou produzir um clone meu tão logo possa; é claro que todo mundo vai se clonar tão logo possa. Vou para as Bahamas, Nova Zelândia, Ilhas Canárias; vou pagar o preço pedido (questões morais e financeiras sempre contaram muito pouco perante a reprodução). Vou ter provavelmente dois ou três clones, como quem tem dois ou três filhos; entre os nascimentos, vou permitir um intervalo adeqüado (nem muito curto, nem muito longo); homem maduro que sou, terei o comportamento de um pai responsável. Farei com que meus clones tenham uma boa educação; então vou morrer. Morrerei sem prazer, pois não desejo a morte. Através de meus clones, alcançarei uma certa forma de sobrevivência que não será de todo satisfatória, mas superior àquela que crianças comuns me trariam. Por enquanto, é o melhor que a tecnologia ocidental pode oferecer.
Essa eu tive de roubar do Pedro Doria. É originalmente uma citação de Michel Houllebecq, autor de Plataforma e Partículas elementares.
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Julio Daio Borges
29/1/2003 às 12h24
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Cacá Diegues e os jornalistas
"São sete horas da manhã / Vejo o Cristo na janela (...)"
Confesso-me um ignorante em matéria de Cacá Diegues. Só vi os filmes a partir da década de 90, dos quais não gostei de nenhum, e não me lembro de ter visto Bye, bye, Brasil (1979) ou os demais filmes anteriores. Na verdade, dada essa minha ignorância congênita, eu nem deveria estar comentando cinema brasileiro. Mas estou. E eu não tinha nada para gostar de Cacá Diegues, mas gosto. Desde ontem.
Ontem, nós jornalistas (waaal, nunca pensei que fosse falar isso), assistimos a Deus é brasileiro, no Espaço Unibanco de Cinema. Como vocês podem perceber, gostei. É uma das mais belas declarações (plásticas) de amor ao Brasil. As locações partem da foz do rio São Francisco (AL), passam por Pernambuco e acabam no Jalapão (TO). Mas não era isso que eu queria contar. Estou me adiantando na minha nota... Se gostei ou não, agora não importa.
Logo em seguida, houve uma feijoada e uma coletiva. É interessante notar como os meus colegas jornalistas escondem o ouro. Por mais que o filme seja desbundante, ninguém sai da sala desbundando - e mesmo que saia, ninguém diz que foi realmente desbundante. A tática é dizer que foi "legal" - e apontar algumas falhas (para não passar por alienado). Depois, se o filme se revelar efetivamente desbundante, o sujeito diz que, passada aquela "primeira impressão", também achou a mesma coisa. O que não vale é declarar, logo de cara, sua admiração. "Vai que a crítica descobre que o filme é uma porcaria, e eu dou o maior fora", essa é a mentalidade do jornalista médio brasileiro.
Na coletiva, a mesma coisa. O ideal é não perguntar nada. Primeiro, para não falar bobagem e tomar uma chamada do(s) entrevistado(s) (acontece quando as perguntas são idiotas). Segundo, para guardar suas idéias para o final. Ou seja: não dividi-las com ninguém, muito menos com os colegas. "Vai que alguém rouba a minha idéia...", assim pensa também o periodista médio brasileiro.
Eu, como sou um novato na máfia, e acho que vou sempre ser, fiz tudo errado. Me desbundei na saída e, durante a coletiva, cumulei os entrevistados de perguntas. Entreguei o meu ouro e as minhas idéias, de bandeja. Agora já era.
Assim, se vocês lerem, nos jornais, nas revistas ou nos sites, algo sobre o roteiro que João Ubaldo Ribeiro detestou escrever, saibam que fui eu que perguntei. Se lerem também que Cacá Diegues ficou lisonjeado com a declaração de Paul Auster, mas que não enxerga muita ligação entre Bye, bye, Brasil e a Trilogia de Nova York, idem. Ou ainda, se toparem com a afirmação de que Diegues adoraria ver um novo filme de Arnaldo Jabor, mesma coisa. Por último, se se contar que ele ficou constrangido por ser, ao mesmo tempo, sogro do Pedro Bial e crítico do Big Brother, podem ter certeza de que fui eu que perguntei.
Enfim, tudo isso é uma bobagem, pura vaidade, mas eu quis, mesmo assim, publicar.
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Julio Daio Borges
23/1/2003 às 08h23
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A Casa é de Daniela Escobar
Os espectadores de A Casa das Sete Mulheres já repararam como a atriz Daniela Escobar está maravilhosa na minissérie? Sempre que ela aparece em cena parece que o mundo ao redor dela pára, a música soa lentamente e parece que a câmera não se cansa de exibir seus dotes... Para quem não sabe, a atriz é mulher do diretor Jaime Monjardim, e este deve ser apaixonadíssimo por ela, porque ele capricha quando a cena envolve a mulher... Nada foi mais lindo na minissérie do que ver Daniela Escobar tomar banho de cachoeira com uma espécie de camisola branca... Como o mundo visto pelos olhos dos apaixonados tem mais cor e sabor...
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Lucas Rodrigues Pires
22/1/2003 às 14h03
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Rivera em Taubaté
"Rivera em Taubaté - Durante 15 anos, uma coleção de 94 trabalhos de Rivera - 45 desenhos, 45 guaches e 4 óleos avaliados ao todo em mais de 50 mil cruzeiros novos - ficou encaixotada em Taubaté, Estado de São Paulo. O pintor Clóvis Graciano, que descobriu a coleção, conta sua história: havia sido dada de presente por Rivera a sua amiga brasileira Anita Antunes, que viveu muitos anos no México e nos Estados Unidos. De volta ao Brasil em 1.949, Anita fez exibir as obras no Museu de Arte Moderna de São Paulo, que então começava a funcionar. Mas ninguém deu muita atenção à mostra e nenhuma peça foi vendida. Anita mandou encaixotar os trabalhos e os guardou em Taubaté. Logo depois, veio a falecer. Em 1.964, juntando informações de várias fontes, Graciano pôde localizá-los. Foram na época expostos na Galeria Atrium de São Paulo". (Gênios da Pintura: Diego Rivera. São Paulo: Abril Cultural, 1.967, fascículo 20, página 06)
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Ricardo de Mattos
21/1/2003 às 09h41
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Raduan Nassar
"Quando um escritor faz a exposição de sua teoria, para suprir de significados uma poética que não consegue falar por ela mesma, acontece aí um evidente desajuste"
"Seria um pressuposto falso achar que quem escreve deve fazer necessariamente certas leituras. O pressuposto correto seria a leitura da vida"
"...é raro alguém questionar o que vem embrulhado de prestígio e autoridade, reverenciam-se mitos de modo obsceno, daí que tem gente que fala em Joyce ou em Pound e parece que está dando cria"
Essas citações são do escritor Raduan Nassar e eu pesquei do Cadernos de Literatura Brasileira, edição dedicada ao autor de Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera. Para quem não sabe, o referido deixou de escrever após a publicação do último e se retirou da vida literária. A entrevista com Raduan no Cadernos está primorosa, cheia de idéias e questões para se pensar. Quem puder e quiser se aventurar pelos palavras densas e cheia de metáforas do escritor irá se deliciar.
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Lucas Rodrigues Pires
19/1/2003 às 23h25
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O filho da Marisa Monte
Mano Wladimir está tenso. No colo da mãe, Marisa Monte, ele ainda não conseguiu entender exatamente o que está se passando. Ao seu lado, Carlinhos Brown conversa com Wally Salomão, que cita uma poesia de Caetano Veloso, que dá um brigadeiro orgânico (sem chocolate e sem leite condensado) para Zeca, que leva um pito da mãe, Paula Lavigne. Mano Wladimir está tenso. É a sua primeira festa de aniversário.
"Criança sã/ De uma rã/ Guardiã/ Eu sou seu fã/ Na manhã/ Aramaçã/ Cunhã". A música infantil escrita por Arnaldo Antunes especialmente para a festa é a trilha sonora da dança das cadeiras. Nada da Turma da Mônica, nada de atores desempregados vestidos de Pikachu. Aqui a coisa é diferente. MM resolveu ser mãe em grande estilo e contratou a Companhia Bufa de Artes e Performances do Absurdo para animar a festa. Fantasiado de Ed Motta, um ator recita de trás para a frente toda a obra de Eça de Queiroz para algumas crianças. Do outro lado da sala, um grupo de clowns (sim, porque numa festa como essa é proibido ter palhaço) ensaia uma volta à posição fetal enquanto ostenta reproduções dos parangolés de Hélio Oiticica. Num canto, Carlinhos Brown dá uma entrevista para uma repórter da revista Bravo, escalada especialmente para cobrir o evento.
- E aí, Brown? Está feliz com o primeiro aninho do Mano Wladimir?
- É uma coisa da modernidade nagô, no que tange a referência espaço/tempo do ciclo da história humana. O cósmico supremo da realização superlativa, a poética da bioenergia enquanto motor da sublimação ótica. É onde o eu e o tu fundem-se na epiderme inconsciente.
- E o que você deu de presente para ele?
- Pensei na questão do pacifismo, na guerra como catalisador das emoções humanas ao mesmo tempo em que atrai e repudia o ser. A máquina ceifadora que gera vibrações orgônicas, que tangencia e descontinua a unidade solar dos povos.
- Como assim?
- Eu dei um boneco dos Comandos em Ação...
Enquanto as crianças não podem comer o bolo de cenoura, aniz e mel de cana - que traz estampado uma reprodução de O Abaporu, de Tarsila do Amaral, em sua cobertura - Marisa Monte serve a elas copos de suco de gengibre e balas de cravo da Índia. Até que Paula Lavigne tem a idéia de chamá-las para um karaokê.
Quem começa a brincadeira é Benedito Tutankamon Pedro Baby, cinco anos e filho de um dos roadies de Arnaldo Antunes, que canta O Avarandado do Amanhecer, de Caetano Veloso. Em seguida é a vez de Zabelê Tucumã Nhenhé Çairã, três anos e filha da empresária de Carlinhos Brown, que canta Ana de Amsterdã, de Chico Buarque. Ao saber que a próxima criança a cantar é a impronunciável Zadhe Akham Mahalubé Sinosukarnopatrionitnafilewathua, filha da copeira de Marisa Monte, Paula Lavigne acha melhor suspender o karaokê.
É hora do Parabéns a Você. Os convidados reúnem-se em torno da mesa. E então, Marisa Monte anuncia uma surpresa: quem irá cantar o Parabéns é Carlinhos Brown.
Brown, que andava meio sumido depois de sua entrevista para a Bravo, aparece vestido com um cocar feito de canudinhos de plástico, uma camisa de jornal e uma tanga de folhas de bananeira. Atrás dele, 315 percussionistas da Timbalada, um videomaker e quatro poetas marginais. Brown pega um garrafão de água mineral e começa a cantar sua versão para Parabéns a Você:
- Vim para cantar/ A tropicália alegria de um povo/ Azul, badauê, zumbi/ Ela não me quer/ Mas sou um tacle regueiro/ Viva o divino samba de João/ Monarco na rua/ Meu bloco chegou.
Arnaldo Antunes se empolga e começa a recitar poesias descontroladamente, Marisa Monte gorgeia e improvisa algumas melodias, a Timbalada toca um samba-reggae, Paula Lavigne cai na farra e Caetano acha tudo "lindo". O videomaker filma tudo e Wally Salomão escreve o release. Os poetas marginais aproveitam a confusão para roubar uns docinhos.
Um executivo de uma grande gravadora, que entrou de penetra, contrata todos os presentes e promete CD, DVD, livro, críticas favoráveis no New York Times, participação de David Byrne e especial de televisão. Para comemorar, Arnaldo Antunes põe um disco de Lupicínio Rodrigues. O ator vestido de Ed Motta cospe fogo. Marisa Monte lê Mário Quintana em voz alta. Mano Wladimir chora. É a sua primeira festa de aniversário.
"A primeira festa de aniversário de Mano Wladimir", por Vladimir Cunha
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Julio Daio Borges
17/1/2003 às 12h46
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O ovo de galinha
I
Ao olho mostra a integridade
de uma coisa num bloco, um ovo.
Numa só matéria, unitária,
maciçamente ovo, num todo.
Sem possuir um dentro e um fora,
tal como as pedras, sem miolo:
e só miolo: o dentro e o fora
integralmente no contorno.
No entanto, se ao olho se mostra
unânime em si mesmo, um ovo,
a mão que o sopesa descobre
que nele há algo suspeitoso:
que seu peso não é o das pedras,
inanimado, frio, goro;
que o seu é um peso morno, túmido,
um peso que é vivo e não morto.
II
O ovo revela o acabamento
a toda mão que o acaricia,
daquelas coisas torneadas
num trabalho de toda a vida.
E que se encontra também noutras
que entretanto mão não fabrica:
nos corais, nos seixos rolados
e em tantas coisas esculpidas
cujas formas simples são obra
de mil inacabáveis lixas
usadas por mãos escultoras
escondidas na água, na brisa.
No entretanto, o ovo, e apesar
da pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.
III
A presença de qualquer ovo,
até se a mão não lhe faz nada,
possui o dom de provocar
certa reserva em qualquer sala.
O que é difícil de entender
se se pensa na forma clara
que tem um ovo, e na franqueza
de sua parede caiada.
A reserva que um ovo inspira
é de espécie bastante rara:
é a que se sente ante um revólver
e não se sente ante uma bala.
É a que se sente ante essas coisas
que conservando outras guardadas
ameaçam mais com disparar
do que com a coisa que disparam.
IV
Na manipulação de um ovo
um ritual sempre se observa:
há um jeito recolhido e meio
religioso em quem o leva.
Se pode pretender que o jeito
de quem qualquer ovo carrega
vem da atenção normal de quem
conduz uma coisa repleta.
O ovo porém está fechado
em sua arquitetura hermética
e quem o carrega, sabendo-o,
prossegue na atitude regra:
procede ainda da maneira
entre medrosa e circunspecta,
quase beata, de quem tem
nas mãos a chama de uma vela.
João Cabral de Melo Neto, no livro Serial (também encontrável na coleção "Novas Seletas")
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Julio Daio Borges
16/1/2003 às 17h40
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O webjornalismo agradece II
Trata-se de um dos estudos mais abrangentes sobre jornalismo na internet, citando o Digestivo Cultural. Eu havia mencionado uma parte, mas descobri que há mais, muito mais. Cada parágrafo abaixo se refere a um texto completo, assinado por Mismana Militão (da UFBA). Embora contenha erros (que pretendo retificar), segue como um reconhecimento importante:
A vez do leitor - Quando entra no Digestivo Cultural, o internauta participativo nem reclama do "pop up". (...) A atualização é quase imediata. Há um indicativo do número de acessos/ dia e quantos estão na página. Com a iniciativa, os processos interativos são valorizados. (...) Para fazer o leitor aparecer junto com o material do site, existem ainda os fóruns para os textos que receberam maior repercussão. Os comentários referentes aos colunistas e ensaístas do site são postos logo abaixo de cada texto. E o internauta, é claro, responde à altura.
Memória circular - O Digestivo Cultural traz os links de memória disponíveis ao final do texto atualizado de cada seção. Se alguém quer conhecer a proposta da página, pode encontrar junto com o texto atual os principais editoriais publicados e entender a política do site como um todo. (...) No Digestivo, é fácil achar qualquer arquivo anterior bem na página principal. Junto com o espaço de cada seção está um caixa de opção que funciona como uma busca específica dando os títulos dos textos já publicados. (...) O recurso da memória também é responsável por reformulações de posicionamento do conteúdo. No Digestivo, os textos mais frequentados ganham destaque na primeira página com todos os comentários que conseguiu atrair e se transformam em fóruns de discussão.
Elevado à potência - A arquitetura do Digestivo Cultural, estruturada em links coerentes soube potencializar a navegação em todo o material produzido. A informação circula por entre as Notas, Colunas, Ensaios, Especiais, Editoriais, aproveitando os pontos de referência que os textos e seções têm em comum. Após as análises sobre os mais diferentes produtos culturais, há links para os sites oficiais de cantores, filmes, apresentações, exposições e coisas do gênero.
Mercado de Trabalho - O Digestivo Cultural (...) estabelece a produção numa dinâmica profissional. Divulga periodicamente releases sobre a estrutura e boa repercussão do conteúdo que oferece. O objetivo é atrair parceiros e patrocinadores. A repercussão do site na mídia oficial é apresentada como sinal de prestígio. (...) Ser jornalista formado não é exigência. No Digestivo Cultural boa parte dos redatores são profissionais bem sucedidos em outras áreas como médicos, advogados e engenheiros.
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Julio Daio Borges
13/1/2003 às 17h47
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