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Terça-feira,
4/10/2005
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Redação
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Festival do Rio 2005 (III)
Parte I
Parte II
Se você vai a um festival internacional de cinema, talvez o maior do país, e os filmes do seu próprio território se destacam tão ou mais que os de outras partes do mundo, não tem como não ficar feliz à beça. Foi o caso do meu último final de semana (dias 1 e 2 de outubro) no Festival do Rio. Depois de uma primeira ida apenas razoável, com poucos destaques de peso, agora tudo esteve melhor: a credencial já funcionava sem problemas, o acesso aos filmes estava mais fácil, as sessões eram mais calorosas, a produtividade aumentou (foram dez filmes vistos, no total) e a qualidade subiu para a estratosfera. Nunca imaginei que o evento pudesse me proporcionar momentos tão maravilhosos e grandiosos. Superou.
Em homenagem ao cinema brasileiro, presente na mostra em peso, com obras inéditas e de enorme peso artístico, vou comentar nessa terceira parte da cobertura apenas os que vi realizados aqui no país. Quem estiver no Rio, não pode perder esse restinho de festival (vai até quinta-feira, 6 de outubro). Detalhes sobre horários e ingressos no site oficial.
Cinema, Aspirinas e Urubus - encantador primeiro longa do pernambucano Marcelo Gomes, esteve na prestigiosa mostra Um Certo Olhar do último Festival de Cannes, na França. Como a produtora Sara Silveira disse, ao subir no palco do Odeon do Rio, é "um filme pequeno", e muito bonito e autêntico na sua proposta de retratar duas vidas em fuga. É 1942, a guerra acontece na Europa. Um alemão fugindo do conflito roda o nordeste num caminhão vendendo o mais novo produto contra os "males do corpo", a aspirina. A cada cidade por onde passa, exibe filmetes em 16mm sobre os benefícios do medicamento. No caminho, encontra um nordestino que passa a acompanhá-lo. Ele foge do destino que a seca lhe reserva: pobreza, miséria, trabalho ingrato. Ambos vão se relacionar na amizade, na dor, na solidão, no perigo da morte, nos riscos daquele universo hostil.
O filme aposta na interação desses dois personagens desgarrados e num humor que surge de forma natural, singela, nunca debochada. Acima de tudo, Gomes tem respeito enorme pela história que conta e por quem a protagoniza - e mais, por quem a assiste. Em poucos momentos o filme não é perfeito, quase o tempo todo é impossível deixar de acompanhar os passos dessa dupla improvável. Nada a ver com O Auto da Compadecida, este um outro tipo de abordagem. Em Cinema, Aspirinas e Urubus, o drama vem da tristeza e da aceitação, do imprevisível e do choque de culturas. Os atores, Peter Ketnath e João Miguel, ambos sensacionais, imprimem nos rostos desgastados o que a realidade lhes impõe. A secura das imagens, fotografadas por Mauro Pinheiro Jr, nos faz entender, de uma vez por todas, porque o sertão de filmes como Guerra de Canudos e Eu Tu Eles pode, sim, ser chamado de "cosmético". A comparação com Vidas Secas, aqui, jamais soa exagerada. A tonalidade esbranquiçada da tela, em cores enfraquecidas pelo excesso de sol, simplesmente reflete a falta de cores que reside no interior dos dois novos amigos.
Infelizmente, o filme não será mais exibido no festival (salvo agendamentos de última hora). Pena. Ovacionado pelo público presente na sua primeira sessão, tem enorme potencial de se dar bem no mercado, mesmo não tendo sido realizado no eixo Rio-São Paulo e lidando com temática razoavelmente esgotada no cinema brasileiro. Deve ser lançado em circuito comercial a partir de novembro. Se há uma palavra que qualifique, de cara, esse trabalho de Marcelo Gomes, com certeza é "imperdível". Enquanto isso, vale a pena conhecer o site da produção.
Crime Delicado - quem espera deste novo trabalho de Beto Brant o mesmo tom incômodo, realista e provocador de seus longas anteriores (em especial O Invasor), pode se decepcionar. Brant se afasta da linguagem meio acelerada e do tom marginal para realizar um projeto profundamente autoral, reflexivo, poético. Baseado em livro de Sérgio Sant'Anna, é a história de um crítico teatral que se envolve com uma mulher possuidora de deficiência física (falta-lhe uma das pernas). Ela serve de modelo para pintor que a retrata nua em quadros acusados pelo crítico de "pornográficos".
A relação tempestuosa do casal é só ponto de partida para Brant viajar pela mente do personagem principal e dar sua visão de arte, ciúme, amor. Apesar da premissa, não existe trama definida, nem encadeamento de cenas que sigam qualquer ordem pré-estabelecida - não é um filme fora de cronologia, mas simplesmente um filme sem cronologia, em que os acontecimentos vão se acumulando nas imagens estáticas (mas jamais sem movimento) e nos embates extremamente intensos de quem aparece na tela.
A ousadia de Brant em mostrar uma amputada nua (algo incomum no cinema mundial, sem dúvida), a entrega total da estreante Lilian Taublib como a deficiente, a interpretação forte de Marco Ricca, a beleza plástica proporcionada por Walter Carvalho (diretor de fotografia), o imbricamento da linguagem teatral analisada pelo crítico na sua própria vida, com esquetes e rápidas conversas (com direito a participação antológica do encrenqueiro Cláudio Assis, diretor de Amarelo Manga), os diálogos do roteiro, escrito por Marçal Aquino (na quarta parceria com o cineasta), são pontos-chave para a compreensão e o apreciamento do filme.
Trabalho sem qualquer apelo ou concessão comercial que certamente não encontrará grandes platéias - apesar do próprio Beto Brant acreditar no potencial de alguns elementos da produção. Em rápida entrevista, ele me disse que o filme possui vários pontos de contato que podem interessar ao espectador, como o teatro, a pintura, o romance meio atabalhoado dos protagonistas. Mas ele provavelmente sabe, inteligente como é, que só isso não garante público. Brant fez um filme intenso, enigmático, atmosférico, que não será compreendido por todos. Ainda assim, um trabalho de peso, fundamental na seara comum que aparentava tomar o cinema feito no Brasil.
Tapete Vermelho - a retomada de um cinema caipira, marcada pelo sucesso de 2 Filhos de Francisco, começa a dar frutos com este filme de força impressionante e de muita delicadeza, que homenageia um dos maiores ícones do cinema popular brasileiro. Quinzinho, jeca do interior paulista, sai pelas estradas com a família na tentativa de cumprir a promessa de levar o filho de dez anos para assistir, no cinema, a um filme de Mazzaropi, o maior dos caipiras da tela.
Boa parte da força do filme de Luiz Alberto Pereira reside em dois elementos. Primeiro, a habilidade em incluir na narrativa aparentemente realista "causos" contados no interior, como simpatias, pactos com o diabo, maldições e mal olhado. Assim, em determinado ponto, o filme parece se transformar numa espécie de "deus e o diabo na terra do jeca", tamanha imaginação. E o segundo elemento é a interpretação esplendorosa de Matheus Nachtergaele. Difícil imaginar outro ator na pele de Quinzinho, e o próprio diretor sabia disso, já que esperou nove meses para que Nachtergaele terminasse um trabalho na televisão e se envolvesse com o filme. Ele imprime a Quinzinho inocência e ironia, com um poder de fazer graça das pequenas coisas como raramente acontece. A inspiração em Mazzaropi é clara e assumida, desde o jeito de andar, de lidar com as pessoas, de falar, até de pensar. O carisma e o talento do ator enriquecem ainda mais o que o filme já tinha de bom.
Tapete Vermelho acaba sendo uma ode ao cinema, mas não como o clássico Cinema Paradiso. É algo mais sereno, singelo, sutil, sobre o sonho de um homem humilde que quer apenas mostrar ao filho aquilo que mais marcou a sua infância, mas encontra portas literalmente fechadas (com o fim dos cinemas de rua do interior e a falta de exemplares dos tais filmes de Mazzaropi). E serve ainda de referência ao mesmo cinema que o originou - o enredo, por exemplo, é um arremedo de O Pagador de Promessas, trocando a igreja do filme de Anselmo Duarte por uma sala de projeção, e o burrinho pelo ícone de Mazzaropi. Grande trabalho, tem tudo para agradar ao público quando estrear (talvez só em 2006) e marcar de vez esse ressurgimento do caipira, figura tão ímpar e verdadeira dentro da nossa cultura.
Sou Feia mas Tô na Moda - documentário em digital sobre o fenômeno do funk na periferia carioca. Investiga, através de entrevistas e registros dos bailes "pancadões", o que, afinal, esse pessoal, em especial as mulheres, pensa e quer. E a conclusão a que chega é óbvia: as "cachorras", "preparadas" e mais quaisquer outros adjetivos pejorativos que elas levem nas noites regadas ao mesmo tipo de ritmo e letras sexualizadas gostam de ouvir aquele tipo de som, se sentem inseridas e identificadas naquilo. Interessante o filme de Denise Garcia conseguir, a partir de música da pior qualidade, gerar interesse de entender esse movimento de massas que não pode ser ignorado nem marginalizado - é o que a grande maioria diz no filme: por serem favelados negros, os funkeiros não têm acesso pleno à mídia, ficando à mercê da discriminação por conta de uma suposta pornografia, enquanto loiras e morenas se esbaldam dançando "na boca de um gargalo de garrafa", como se diz na produção. "A gente fala da realidade! Não falamos sacanagem, falamos o que acontece de verdade. Sacanagem é o cara mais velho comer a menininha na novela das oito, aquilo é sacanagem", grita em altos brados um dos letristas funkeiros. Como lhe tirar a razão?
Sou Feia mas Tô na Moda funciona à perfeição nos seus dois primeiros terços. Ouve pesquisadores, cantoras, gente pobre que enxerga no funk uma possibilidade de crescimento social (através de composições que, se pecam na pobreza de estilo, o que reflete apenas a imagem de suas vidas, se destacam na sinceridade com que berram ao microfone), freqüentadores dos bailes em busca de algo que os torne dignos, que os insira em algum universo com o qual se sintam bem-vindos.
Em compensação, a última parte do documentário é lamentável: tentando legitimar o funk da periferia, Denise Garcia mostra uma turnê do DJ Marlboro por países da Europa e apresenta a opinião nada embasada de produtores culturais que acham a tal música "cool" ou "nice". Chega a colocar um taxista para ouvir a gritaria (que para ele soa sem sentido) e termina o filme com a opinião "favorável" do pobre trabalhador. É aceitável e fundamental a preocupação da diretora em investigar o funk e seus significados sociais, mas não dá para cair na tentativa pífia de querer nos convencer da pretensa qualidade artística do "pancadão". Aí não rola, mermão.
No próximo post aqui no Digestivo, ainda hoje à noite ou amanhã, vou falar sobre os filmes internacionais vistos no final de semana. Desde os badalados Manderlay e Last Days até surpresas peculiares como O Bigode e o impacto de Caché na madrugada carioca. Aguardo vocês, então. Até lá.
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Marcelo Miranda
4/10/2005 às 13h00
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The credibility crisis
As journalists continue to grapple with increasing public concern over longstanding reporting practices and growing skepticism about media credibility, the rise of Weblogs is also forcing them to address a host of new questions and pressures resulting from the proliferation of this new media channel. According to the most recent findings of the 11th Annual Euro RSCG Magnet Survey of the Media, done in partnership with Columbia University, the majority of journalists are using blogs to do their work, despite the fact that only 1% believe blogs are credible.
Euro RSCG Magnet (porque talvez seja uma resposta ao Mario Sergio Conti, no No Mínimo).
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Julio Daio Borges
4/10/2005 às 11h32
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Mensagem
Do Sidney Haddad da Souk (porque se você gostou, escreva pra ele e peça para entrar no seu mailing...).
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Julio Daio Borges
3/10/2005 às 14h16
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Sobre A Produção Contemporânea
Agora mesmo algum maluco
deve estar postando qualquer treco
genial na internet,
alguém deve estar pensando
em como melhorar aquele
texto enquanto lota o especial
de vinagrete, perseguindo
obstinadamente um acorde
voltando da padaria.
Agora mesmo alguém
pode estar pensando
que guardamos só pra gente
o lado ruim das coisas lindas -
assim, trancafiado a sete chaves
de carinho - alguém
pode estar sentindo tudo ao mesmo tempo
sozinho, assim brutalmente
sentimental, feito coubesse
toda a dignidade humana
num abraço tímido.
Agora mesmo alguém deve estar limpando
cuidadosamente o CD com a camisa,
pulando a ponta do pão pullman,
sentindo o baque da privada gelada,
perguntando quanto tá o metro
daquela corda de nylon, trepando
no carro, empurrando o filho
no balanço com uma mão
e na outra equilibrando
a lata e o cigarro, agora mesmo
alguém deve estar voltando,
alguém deve estar indo,
alguém deve estar gritando feito um louco
para um outro alguém
que não deve estar ouvindo.
Agora mesmo alguém
pode estar encontrando
sem querer o que há muito
já nem era procurado, alguém no quinto sono
deve estar virando pro outro lado,
alguém, agora mesmo, no café da manhã
deve estar pensando em outras coisas
enquanto a vista displicentemente lê
os ingredientes do Toddy.
Marcelo Montenegro, na novíssima Cortiça (porque eu não disse que era moda entrevistar o Cardoso em podcasts?).
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Julio Daio Borges
30/9/2005 às 08h43
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Famoso e influyente
Trabajo más horas por día en el blog de las que jamás trabajé en diarios o revistas. Una vez que leídos los seis diarios, reproduczo y comento en el blog las noticias más relevantes (...). Después me cuelgo al teléfono a la caza de noticias frescas. Las fuentes tradicionales de noticias todavía no saben qué es un blog, lo confunden con un site (...). Me hace falta trabajar con gente, con mucha gente, como siempre trabajé (...). Engordé de tanto vivir sentado (y también porque dejé de fumar). En compensación, trabajo en bermuda, camiseta y chinelas.
Ricardo Noblat, no Clarín (porque quem me passou foi o Rodolfão Felipe Neder, do site do Millôr).
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Julio Daio Borges
29/9/2005 às 14h09
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Festival do Rio 2005 (II)
Começa aqui...
Voltando para dar as últimas dicas dos filmes aos quais assisti no último final de semana no Festival do Rio e que ainda têm reprise. No próximo sábado e domingo, provavelmente retornarei à cidade maravilhosa para fazer nova cobertura deste evento grandioso. Até lá, fico daqui babando sobre os filmes que não poderei ver durante a semana... Paciência. E lembrando de novo: informações completas de ingressos e programação no site oficial.
Buy It Now - curiosa experiência ficção-documentário que, mesmo quando termina, deixa dúvidas sobre a real natureza de sua linguagem e intenções. Conta o caso de Chelsea, jovem de 16 anos que, entediada e sem atenção dos pais, decide vender sua virgindade pelo famoso site de leilões eBay. Ou seja, quem der o maior lance leva a bela menina para a cama. No início, o incômodo beira o insuportável: inteligentemente, o diretor Antonio Campos intercala o cotidiano de Chelsea, marcado pelo desprezo ao diálogo da mãe e os pensamentos quase infantis, com seu derradeiro encontro em que finalmente vai transar depois de conseguir um "comprador". Tudo mostrado ao público através de imagens supostamente filmadas pela própria garota com uma câmera digital. Sufoca, assusta, incomoda. A banalização do sexo toma formas gratuitamente sérias. Só que, na segunda metade, o diretor parece ter decidido mostrar um "outro lado" de sua narrativa e passa a repetir os acontecimentos, agora encenados com cortes, closes, diálogos decorados (sem abrir mão da imagem em digital). Resultado: o filme desaba. Toda a complexidade e sutileza até então apresentadas são jogadas para baixo do tapete. O filme torna-se fraco e desnecessário, e o que seria uma denúncia a respeito do que pensa a juventude americana de hoje cai no desinteresse. Ainda assim, compensa a ida ao cinema, já que a primeira parte é um impressionante exercício estético sobre moralidade. Vale registrar que Buy It Now ganhou um prêmio especial dado a curtas-metragens no último Festival de Cannes. Claro, ele concorria apenas com os primeiros 30 minutos...
Próxima exibição do filme
Quarta, dia 28, no Espaço Unibanco 1, às 23h45
A Marca do Terrir - Ivan Cardoso (imagem acima) é um dos diretores mais marginais e marginalizados de toda a história do cinema brasileiro. Seguiu carreira no rastro do gênio de José Mojica Marins (o Zé do Caixão) e se rendeu aos filmes de terror. Só que a forma como desenvolveu as narrativas e os (d)efeitos especiais foi tão ingenuamente engraçada que ele acabou criando um gênero, o "terrir". Clássicos como O Segredo da Múmia, As Sete Vampiras e O Escorpião Escarlate marcam sua filmografia, mas existe uma época praticamente inédita a nós. É a fase do Super-8, em que Ivan filmava as mais alucinadas histórias com essa câmera de custo baixíssimo. E este documentário A Marca do Terrir é exatamente o registro dessa época, um tempo em que a experimentação, para Ivan, era regra, e o exagero, o pastiche, o deboche, já se mostrava comum no seu cinema. Montado de forma meio anárquica, com cenas das mais chocantes e bizarras de seus trabalhos, o filme resgata a chamada série Quotidianas Kodaks, com momentos de deleite visual e sanguinolência (regados a muito molho de tomate). Ivan Cardoso esfrega na cara do público corpos nus, violência e perversões sem deixar de lado o bom humor que desde então, ainda que sem querer, impregnava tudo o que produzia. O ápice disso é Nosferato no Brasil, sátira em que o Conde Drácula vai dar umas voltas na capital carioca e se depara com um paraíso de mulheres lindas (e depravadas) e pescoços sedentos por uma mordida. Obrigatório a quem se interessa em conhecer um outro ângulo do que se faz, sem dinheiro, no cinema do Brasil. E um atestado da paixão de Ivan Cardoso (presente à sessão e muito simpático ao apresentar seu filme) pela arte que o tornou notório.
Próxima exibição do filme
Quarta, dia 28, no Espaço Unibanco 3, às 23h30
Há outro filme de Ivan Cardoso na programação do festival. Um Lobisomem na Amazônia marca a volta do diretor ao cinema de ficção (e ao terrir) depois de quase 15 anos. Imperdível. Passa na sexta, dia 30, no Odeon, à meia-noite; e na quarta que vem, dia 5 de outubro, em duas sessões no Palácio 1: às 16h30 e às 21h30.
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Marcelo Miranda
28/9/2005 às 10h40
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Casa do Saber: Cinema Clássico
Nas últimas seis semanas, além de atuar como crítico de cinema da Folha de S.Paulo e da TV UOL, Sérgio Rizzo tem ministrado o curso "Para Conhecer os Clássicos: dos primórdios ao Cinema Moderno", na Casa do Saber. E o que à primeira vista parecia complicado em 17 de agosto (data de início das aulas) agora não poderia fazer mais sentido. Em outras palavras, o professor Sérgio Rizzo deu conta, em cinco aulas (a sexta e última será nesta quarta-feira, 28, às 12h30), dos primeiros movimentos, lá com os irmãos Lumière e com Georges Meliès, até a Época de Ouro do cinema norte-americano, com David Selznick e E o Vento Levou.
Da forma como está escrito pode parecer que a tarefa foi simples para Rizzo. Afinal, como jornalista e crítico de cinema, ele precisa dominar o assunto como ninguém. Este raciocínio procede, mas não é tão comum assim encontrar especialistas que consigam transmitir de maneira tão clara o desenvolvimento de um meio de expressão artística tão peculiar e abrangente como o Cinema. A razão para isso, aprende-se depois, é que Sérgio Rizzo não entende apenas da sétima arte. Pois, ainda que esta seja sua especialidade, ao logo do curso ele trouxe para os alunos comparações fundamentais para o entendimento da evolução do cinema. Exemplo disso foram as conexões entre a produção cinematográfica e a produção industrial, elemento que foi um dos responsáveis pela supremacia americana em relação aos franceses já nas primeiras décadas do século XX. Ou então como o cinema americano, em certa medida, espelha os ideais do individualismo, o que é diferente, por exemplo, do cinema soviético, quando a experiência coletiva também obedece a um raciocínio (também) ideológico.
Já do ponto de vista teórico, Sergio Rizzo conseguiu explicar ainda o que era a linguagem cinematográfica (câmera e montagem). E a partir disso enveredou para a interpretação de cada marco cinematográfico, pela ordem: O Nascimento de uma Nação, de D.W.Griffith (o marco inicial do cinema narrativo clássico); A General, de Buster Keaton ("eminentemente cinematográfico, graças ao movimento"); Encouraçado Potenkim, do russo Serguei Einsenstei (com a surpreendente organização de imagens e a mudança do estilo narrativo americano) e M, o Vampiro de Düsseldorf, de Fritz Lang ("o expressionismo alemão e a leitura enviesada da realidade"). Poderia citar tantos outros, cujos trechos foram passados em sala, mas a lista ficaria cansativa.
Em síntese, é correto afirmar que, a partir do curso, se os clássicos do cinema, como O Picolino (estrelado por Fred Astaire e Ginger Rogers [imagem acima]), não ficaram mais clássicos, ao menos agora os alunos podem compreender o motivo de toda essa distinção e reverência feitas a esses filmes.
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Fabio Silvestre Cardoso
27/9/2005 às 10h45
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Feedback risonho
Sim, Julio
gosto muito de navegar na web, acessar
sites e blogs legais, como o DC, No mínimo,
Rafael Galvão, Observatório, Cora e tantos outros.
Gosto dos artigos lúcidos, fluentes e dos irônicos
e bem humorados... dessa gente sabida.
Agora mesmo recebi um boletim do Inagaki
citando um artigo seu - legal.
Tem alguma coisa minha na busca do MSN,
mas, embora com tanta gente boa no Orkut,
alguns amigos com comunidades e tal me convidaram.
Mas não aderi por enquanto - acho complicado, muita informação
e prefiro aproveitar o tempo para acessar favoritos
e novidades na web... um mundo sem tamanho.
Sou atriz, escritora, poeta, autodidata,
carioca, radicada em Brasília. Lancei até o momento
3 livros de poesia desde 2000, mas não investi muito
em divulgação até o momento. Tem tempo.
Para efeito de idade, sou uma senhora de 50 anos
que todos os dias aprende alguma coisa com a vida,
com as artes e os pensamentos das figuras.
Às vezes exibida, às vezes tímida, nem sempre
comento o que leio... Tem muita gente assim.
Mudei recentemente e coloco a casa e a mente
em dia para deslanchar alguns planos: preparar
e lançar novos livros e elaborar o meu blog, claro.
Uma praia que tem tudo a ver comigo, sabe.
Só acho que não vou manter um sistema de comments
porque os spans são muito brabos - como eu acho que pode
acontecer no orkut e como me aconteceu no ICQ que
desativei... Acho legal ler e deixar comentários, mas
rola uma coisa esquisita entre as figuras, às vezes,
debates vazios e muita muita agressividade. Acho que
às vezes falta espírito esportivo aos internautas.
Além da renomada falta de respeito aos autores.
Mas sim: sempre navego em sua casa e tenho
boas surpresas com os artigos. Seu trabalho,
com sua turma, faz diferença pra muitos e me agrada.
Entre milhares de opções, a gente escolhe os favoritos -
tenho pelo menos uns trinta especiais -
se enturma, reconhece estilos, chama os autores pelo
primeiro nome e se sente em casa. Isso é muito bom.
Por isso, fique com meu abraço no bom fim de semana,
agora que sabe um pouquindo da leitora... rs.
Beijinhos da Gisele
Gisele Lemper, por e-mail (porque ela respondeu ao meu texto sobre feedbacks...).
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Julio Daio Borges
27/9/2005 às 10h12
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Festival do Rio 2005 (I)
Acabo de desembarcar do Festival do Rio 2005. Sim, eu sei que o festival nem está na metade (começou na sexta, dia 23, e vai até quinta, 6 de outubro), mas como não moro na capital carioca e tenho outros afazeres profissionais ao longo da semana, só posso aproveitá-lo nos sábados e domingos. Foi o que fiz, pela primeira vez credenciado como imprensa (pelo Digestivo, aliás).
(Desde já, vale um parênteses aqui: a organização precisa ficar mais esperta a respeito do credenciamento de jornalistas. Primeiro, foi um sufoco conseguir contato com a assessoria, já que nossas mensagens eletrônicas não obtinham resposta e os telefones não atendiam. Depois, mais demora para definir se rolaria ou não o crachá. Por fim, quando chego lá, ninguém das várias salas de cinema onde acontece o festival sabia como lidar comigo: minha credencial é branca, o que significa que não preciso retirar ingressos antecipados, e sim já ir entrando na sessão escolhida depois que o público estiver lá dentro. Só que os bilheteiros, porteiros e gerentes não faziam idéia disso, e por umas três vezes eu quase fui barrado - não fosse certa simpatia com eles e já era. Só no domingo, parece, estavam mais informados, e olhe lá, já que um porteiro simplesmente me impediu de entrar numa determinada sessão. Sugiro à organização ler o excelente Feedback, do nosso editor Julio Borges. Mas divago...)
Nos dois dias em que fiquei no Rio, assisti a sete longas-metragens e um curta. Uma pena que boa parte dos destaques da programação deste ano (uma das melhores em muito tempo) está concentrada em dias de semana ou nos próximos sábado e domingo (quando certamente voltarei, principalmente por Manderlay, novo do Von Trier, e Last Days, do Gus Van Sant, entre outros).
Assim, quase tudo o que vi nessa primeira ida não é tão conhecida pelo grande público. De qualquer forma, como em todo festival, deu para pescar algumas pérolas de destaque. Algumas delas não serão mais exibidas, então comento posteriormente. Outras ainda têm reprise - e é sobre essas que escrevo a seguir, com indicação das próximas sessões. Se estiver no Rio, se deleite com o festival. Se não estiver, morda-se de vontade ou faça como eu: enfrente assessorias, chuva, ônibus e o que for para chegar lá. Vale a pena.
Compra de ingressos e detalhes da programação estão no site oficial. Às pérolas, então:
Dumplings - versão em longa-metragem de episódio homônimo da antologia Três... Extremos (filme imperdível, também no festival). É a história de uma ex-atriz disposta a recuperar a juventude a todo custo, tanto para se manter bela quanto para voltar a chamar a atenção do marido, que a ignora. Encontra a solução mágica com uma espécie de bruxa inventora de uma comida "mágica" que mantém as pessoas jovens e fortes. Dirigido por Fruit Chan, cineasta de Hong-Kong, é um bizarro exercício de imagens chocantes em meio a muito humor negro. Exemplar perfeito do cinema extremo tão propalado no Oriente, que tem nas cenas de asco o grande poder de persuasão com o espectador. Alguns momentos realmente embrulham o estômago, mas a idéia por trás da narrativa os justifica: falar da loucura a que se chega em nome da estética física. Pouco parece importar a moral, a educação, a racionalidade. Se a protagonista deseja a beleza, vai enfrentar os maiores pesadelos para chegar a ela. Por vezes o filme aparenta ser uma grande bobagem, mas ao final deixa um recado poderoso à elitezinha que costuma freqüentar cinemas (em especial, nos festivais, o que é cool). Vale experimentar essa viagem - e tente se manter impassível na angustiante cena de aborto...
Próximas exibições do filme:
- terça, dia 27, no Estação Barra Point 1, às 22h
- sexta, dia 30, no Estação Ipanema 2, às 18h
Amor & Felicidade - o cinema sueco é notório pela melancolia e tristeza que emanam de suas narrativas. Peguemos o nome mais badalado do país, Ingmar Bergman, por exemplo. Recentemente, tivemos Para sempre Lylia, que fez certo sucesso no circuito comercial. Mas não só de lágrimas e sofrimento vive a Suécia das telas. Aqui, apesar do clima seco e igualmente incômodo de que as coisas não estão muito bem, a mensagem final é de puro otimismo. A jovem Minna não tem a vida desejada, mas consegue encontrar algumas válvulas de escape na pequenina cidade onde mora. Sai com a amiga, se envolve com o instrutor de direção, é assediada pelo colega apaixonado. Só que ela é infeliz, porque a mãe morreu, o pai se casou de novo e a quer fora de casa, para conviver melhor com a nova esposa. O que acompanhamos é o cotidiano dessa personagem tão humana e cheia de dúvidas, ainda descobrindo o amor e as conseqüências dele (e de tudo o que ele traz, como frustrações e angústia). Só que, quando termina, o filme deixa um frescor de recomeço que absorve as maiores pancadas até então surgidas. Uma delícia acompanhar a volta por cima de Minna, por mais que ela precise abrir mão de muita coisa para tentar alcançar seus maiores sonhos.
Próximas exibições do filme:
- quinta, dia 29, no Estação Botafogo 2, às 18h45
- quarta, dia 5, no Estação Botafogo 2, em três horários: 14h30, 18h45 e 22h45
- Observação: o filme tem apenas legendas em inglês
Achados e Perdidos - sou um entusiasta do cinema de José Joffily. Diretor brasileiro de grande interesse, fez Quem Matou Pixote?, que, fora alguns exageros e maniqueísmos, tinha méritos; e o excepcional Dois Perdidos Numa Noite Suja, talvez seu melhor trabalho. Mas algo não deu muito certo neste novo filme. Contendo todos os elementos de um típico noir (o protagonista marginalizado, a polícia apresentada como estorvo, a mulher fatal, o crime obscuro, a pouca iluminação, o cigarro sempre aceso) e um Antônio Fagundes bastante inspirado e desglamorizado encabeçando o elenco, tem tudo para engrenar, mas não engrena. Até começa bem, até cair na tentação de querer explicar tudo em detalhes, não confiando nas ambigüidades do próprio roteiro e na percepção do público em entender uma trama que poderia ser rica em significados. Se por um lado Joffily volta a abordar um universo de gente fora do topo da pirâmide, de pessoas à margem com suas próprias leis e ideais, por outro deixa escapar o potencial do filme ao se entregar ao estilo policial curto e simples. Uma pena, já que talento ele tem para fazer bem melhor. Vale registrar a presença marcante da belíssima Juliana Knust (imagem acima), estreando em cinema. Não é grande atriz, mas que corpo...
Próxima exibição do filme:
- terça, dia 27, no Odeon BR, ao meio-dia
Hoje mais tarde eu volto para comentar outros dois filmes vistos no fim de semana e ainda com reapresentações no festival. Ambos imperdíveis, cada um por motivos completamente distintos. Apareça aqui de novo.
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Postado por
Marcelo Miranda
27/9/2005 à 01h34
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Futuro
Meu chefe [André Forastieri, O Branco] conseguiu o que meus amigos não puderam em dois anos [voltar com o site], simplesmente porque exprimiu a idéia de uma maneira mais sedutora. Não fazer o blog para influenciar, doutrinar ou impressionar pessoas: apenas porque é muito legal.
Mario AV, que ressuscitou o Different Thinker (porque ele já havia voltado da tumba, por minha causa...).
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Postado por
Julio Daio Borges
26/9/2005 às 10h05
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