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Segunda-feira,
18/9/2006
Jotabê Medeiros e o som
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Jotabê Medeiros, Jerônimo Teixeira e Luiz Carlos Merten, palestrantes do curso de jornalismo cultural promovido pelo Centro de Estudos da revista Cult, são jornalistas de veículos respeitados da grande imprensa, vêm do Sul do País e escrevem sobre cultura. A respeito do métier de cada um, respectivamente jornalismo especializado em música, livros e cinema, os três obedecem ao mesmo mandamento: paixão é fundamental. Aí se encerram as semelhanças mais óbvias. A palestra de Jotabê - que escreve sobre música para o Estado de S. Paulo desde 1994 - foi a quarta de um ciclo que contou com a abertura de Carlos Graieb, editor-executivo da revista Veja e, embora não tenha tirado o pé do chão, voltou-se à teoria, citando referências teóricas em autores como Susan Sontag, Greil Marcus e Tony Parsons.
Jotabê Medeiros é formado em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. Começou na crítica musical quase por acaso. Mandou para a revista SomTrês uma resenha de The Wall, disco antológico de 1979 do Pink Floyd (que não era mais lançamento na época), e recebeu uma resposta de Maurício Kubrusly, então editor da publicação. Kubrusly tinha gostado do texto de Medeiros e chamou-o para escrever na revista. Antes da abertura das importações (e da internet, claro), manter-se atualizado sobre música era caríssimo. Só viajando para fora do Brasil ou pedindo uma ajudinha para amigos. "Disco, nos anos 1980, era quase um contrabando", conta Jotabê. Desanimado, ele declinou o convite de Kubrusly: "Eu não tenho dinheiro para comprar os álbuns". "Não tem problema, a gente vai mandar toda semana uma caixa de CDs para você para você escolher sobre o que quer escrever", respondeu o editor. Dadas as circunstâncias, um convite irrecusável para qualquer apaixonado por música, nem que fosse de graça. Não era, e começou formalmente a carreira de Jotabê na crítica musical.
A SomTrês foi uma das primeiras revistas especializadas em música e áudio do Brasil. A primeira edição, de janeiro de 1979, trazia as chamadas: "As músicas proibidas pela censura", "Inédito: o verdadeiro hit-parade do rádio", "Mais de 30 páginas com os novos equipamentos" e "Zezé Motta: a receita do segundo LP". Além da chamada de capa "Os racks estão chegando", ilustrada pela foto de dois racks no meio de papel de presente prateado desembrulhado, com a própria Zezé Motta (pouco) vestida de oncinha, atirada languidamente entre os racks. A revista se equilibrava entre a cobertura de música, instrumentos e equipamentos de áudio, mix que não existe mais no mercado editorial brasileiro. Durou até 1989, com 132 edições.
As revistas de música no Brasil costumam ter pouca variedade ou solidez, com altos e baixos marcados - caso da Bizz. Desde novembro de 2005, a revista está de volta ao mercado, pela editora Abril, em mais uma "reencarnação". Depois de ser referência nos anos 1980, teve uma sobrevida bastante criticada na década de 1990 - em 1995, a mudança chegou ao nome, que se tornou ShowBizz. Para outubro, a Rolling Stone lança uma edição brasileira, mensal, que vai se espelhar na versão norte-americana. Segundo Jotabê, "o principal problema dessas revistas é a falta de ousadia", e a relação incestuosa com as gravadoras. Daí, um pulo para ficarem como "conteúdo igual ao catálogo das gravadoras".
E não é fácil escapar dessa relação, já que uma das fontes na área de cultura atualmente é a assessoria de imprensa. A redação do Estado, por exemplo, recebe de 20 a 30 CDs e livros sobre música por semana de assessorias ou gravadoras. É muito material para poucos jornalistas fazerem o filtro - no Estado há quatro cobrindo música - sem contar ainda o que chega ao jornalista por outros meios, como indicação de conhecidos e contatos do meio musical. "Essa é a realidade do mercado: não dá para cobrir tudo que é relevante. Com a abundância de informação, as coisas não adquirem relevância", diz Jotabê. "Panic At The Disco! é a grande banda do momento, para a molecada. Daqui a alguns meses, não vai ser. Eu escreveria isso".
Um tipo de preocupação freqüente entre os estudantes é como o crítico separa as preferências pessoais do trabalho e se a crítica é capaz de influenciar o sucesso comercial de um produto cultural - o fato é que a crítica tem quase nenhum poder perto do impacto dos investimentos em marketing feitos pelas gravadoras. Mesmo reconhecendo esse fato, Jotabê lamenta, por exemplo, um músico do naipe de Paulinho da Viola estrear espetáculo com casa vazia. "Tem artistas que parece que não foram talhados para a multidão. Eu acho uma heresia ter lugares vazios no show do Paulinho da Viola." Arremata com um sorriso melancólico: "Os caminhos do destino na música são meio tortuosos".
De acordo com Jotabê, existem quatro tipos de críticos: "Tem o crítico que escreve para convencer alguém, que trata o leitor como se fosse um consumidor; tem o crítico que é fã de uma banda ou de determinado gênero; tem o crítico intelectual, que é o crítico com a pretensão de pensar a sua época; e tem o crítico que escreve porque precisa do dinheiro. Eventualmente, se enquadra ao mesmo tempo em alguma das outras categorias". E sobre seu próprio trabalho, diz que o que espera a cada show ou álbum, é uma "música mais desafiadora, mais independente, mais incômoda".
Postado por Verônica Mambrini
Em
18/9/2006 às 14h58
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