Eduardo acorda. Ao seu lado, no criado mudo, disputam o pequeno espaço um pen drive, celular, dois livros, um caderno e no topo da pilha, seu notebook. Sentado na cama, desliga o despertador do celular, puxa o notebook para o seu colo e acessa o primeiro site que lhe vem à cabeça, verificando a conexão wireless. Ainda tem tempo de sobra antes de sair para a primeira aula da semana. Abre dois endereços de webmail distintos e em um deles resolve finalmente, e agora com bastante calma, responder ao e-mail irritado que a namorada enviara ontem. Antes mesmo de terminar, percebe que o download de um cd importado que deixou executando durante a noite já encerrou e começa a escutar as músicas. Conecta o seu mp3player no notebook para carregar as músicas enquanto terminar de escrever. No outro webmail uma mensagem da Bianca enviada para ele e mais dez amigos tenta combinar um dia para um jantar em grupo. Verifica sua agenda eletrônica e vota pela próxima quarta. Acessa um site que agrega informações sobre as músicas que ele escuta no computador e vê sugestões de artistas similares. Percebe que seu contato foi adicionado na lista de um amigo, e acessa a página deste para ver o que ele está escutando. Enquanto isso sua namorada e ex-colega de trabalho entram no chat. Conversa com os dois, intercalando seu tempo entre um e outro. Na lista de discussão de tradutores do Gnome dá o seu palpite sobre o uso de verbos em imperativo ou infinitivo. Agora está na pagina inicial da wikipedia e resolve que ainda dá tempo para corrigir aquele último parágrafo sobre sua cidade natal. Já está meio atrasado, mas entregar o trabalho do professor no site da disciplina não leva mais que dois minutos. Quando sai de casa percebe que esqueceu de pagar a fatura do cartão...
Vinicius Pinheiro, em (por extenso) "Um dia na vida de um indivíduo social imerso na emergente economia da informação em rede", no blog (dentro do site) que linca pra nós.
Acho interessante a integração da vida cotidiana com a rede de informação de computadores, mas não sei bem porque sempre me pego compelindo essa integração, acho banal, impessoal e traiçoeira, me parece que vai acabar com o último vestigio de informalidade que temos num mundo tão apressado e faminto de "fast food". Tudo o que é prático, fácil, rápido e impessoal está na moda, acho triste, muito triste. Não vamos ter mais almoços de domingo, tardes no parque, paseios de bicicleta e aulas de biologia com pesquisa de campo. Nossos jovens só querem ficar na rede, conversar na rede, se exitarem na rede, jogarem na rede. O pior é que a rede é inevitável.