Para mim eleição é igual a domingo com tempo instável.
Você acorda esperançoso que o tempo estará bom. Abre a janela e lá vem decepção, depois, otimismo, com alguns raios de sol, e por fim, conformismo, enquanto a dúvida paira entre colocar uma calça ou uma bermuda.
Tudo que é instável, por óbvio, pode mudar a qualquer momento. Desse jeito, você pode passar frio de uma hora para outra, ou calor de uma hora para outra... O que será pior?
Exemplo de otimismo seria, com o tempo nublado, você sair de casa, dirigir-se ao Parque Villa-Lobos, em São Paulo, e ouvir música clássica, executada pela Orquestra Sinfônica, como aconteceu no último domingo de setembro. Aos poucos ir percebendo que a cada minuto que passa o tempo está mais frio. Assim, o corpo vai ficando gelado, em contraste com o calor passado com os executores daquela linda orquestra. Bem que política poderia ser assim.
Exemplo de pessimismo seria você levantar na semana seguinte, domingo nublado, e ter que ir votar nos candidatos brasileiros. Dessa vez, a cada minuto na fila para votar você vai percebendo que aquele tempo nublado está abrindo, depois que está sol lá fora, e por fim chega à conclusão de que seu voto não vale nada, os políticos são todos iguais e que você poderia estar na praia ou no clube.
Na Grécia antiga, para ilustrar, seria o que chamamos de bom tempo. Sol. Lá, votar não era obrigação. A vida do homem grego era a política e a política era a dialética, a discussão, forçando um pouco, a luz dos cidadãos.
Já no Brasil, política é igual a nebulosidade.
Democracia é igual a neblina.
Você não vê direito o que está acontecendo; sabe, mas não sabe; e, para piorar, tudo é escondido atrás da burocracia estatal e dos velhos ou novos coronéis. Ninguém nunca sabe de nada, esse é o lema.
O que importa é o "preço do arroz". Desse jeito, claro, a quantidade de assistencialismo é proporcional ao número de votos.
É a obrigação que move as massas, desinteressadamente, às urnas. Pensamentos ligeiros poderiam transmitir a idéia que é a falta de inteligência, talvez de estudo ou informação, que faz o povo brasileiro eleger sempre os mesmos.
Não concordo. Talvez falte crítica.
Mas, na verdade, estamos em um marasmo cívico e o que sobra é a descrença, conformismo e medo de mudança.
Não é de se estranhar a falta de motivação do povo. Eu mesmo, se não fosse obrigatório, não votaria. Conformismo? Talvez, mas somos induzidos a pensar dessa forma pelo atual cenário político que estamos presenciando, onde é cada vez mais comum a escolha de um canditado não por apoiar suas propostas, mas sim porque é averso ao candidato concorrente. Parabéns pelo artigo.