Um péssimo hábito da maioria dos jornais é não dar a menor pelota para correções de informação enviadas por seus leitores. E com a qualidade de muitas redações pela hora da morte, correções são necessárias e enviadas. Não estou falando de mudar a opinião de um colunista, não. Estou falando de fatos errôneos, de números incoerentes, ou de notícias baseadas em lugares-comuns que não refletem a realidade.
Este ano resolvi tirar a prova dos nove. Normalmente ignoro uma reportagem quando percebo que existem nela fatos incorretos ou de conhecimento ultrapassado. Basta ler a maioria das reportagens sobre a China ou a Índia. Como tenho acesso a informações muito atualizadas desses países, aqui na Califórnia, rapidamente encontro os furos... No mau sentido do termo.
Pois bem, este ano diligentemente escrevi para a redação do jornal que meus pais assinam. Um grande jornal do Rio de Janeiro. Foram cerca de dez cartas, já com correções em assuntos distintos, que vão desde casamento indiano a política, ciência ou mesmo acidentes de avião da Gol. Tomei cuidado para escrever as cartas sem insultar ninguém ou mesmo ser agressivo. A maioria delas tinham no máximo dois parágrafos, com as fontes de todas informações (a última teve cinco, porque, a cada parágrafo, havia uma informação dúbia ou incorreta). Adivinhem quantas cartas foram publicadas? Uma? Duas? Ou mesmo uma nota do editor corrigindo a informação no rodapé da página três? Que nada... Zero! É isso aí, pessoal.
Para esses jornais, pelo visto, a reputação, a pequena política do repórter, é mais importante do que a informação, do que a notícia mesma. Não à toa, têm feito tradução de artigos do NY Times, da New Yorker, com duas semanas de atraso, e que são apresentados como grande novidade...! Não vou nem comentar a seção de ciência, que é uma tradução da Reuters... Por algum motivo estranho, eu sabia quem era o Nobel de Física antes de sair no jornal (quatro dias antes para ser mais exato)!
Por isso, me parece cada vez mais óbvio: quando traduzir um texto se tornar mais barato do que comprar um jornal, e isso já está quase lá (com os softwares de tradução automática), as redações da maioria dos jornais brasileiros irá simplesmente acabar... Porque a função de editor, e de jornalista, que são, respectivamente, garantir a qualidade e a correção da publicação, e desencavar informações atualizadas, me parecem praticamente extintas.
Ótimas observações, Ram. Acredito que esse problema ocorre tanto por características pessoais quanto pela formação e o meio hostil no qual o jornalista atua. A maioria desses profissionais não gosta de receber críticas, muito menos de admitir seus erros. A formação muito plural do jornalista, a qual exige que o profissional esteja sempre a par dos mais diversos tipos de assunto, faz com que esses profissionais tenham a ilusão de saber tudo (ou pelo menos querem aparentar isso), postura que pode levar o comunicador a subestimar e até ignorar o leitor.
Me recordo da última vez em que me dei ao trabalho de corrigir a Veja. Recebi um e-mail mal-educado de algum boçal da revista, querendo dar razão ao erro...
Eu jah enviei mais de uma vez correçoes p/ a revista Historia Viva, e eles nao deram a minima atençao. Na verdade, a revista é muito fraca, superficial, e, no fim das contas, deseduca.
Outro problema: a falta de tempo para o jornalista apurar a matéria, escrever, corrigir, sugerir pauta e responder e-mail dos leitores... Muito provavelmente o editor para o qual você enviou as correções nem leu o e-mail... Culpa dele ou do acúmulo de tarefas que lhe foi dado... depende de cada caso. Não custava nada para um jornal ter um funcionário que recebesse essas correções e pudesse cobrar isso de cada jornalista nas redações.