Quem compareceu ao evento de abertura do 1º Circuito Editorial Literário pode sair com (pelo menos) uma certeza: o mercado editorial infanto-juvenil não é nada simples. Primeiro assunto do ciclo de palestras e workshops promovido pela agência O Agente Literário, O livro infanto-juvenil e as exigências do mercado abordou os principais aspectos relacionados à criação e publicação de um livro desse gênero, visando elucidar os pontos fundamentais a serem considerados pelos escritores e revelar as principais necessidades do mercado. De maneira clara e bastante direta, forneceu diversas dicas e desvendou precisos atalhos aos que pretendem se aventurar por este caminho.
Ceciliany Alves, editora de literatura e projetos especiais na Editora FTD, metralhou durante 4 horas - divididas em 2 dias - uma quantidade tão grande de informações relevantes e essenciais que poderiam, como a própria brincou, preencher 2 ou 3 dias completos, ou, quem sabe, constituir um livro para os interessados no assunto. Logo nos primeiros minutos de exposição, Ceciliany (que aliás é bastante jovem para a importante posição que já ocupa) disse, sem hesitar, que o mercado infanto-juvenil é, hoje, a maneira mais "fácil" de um novo escritor entrar no mercado editorial e conseguir publicar, e que as editoras têm condições de investirem em novos nomes (e até mesmo buscam pôr novos talentos nessa área). A demanda é grande. Os presentes gostaram, claro. Nas horas que se passaram, a palestrante percorreu os temas relacionados ao assunto, partindo dos aspectos "físicos" do livro (tamanho, formato, cor, ilustrações, etc.), passando brevemente pela relevância dos temas e do próprio texto e finalizando com os detalhes específicos do mercado e das editoras, da sua e outras, inclusive. Tudo muito interessante.
Eu, que comecei a ler basicamente por conta própria e já pequeno era um leitor voraz, confesso que me decepcionei um pouquinho com todo o processo editorial do gênero supracitado, explicitado pela palestrante. Os livros infantis, principalmente, carregavam consigo, em uma visão poética que eu possuía, uma leveza, uma alta dosagem de fantasia, de sonho, de brincadeira. Tudo isso, pensava eu, dava ao escritor desse gênero alguma liberdade no processo de criação, muito de sonho, de fantasia, de um certo paternalismo, daquela imagem (sabe-se lá de onde a concebi!) de que os escritores infantis são uns avós maravilhosos, queridíssimos, meigos, voz calma, mansa, etc., e que se preocupavam exclusivamente em escrever para ensinar, para divertir, só isso. Mas, não. Não é bem assim. O mercado infanto-juvenil é tão duro e difícil como o de qualquer outro gênero e as editoras, assim como quaisquer outras empresas de outros setores da economia, são apenas empresas tentando sobreviver e maximizar seus lucros. Em outras palavras, os livros são editados visando, principalmente, a venda e o lucro gerado, seja ela a venda para as escolas ou para o governo (que são os grandes consumidores de livros infanto-juvenis). Claro, é sempre bastante estimulante e gratificante produzir algo que ensina, diverte e forma pessoas, e não restam dúvidas que as editoras ficam felizes e orgulhosas em participar da formação e consolidação de crianças e adolescentes, mas, no fundo, trata-se de um negócio, também, e os escritores são os operários e a força produtiva da cadeia. Nesse sentido, o mercado infanto-juvenil não difere em quase nada dos demais mercados, mas nem é possível "culpar" as editoras; produzir e vender livros é o seu negócio e elas têm suas maneiras de garantir sua participação no mercado e manter ou conquistar posições. Mas se há algum ponto nessa selva editorial onde se pode sonhar um pouquinho (pelo menos), ainda é dentro dos livros infanto-juvenis, não tenho dúvidas.
O Circuito Editorial Literário continuará com a palestra Como criar um bom romance e ter uma boa edição, no dia 31 de outubro, com o professor Jiro Takahashi, editor com passagem nas principais editoras do país, além da sua recente atuação como diretor editorial da Geração Editorial. Oportunidades como essas são raras e devem ser aproveitadas.
Quando se aplica à literatura um tratamento igual a uma receita culinária - "Como Fazer Isso Assim e Assado"; "Como Escrever Um Romance, Um Conto, Um Ensaio"; "Dez Passos (ou menos) Para se Tornar um Escritor Profissional" - a coisa vai mal. Esses seminários todos, esses eventos, essas oficinas, são todos assassinos da literatura, obedecendo ao fenômeno estranho e paradoxal que se observa em diversas áreas artísticas: os próprios envolvidos tramam, meio inconscientes, o extermínio da arte que abraçam. Assim é que uma miríade de "artistas plásticos", surgida do nada, praticamente matou a pintura. Idem com a música. Não se trata apenas da generalização da mediocridade, antes fosse só isso. É um movimento que pretende dissecar, "desconstruir", analisar (sempre superficialmente) o que pode ser identificado como fundamento de cada arte, produzindo fórmulas pré-moldadas e de efeito duvidoso para imediata execução. Esses livros produzidos em "oficinas" são todos iguais. Como seus autores.
Ôpa, nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Se as oficinas correm o risco de acachapar a criatividade, por outro lado mostram os instrumentos de trabalho, a importância da leitura e do trabalho constante. Organizei muitas no Clube Paulistano. Participei de outras tantas na Casa da Palavra, nos tempos da Anna Maria Martins. Vi muita gente crescer em qualidade, enriquecer o texto, fazer o trabalho de carpintaria. O mais é talento, e esse ninguém ensina.
De fato, nem tanto ao céu e nem ao inferno. No entanto, se houvesse uma receita, uma fórmula mágica para produzir livros bons e atraentes ao público (especialmente o infanto-juvenil), acredito que editoras do mundo inteiro estariam rindo à toa. O fato é que as fórmulas desgastam o formato, um sucesso é único justamente por isso, ele possui um diferencial qualquer que é exclusivo.
No entanto, é importante sim que hajam encontros entre autores e conversas e troca de informações, porque é isso que premite o crescimento, não é pelo cultivo do que é igual, mas o acréscimo das diferenças.