Para escrever um texto sobre o melhor de 2006, precisa-se pensar no que foi especial neste ano.
Para tanto, recorri ao Aurélio, dicionário da língua portuguesa, para saber o que é especial. O que esta palavra significa?
Segundo o Aurélio, algo especial é algo fora do comum, algo exclusivo. Pode ser também uma espécie única.
Gostei da última definição. Especial em 2006, foi o que é especial no Brasil em todos os anos desde o descobrimento: a estática cultural da espécie brasileira.
Como a palavra "estática" também é de difícil compreensão fui, agora, no dicionário da Melhoramentos que me trouxe os seguintes sinônimos: em repouso, em equilíbrio, plantado.
Mais uma vez, gostei da última definição. Estamos plantados em um marasmo cívico.
Para sairmos desta apatia profunda (a 1º definição de marasmo no dicionário da Melhoramentos), todos os finais de ano são propostas grandes idéias por reconhecidos economistas, renomadas empresas de consultoria, ou futurólogos de momento com o objetivo do Brasil deslanchar economicamente e, conseqüentemente, socialmente, ou vice-versa.
Um exemplo disso foi a reportagem de capa da revista Veja, de 7 de dezembro de 2005, intitulada: "Crescimento econômico - o grande salto - estudo da consultoria Mckinsey mostra como o PIB do Brasil pode ser três vezes maior".
Li a reportagem. Os cinco itens abordados, que deverão ser repensados, não causarão espanto ao leitor mediano de jornais: informalidade (falta de pagamento dos tributos), deficiências macroeconômicas (juros e dívida pública), problemas regulatórios (burocracia), má qualidade dos serviços públicos e, por fim, falta de infra-estrutura.
As soluções apontadas, graças a Deus, são fáceis. Porém, caro leitor, eu não vou elucidá-las aqui. Vocês terão que confiar em mim ou ler a citada revista.
A única coisa que adianto é que a maioria das soluções depende de vontade política e cópia de modelos funcionais que já foram introduzidos em outros países como Holanda, Espanha (esta copiou da primeira) e Portugal.
O que a empresa de consultoria não entendeu é que o que é exclusivo do povo brasileiro, como eu já falei acima, é o repouso intelectual da população!
Nós gostamos de não nos desenvolver. Nós apreciamos o nada, e recusamos o novo.
A população só se move, em conjunto, em estado de necessidade, ou seja, quando estamos à frente de apagões como o elétrico ou o aéreo, ou ainda, lógico, quando mexem no nosso próprio bolso, como no Plano Collor.
Mesmo assim a reação é individual, somente com um reflexo coletivo.
Como prova de que é puro estado de necessidade, percebe-se que tão logo a crise passa, tão logo as pessoas esquecem das precauções que deveriam tomar para ela não se repetir.
Triste? Não! Mas paremos de ser hipócritas, todos os anos traçando metas inexistentes, iludindo-nos com pesquisas que refletem o utópico, para um povo que de fora do comum só tem o apreço pelo nada!
Todo dia eu torço para que tudo dê errado, mas não faço a minha parte quanto a isso. O problema é a esperança, o problema é o homem. Por isso o dia em que tudo der errado e o planeta estiver mais poluído e fudido do que nunca e todos os acordos estiverem sendo rasgados por uma questão de sobrevivência antes da grande explosão, talvez algum importante líder imperialista, que por ventura esteja no poder, pense a respeito da necessidade de uma nova etapa de reformulação de valores humanos e espirituais. E continuaremos a brincadeira do acerto/erro em Marte talvez. Mas enquanto este dia fictício-profético não chega, empenhemo-nos em educar os nossos filhos com mais amor.
Ótimas colocações. Temos que entender que, diante da atual situação do Brasil, devemos agir como se estivéssemos todos os dias em um real estado de necessidade.