O Digestivo fez 6 anos; eu ia escrever sobre a Quinta Geração de Colunistas do site; e eu queria, claro, um depoimento de cada um que participou. Ao contrário do que fizemos nos outros anos, enviamos algumas perguntas para incentivar os depoimentos de Colunistas, ex-Colunistas e Colaboradores. Alguns escreveram textos corridos; outros responderam diretamente às perguntas. Para não ficar, assim, uma "entrevista" solta (abaixo), achei por bem dar este esclarecimento inicial. Boa leitura! — JDB
1. Como começou sua história com o Digestivo Cultural?
Com um spam. Em 1999, da internet eu só tinha acesso a e-mail. Um dia recebi um texto assinado por J.D. Borges, o qual tive a pachorra de ler. Como não pedi para ser retirado da lista de distribuição, continuei recebendo outros, periodicamente. Não lembro qual motivo especial me levou a entrar em contato com o autor, o fato foi que ao cabo de algumas mensagens, recebi um convite para escrever sobre beatniks, literatura e personagens, um artigo que faria parte da seção de convidados no saite pessoal dele. No começo do ano seguinte, chegaria outro convite, dessa vez para ser colunista semanal numa revista eletrônica a ser criada naquele ano. Pleno janeiro, baita solão lá fora, e me mandam um convite para trabalhar, e de graça. Tinha que ser coisa de paulista, pensei na época.
2. Como é (foi) escrever para o site?
Em termos de aprendizado, o melhor foi aprender a disciplina de produzir texto regularmente e as manhas por trás disso. Ficou também a experiência de como usar a competição, no caso literária, com fins produtivos. Outra coisa boa era a ansiedade por ler as outras colunas, influenciar e ser influenciado pelos seus pares. Interferência do editor só muito raramente, fosse em forma, fosse em conteúdo. Por exemplo, teve uma época em que rolou uma pilha para que ridigíssemos mais pé no chão, evitando assuntos de pouco apelo de massa. Sugestão que foi ignorada várias vezes, evidentemente. Acho que, em certo momento, chegou a ser tão bom quanto trabalhar em grupo com prazos apertados pode vir a ser. Chato era só, para citar Douglas Adams, o barulhinho que os eles fazem quando estão acabando...
3. Quais foram seus maiores hits? A que você os atribui?
Não tenho a menor idéia, nunca vigiei contador. Até porque eu sempre escrevia sobre o que gostava, não para chamar público. O que me levava a alternar textos sobre o Planeta dos Macacos e sobre não-linearidade e teoria do caos. Acho que isso atraía alguns leitores. Mas era bem difícil prever, às vezes notas banais geravam zilhões de comentários e aquela coluna feita sob medida para chocar a classe média passava em brancas nuvens.
4. Você mudou muito depois de entrar para o Digestivo? Como era escrever antes e como é escrever hoje?
Minha evolução se deu na medida em que fui incorporando os aprendizados mencionados na resposta da pergunta 2. Com a prática, o texto vai ficando mais fluente, enxuto e saboroso. Ter um blog me permitiu exercitar formatos & gêneros que apenas podia experimentar no Digestivo. Ou seja, ampliei meu espectro de redação. Hoje, quando tento uma pirueta, é mais para descobrir uma maneira nova de chegar ao chão do que para atrair leitores.
5. Cite alguma coisa significativa que o Digestivo te trouxe... Boa ou ruim? Por quê?
Boa: fãs. Do sexo feminino. Bonitas. Preciso explicar por quê?
Outra coisa que o Digestivo me trouxe e pela qual sou grato foi a oportunidade de extrair em forma de redação idéias, piadas e observações interessantes de amigos pessoais que sempre julguei craques nas três: Lisandro, Ram, LEM. Ou seja, o DC foi um caminho para que eu me transformasse em leitor deles.
Ruim: o que havia de ruim ficou por lá quando eu saí; não registro perdas nem danos.
6. As pessoas do Digestivo... Alguém que você citaria? Por quê? Alguém com quem aprendeu alguma coisa? O quê?
Tenho a certeza de ter tido como colega de colunismo o maior escritor de minha, perdão pelo termo, geração — e não estou falando do Alexandre Soares Silva. Sinto imensurável falta de seus escritos periódicos, das correspondências que trocamos e dos papos que tivemos, diante ou não da cerveja, mas sossego porque sei o quanto seu silêncio lhe é importante. Sou enormemente grato ao Julio pela hospitalidade e oportunidades oferecidas, e fico contente em vê-lo traçar seu caminho, mesmo que não faça parte dele. Prezo encarecidamente as amizades que ficaram: Fabio, Bruno (para quem fiz as vezes de anfitrião, quando ele se mudou para minha cidade), Adriana, Daniela, Polzonoff, meu xará Azevedo e Alexandre, bem como as muitas pessoas que conheci no processo e que participaram do Digestivo apenas como comentadores.