O templo sagrado da humildade é o banheiro. Estamos ali a sós, percebendo a fragilidade da carne, olhando o espelho que nos confronta com um outro ser que nos olha, pasmo, atrás do vidro e nos mostra a realidade de uma anatomia que sente, mais do que supúnhamos, a passagem do tempo.
Ali permanecemos às vezes quietos e pelas paredes, em silêncio, reverberam memórias, alguns sonhos, uma gota de água estala musicalmente em algum canto e acordamos de repente no meio de uma função qualquer, extremamente física.
Ali testamos, meio sem graça, algumas posturas a serem talvez usadas a posteriori, mas não, não funcionou.
Ali descobrimos recantos do corpo ainda não mapeados, testamos as juntas, joelhos, juventudes idas, nos tocamos como desconhecidos e em silêncio, até que a água de um chuveiro nos absolva e, talvez, cantemos alegres porque sentimos, estamos vivos.
Acredito piamente que a água de uma pia é um bálsamo e que o brilho nos ladrilhos, latrinas e canos dissipam o engano, o humano engano.
Todos aqueles que saem de um banheiro são, em proporção direta com o tempo em que lá estiveram e ainda que minimamente, seres humanos melhores.
"Tal como um menino, tão só, no antigo banheiro, folheando revistas comendo as figuras, as cores das fotos te dando a completa emoção..." (Gonzaguinha - Ponto de interrogação)
Templo do seu acordar ou dormir. Creio, que Rodin ao esculpir "O Pensador", usou um modelo sentado em um Celite. Talvez, pensemos tanto ao usarmos o banheiro.
Local do amigo espelho. Cúmplice, silencioso, nunca nos desmente sempre que vemos nossa imagem e achamos que ainda somos mais jovens do que ela, ou quando juramos, mais uma vez, nunca mais beber tanto.
Ah! O chuveiro lava a alma e as "ziquiziras" do dia e nos deixa leves e prontos para os prazeres. A banheira nos retorna ao calor e aconchego do útero materno, que relaxamento...
Local de pensamentos estratégicos, de leituras, de palavras cruzadas, de reencontro com você e de tomadas de decisões.
Prazer maior é ir ao banheiro quando se está muuuiito apertado.
Banheiro amigo, para mim o centro da casa.
Guga, você escreveu este artigo no banheiro?
Realmente eu sai melhor do banheiro, principalmente num momento de aperto! E quem não se sente outro depois de tomar um banho, lavar o rosto, usar a água para levar preocupações, cansaço, tédio... Só não tenho certeza de ter entendido o humano engano.