Para Bruno este é mais um dia de bagunça. Não há interesse pelas mulheres, a não ser quando alguma pisa em suas estatuetas disformes de areia.
- Ô, sua anta.
- Seu pai não te deu educação não? Filho da puta.
- Hmmmpf. pergunta pra ele ali.
O velho já havia abaixado a revista e acompanhava. Um olho em cada atividade.
- Deixe meu filho em paz, orangotango. Mim Tarzan, você Jane. Ooo ignorância.!
A descrição de Marcos combinava. Seu corpo era uma geladeira em cima de duas vassouras. Já Jane, digo, Cecília, tinha os músculos tão definidos que era possível identificar alguma escrita por ali.
Marcos aproximou-se do pai de Bruno.
- Escuta aqui, seu velho idiota, tá pensando o que? Sabe com quem você tá falando? Eu sou o Peachbull de Maresias: Tricampeão nacional de jiu-jitsu e pentacampeão estadual de abdominais em dupla.
Cecília emendou:
- Deixa pra lá Marcos, esse velho tá sobrando aqui na praia.
- Melhor um velho com filho do que uma dupla de bombados.
Marcos ficou vermelho como um tomate. Prendeu a respiração e tencionou todos os músculos como um cachorro na mesa de operação em uma aula de anatomia.
- Olha seu velho imbecil, estou perdendo a paciência. Tô ficando boladão.
- Colega, tenho paciência de sobra. Posso voltar a ler?
- Não, filho da puta.
E deu um tapa na revista do velho.
- Ahh, cansei. Vou chamar a Marlene. Bruno, corre lá em casa e chama a Marlene. Rápido!
Bruno levantou-se sujo de areia e correu para casa como nunca antes. Sabia que seu pai ia apanhar feio do casal selvagem. Nem sequer pegou sua bóia e prancha de bodyboard. Correu para chamar o resgate.
- Ah velho, era só o que faltava. Vai chamar sua mulherzinha pra me dar uma lição? Essa eu vou esperar pra ver.
- Marcos, deixa o velho aí, vamos embora. Tô cansada desse pessoal fora de moda que insiste em vir pra cá encher o nosso saco.
- Não, não vou não. Quem sabe a tal da Marlene não vem aqui e dá uma chupadinha no papai? Ãh? Esse velhote não tá com nada mesmo. Vou dar uma lição na mulherzinha e depois acabar com ele.
Paulo voltou a ler a revista. Bruno chegou em casa e chamou Marlene, que correu na direção da praia. O casal agora ria, sabendo que apanhariam dela.
Marlene apontou na areia da praia derrapando em uma curva fechada. Sem tempo de pensar, o casal a viu e disparou na direção do mar. Marlene foi atrás e, antes que a água salgada chegasse até os joelhos, tascou uma mordida na bunda do boladão. Sunga e algum fios da pele ficaram com Marlene, que voltou até o pai de Bruno com o troféu preso na boca.
- Boa Marlene. Senta aí que eu vou te dar um ossinho.
Os três ficaram ali na areia da praia, até o sol ser engolido pelo mar. Bruno, seu pai e a Rotweiller.
* * *
Direto do Veritas est, que linca pra nós (porque blog também é literatura, alta literatura...)
Cara, amei a sua história. Cômica, real(?). Imaginei direitinho a cena. Acho que todos deveríamos ter um cão desses para as emergências. Infelizmente só tenho um gato, que tem medo até de formiga. Meio gay, sabe como é! Parabéns! Mais um presente de aniversário (o meu que é hoje). Acho que a quarta-feira fica menos cinza com o DC. Abraço. Adriana