Entrada principal da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da USP) na cidade universitária. 16h28. O dia é o 11 de abril de 2007, e um sol ardido força alguns a abrirem o guarda-chuva.
- Que fila é essa aqui?
- Pra pegar senha pra palestra do Orkut.
- Ele é inglês?
- Não, ele é holandês!
- Hum, acho que na verdade ele é alguma coisa do Oriente Médio...
- Queria ver o Orkut de verdade, queria ver ele como ser humano.
Não dava pra entender se o tom das conversas uspianas na fila gigantesca que se formava era jocoso, ou se os sentimentos eram verdadeiros. Decerto, o que havia era um frisson serpenteante. Bastava se aproximar dali para sentir. Pendurado em frente ao prédio do FEA-1, um pôster anunciava "Primeira visita do criador do Orkut ao Brasil: Mr. Orkut Buyukkokten fala aos alunos da USP".
Eu fui para Búzios na semana passada e o gerente do hotel me agradeceu. Aí, eu perguntei, "Por quê?", e ele respondeu "Eu beijei muitas garotas por sua causa!"
Dr. Orkut tem um sorrisinho franco e aberto, assim como o Orkut.com tem interface lilás e azul friendly and calm. Olha aí, ele já está interagindo, é impressionante... diz a funcionária do Google antes de Dr. Orkut subir ao palco do auditório do FEA-5, com seus 250 lugares preenchidos, além das cadeiras de plástico que foram sendo desempilhadas em cima da hora. Dentro deste homem de roupas extravagantes vê-se que há uma inteligência fora de série. E um carisma magnetizador.
Orkut vêm controlando o Brasil e o Brasil vêm controlando o Orkut
A primeira coisa que Orkut (aqui lê-se órcût, não ôrcute) diz é o quanto está feliz por estar no Brasil. Minto, é um carregado "boa noite", seguido de um sorriso afável. O auditório explode em gargalhadas. Seu Power Book da Apple está prontinho com a apresentação "Redes Sociais na Internet - a experiência do Orkut", onde mostra diversas estatísticas sobre o site de relacionamentos e outras picuinhas - pois, como ele mesmo disse, "até o efeito local de um objeto na página é analisado".
Bad, bad service, diz Orkut. no donuts for you! completa a platéia em coro. Extremamente analítico, ele tem sempre um sorriso pronto a desabrochar no final de cada intervenção. Num contraponto, as sobrancelhas triangulares e escuras dão um ar de suspensão de sentidos. Maroto, suas bochechas flutuam vermelhas a cada arreganhada de gengiva.
Continúen bônitus!
Quando chego em casa, procuro pelo perfil de Orkut Buyukkokten no Orkut.com. Só acho genéricos, seu perfil pessoal que mostrara em slide do Powerpoint já não existe? Mas a maravilhosa viagem de Dr. Orkut ao Brasil está lá, num outro perfil, toda descrita em inumeráveis fotos. Seu último pedido na USP: que todos tirassem uma foto com ele antes de sair do auditório.
Anteontem foi a última noite de Orkut no Brasil, na manhã do dia 12 de abril lá ele estaria em vôo para sua base na Califórnia. Sim, Orkut tem um jeitinho amigável e fofo, meio personagem de desenho animado japonês. Ou teria um sorriso de Gato de Cheshire?
Entender o sr. Orkut virtual é barra, pelo mundo de possiblidades envolvido. Juntar essa dificuldade hermêutica ao personagem real... então viva o Brasil, a terra dos orkuts.