Muita gente já ouviu falar em "sofisma". O termo entrou em desuso há milênios, mas foi uma das artes mais admiráveis no mundo grego: persuadir pelo discurso. Os sofistas, portanto, convenciam multidões com um papo bem elaborado. Seu discurso nem precisava ser tão verdadeiro. Nem um pouco, na verdade.
Sócrates viveu quando os sofistas faziam grande fama. Ele soltava a língua - como aponta Os Pensadores, curso iniciado esse semestre na Casa do Saber - para desbancar a astúcia dos sofistas. "Como Sócrates não deixou escritos", lembra Roberto Bolzani Filho, "temos três fontes confiáveis: Platão, Xenofonte e Aristófanes".
Enquanto os dois primeiros fizeram as famosas apologias ao pensador, Aristófanes ridicularizou Sócrates em uma de suas comédias, As Nuvens. Na peça, o acusava de ser apenas mais um sofista. Essa fama teria prevalecido se os diálogos de Platão não repercutissem tanto no pensamento ocidental.
Neles, Sócrates desafia seus interlocutores, supostos sábios, com questões espinhosas. Por ironia, perguntava apenas o que não podia ser respondido. No diálogo com Hípias "O que é o belo?", Hípias responde: "O belo é uma bela moça". Mas Sócrates não quer exemplos de coisas belas. Quer saber "o que deve estar em todas as coisas belas, para torná-las belas". Na ótica de Platão, Sócrates os ajudaria a sair do erro para chegar, assim, à verdade.
Obviamente, foi mal interpretado e conquistou desafetos. Em Apologia de Sócrates, o pensador é acusado de corromper a verdade. No tribunal, prefere a morte a reconhecer seu erro. A postura relutante de Sócrates acaba por obrigar os juízes a condená-lo à morte.
"Sócrates é um divisor de águas na filosofia antiga", acrescenta Bolzani. Foi o primeiro a propor que o conhecimento nasce totalmente da razão. Esses valores vão influenciar Platão e Aristóteles, bem como o pensamento ocidental posterior. Estas e outras reflexões ganham fôlego nos cursos semestrais oferecidos pela Casa.
A postura de Sócrates na Apologia é tudo, menos relutante. Quando perguntam a ele que pena ele escolheria para si próprio (costume da época), responde que deveria receber um prêmio, por levar os filhos da aristocracia ateniense à sabedoria. Não é que prefira a morte a reconhecer o erro. Ele afirma e reafirma suas posições. No Fédon, que se passa na prisão, nos momentos finais da vida de Sócrates, o assunto é justamente a preferência pela morte que o filósofo (para Sócrates) deve ter contra a própria vida. Não há um único momento de relutância ou hesitação, o que seria contrário aos ensinamentos socráticos...
A Casa do Saber, apresenta uma maravilhosa oportunidade de se beber uma dose a mais de cicuta, uma de uma outra birita, filosófica, tentando entender o que pensava Sócrates e os seus seguidores socráticos... a filosofia de um homem que simplesmente buscava a verdade das coisas... o velho safado que gostava de garotinhos... o importante pensador da filosofia moderna... tudo isso se mistira na figura humana desse cabeção... para quem gosta é uma Platão cheio!!!