Venho pensando em escrever. O gerundismo aqui, creio que se perdoa, pois é mesmo uma coisa que se arrasta, que "vai vivendo", "continua andando", e "está estando". Mas desde quando?
Desde os 12 anos de idade. Hoje tenho 25 e, de concreto, nada. Confesso que me foi muitas vezes mais fácil pensar em abandonar a escrita do que realmente me aventurar por alguma das idéias que tenho na cabeça.
Mas não consigo. Ou melhor, não tenho conseguido (esta forma é um pouco menos "baixo astral"). Mantenho um diário em papel, em que misturo a ficção ao cotidiano. Talvez no final eu acabe escrevendo uma "ficção do cotidiano" e nem saiba mesmo no que acreditar. Ou não saiba mesmo separar uma coisa da outra. Embora já tenha pensado em fazê-lo: escrevo à mão no diário, e à máquina de escrever os "textos". Começava a divagar na máquina de escrever, e a própria movimentação de ir pegar a máquina, tirar a tampa, posicionar o papel tornava toda a operação solene e desnecessária. Um rito que, afinal, não levava a nada, pois a cabeça já ia vazia de idéias.
Não sei, portanto, qual é o meu problema. Talvez erro de aspiração. Tive em criança a facilidade com números; em português nunca fui bom, apenas médio. Isso nas várias subáreas em que a matéria de "português" era dividida quando cursei o ensino fundamental: a parte normativa, a difícil interpretação de texto, a análise sintática. Vi um pouco de literatura, mas só me interessei mais quando adolescente.
Eu comecei a escrever com 12 anos de idade. Na época, eu comecei a escrever uma mistura de relato de fatos da escola, da turma, com ficção. Li alguns livros da série Vaga Lume e comecei a escrever por eles. Disse que meus colegas estavam na história, uns se identificavam com algumas coisas, outros nem sabiam. Um até me deu um caderno!
Hoje, além de não arrumar tempo (sou desorganizado) para escrever, não consigo evocar as lembranças deste tempo. Talvez seja o meu erro bater sempre na mesma tecla. Ou insistir em não bater em nenhuma.
O que escrevo hoje? Bem, este blog que se arrasta. Já o apaguei uma vez, mas resolvi continuar. Trabalho atualmente com informática. Na prática, é de certa forma lidar com uma linguagem - no caso, a de programação. Mas o único objetivo é resolver um problema (isso, no meu caso, que mantenho um sistema antigo em funcionamento) e a sensação de criação é reduzida, de fato, em relação à criar um sistema inteiro. Penso em comparar isso à escrita de um romance, mas... é bem diferente. Lidar com o subjetivo e torná-lo objetivo é diferente. Afinal, como é que os grandes autores sabem o que as suas personagens farão? Que estranha engenharia é essa, a de fios que se entrelaçam, paredes e portas que se constroem e se fecham, mas que no final leval a um lugar que, de alguma forma, tem uma certa claridade?
Bom, enfim, alguns pensamentos por hoje. Acho que no final eu quero mais é que me leiam do que eu escrever alguma coisa.
Ô Marcelo. Legal sua reflexão. Mas acho que sua angústia atrapalha (o que estou dizendo? Tem gente que só consegue escrever sob angústia, sofrimento, mal-estar...). Mas o que quero dizer é que querer escrever (no sentido de ter de cumprir uma missão) é ruim! O ideal é querer escrever (no sentido de estar com vontade). Mas para tudo tudo existe técnica. Aprendi com o mestre Raimundo Carrero que quem espera uma ninfa vir do Olimpo soprar a inspiração no ouvido para só daí escrever, vai morrer sem datilografar uma lauda na vida. Escrever requer persistência, diciplina e teimosia mesmo! A princípio, vai escrever por obrigação. Vai fazer uns troços horríveis e dispa-se de orgulho, pois você (necessariamente) tem de reconhecer que são péssimos! Só assim, no dia em que escrever algo de qualidade, vai estar sendo justo consigo mesmo e com seu texto. Aí sorria. Tente repetir a dose. Veja porque este ficou melhor que o outro. Guarde-o na gaveta e continue. Sem esmorecer. O treino é tudo! Sucesso
Marcelo, gostei do que escreveste. Por isso, me aventuro a tecer alguns comentários sobre o que li. Onde está o problema? Não existe problema. Que é o texto literário, senão essa mistura de ficção e realidade, lembranças e relembranças? Não há mistério. Escreves e isso basta. É verdade, porém, que, em algumas vezes, bate essas incertezas, e o escritor acaba se complicando, mas isso faz parte da "coisa". Manuel Bandeira nos ensina, afirmando que há poemas pefeitos, mas não há poetas perfeitos. Acho que isso caminha um pouco em direção ao que tens em mente. Teu texto será perfeito, a partir do momento em que te libertares do medo de escrever. Em literatura, não há idéias preconcebidas. É tudo questão de momento, quando elas vão surgindo e vamos colocando essas idéias para fora, por mais absurdas que elas - em um primeiro momento, possam parecer. Veja Gabriel García Marquez, por exemplo. Espero ter contribuído com esse debate. Um grande abraço.