Aqui estou, a 170 quilômetros do centro do Rio de Janeiro, após treze horas de viagem, me preparando para o primeiro dia da 5ª edição do festival "Rio das Ostras Jazz & Blues". O vento é frio, mas o sol começa a esquentar e já se pode vislumbrar como será a paisagem dos shows, que começam diariamente, até o final do feriado, no dia 10 (domingo), às 14h e vão, no mínimo, até 23h. São cinco por dia, em três palcos ao ar livre.
O show de hoje, do compositor e vibrafonista Stefon Harris e seu quarteto, ao entardecer, promete, pois será o primeiro executado na Praia da Tartaruga, em um palco montado em cima de uma grande pedra, bem em frente ao mar azul-claro. Antes, haverá ainda a apresentação da Big Gilson Blues Band, na Lagoa de Iriry. Gilson, natural do Rio de Janeiro, é fundador do grupo de blues brasileiro Big Allambik. À noite, no palco Costazul, ainda se apresentam o pianista Dom Salvador; Hamilton de Holanda, considerado o "Príncipe do Bandolim" por Djavan, Maria Bethânia e outros; além do guitarrista, cantor e compositor do Bronx, Michael Hill.
Rio das Ostras, na região dos lagos, abrange onze praias, que somam 28 quilômetros, com mar tranqüilo e monazitas, mineral castanho-avermelhado. Ao contrário de Búzios, onde o festival aconteceu no ano passado, mais badalada e que mantém o ar empolado de outrora, Rio das Ostras é rústica, uma antiga colônia de pescadores que começam a trabalhar logo pela manhã, tanto às margens do mar como em barcos. A praia fica repleta deles e essas feições humanas completam a paisagem estonteante por sua naturalidade.
Mas a cidade também tem outra característica: respira cultura, maneira de explorar o seu potencial turístico. Além de sediar o festival, desde o começo do ano a cidade já organizou exposições de jovens talentos, promoveu encontros com estudantes e escritores no projeto Leitura Viva, promoveu uma feira com trabalhos de alunos do Centro de Formação Artística, um Festival de Música, Cinema na Rua e até um Festival Nacional de Teatro. A maioria deles são obras da Casa de Cultura e da de Educação, ligadas à prefeitura municipal.
Ontem à noite foi realizada a abertura oficial do festival. Apesar do grande atraso, de cerca de duas horas, sentido mais ainda em uma noite fria, a Orquestra Kuarup Cordas e Sopros abriu o evento, seguida pela Big Gilson Blues Band e o renomado percussionista Naná Vasconcelos. Projeto social da cidade, criado antes de 1997, quando passou a ser um projeto da Fundação Rio das Ostras de Cultura, a Orquestra Kuarup teve sentido mais simbólico do que propriamente técnico, pois é sempre louvável incluir crianças e adultos na música.
Quem perdeu, seja por desconhecimento ou até pelo trânsito da véspera de feriado, intensificado por acidentes em rodovias, ainda pode ver Big Gilson hoje, mas não poderá mais conferir Naná e seu som afro, que já acompanhou Milton Nascimento e Geraldo Vandré. Ele também já tocou com os mestres Miles Davis e B.B King, além de ter feito música para filmes como de Lucia Murat e até Jim Jarmusch e gravado com Caetano, Marisa Monte e Mundo Livre S/A. Depois de uma carreira internacional, voltou ao país como idealizador do Panorama Percussivo Mundial (Percpan), festival que realizou sua 14º edição em maio em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.
Naná Vasconcelos foi eleito diversas vezes o melhor do mundo pela Down Beat Magazine, considerada a bíblia do jazz, na sua especialidade, o berimbau. O Rio das Ostras Jazz & Blues foi incluído na lista dos 100 maiores festivais do mundo pela mesma revista. Confira a programação completa do evento no site do evento e confira com seus próprios olhos e ouvidos. E aguarde mais notícias aqui.
Rio das Ostras realmente é um cenário maravilhoso para o Jazz!!!
Grande evento e boa cobertura com detalhes interessantes. Marialia Almeida relata com requinte de preciosidade todos os acontecimentos, desde o início até os respiros das ostras... Parabéns!!!