"Colunas, articulistas e crônicas não são muito importantes, um exotismo em um jornal, mas gosto de ler. O sério do jornal não considero sério, pois conheço seus bastidores. Hoje, me informo pela crônica", afirmou o jornalista Nirlando Beirão, autor da coluna Estilo da revista Carta Capital, em sua aula no curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema de São Paulo.
Ele lembra que José de Alencar foi o primeiro grande cronista brasileiro e que Machado de Assis começou constrangido como critico de teatro para depois passar a ser o maior cronista, jornalista e escritor do país, com textos ricos em detalhes e grande faro de repórter. Um século depois viria o mestre Rubem Braga, que fala do pequeno com dimensão poética. Além disso, Nirlando cita Nelson Rodrigues e suas crônicas esportivas; Fernando Sabino e João do Rio, com seus retratos da vida carioca, além de Ignácio de Loyola Brandão.
Nirlando ainda rememora que o carnaval e o futebol se popularizaram na imprensa por meio de crônicas. "O Brasil tem tradição no gênero, que possui vitalidade aqui. Crônica, ao contrário do jornalismo, tem emoção". Porém, lembra que o gênero ainda é muito desprezado. "Marcelo Rubens Paiva é um exemplo. Sua crônica sobre o resgate do engenheiro Vasconcelos, em 2006, no Iraque, concluiu o que muitas matérias não fizeram e de forma impecável. Mas nem o editor deve ter lido".
E sentencia: "Não liguem para hierarquias. E blogueiro, não desista". O jornalista acredita que o que vai restar do jornal com o advento da Internet é a opinião, a coluna e a crônica. "Senão, será péssimo para todos nós, pois todas as outras mídias são fragmentadas". Ele aceita que o jornalismo literário ficou no passado, nas mãos de Gay Talese, Tom Wolfe e Hunter Thompson. "Mas é bem possível que haja um Tom Wolfe escrevendo um blog por aí".
O jornalismo escrito pede leitor: se você estabelecer a arte, seja da crônica, da poesia e dos pequenos contos e artigos, verá que uma série imensa de informações estão a serviço do processo de comunicação. Escrever a crônica é narrar os acertos os conflitos, a contradições sociais e estabelecer uma forma humana de jornalismo. Não que o sangue das matérias policiais não seja importante, não que os espaços políticos tradicionais não seja importante, mas, além disso, temos que ter a arte, e as relações sociais longe do foco oficial. Ou seja: um local na qual quem manda é o bandido não será importante retratar, pra mostrar que o governo é de apenas um segmento social, e não da população como um todo. É preciso socializar a notícia, de forma que ela seja abrangente... Mas é preciso trazer a arte para o cotidiano das pessoas!