Em sua aula para os alunos do curso de criação literária da Academia Internacional de Cinema, o escritor e mestre em letras pela USP Nelson de Oliveira, reconhecido por ter organizado as antologias Geração 90: manuscritos de computador e Geração 90: os transgressores, publicadas pela editora Boitempo, apontou seis autores que possuem uma obra provocante. "Não recomendo levá-los para o campo", alerta. E complementa: "Esses autores sofisticados precisam de manual. É necessário conhecer sua vida e opinião antes de lê-los".
A lista é composta por dois portugueses: Herberto Helder e Alberto Pimenta. Seus outros quatro autores são brasileiros: Campos de Carvalho, Hilda Hilst, Roberto Piva e Maura Lopes Cançado. "Todos são egocêntricos e refinados, possuem inteligência literária e filosófica e nunca vão ser best-sellers. Alguns não são editados por causa de herdeiros, outros encontramos somente em sebos".
Nelson apresenta Alberto Pimenta como o poeta mais irreverente de Portugal. "Ele constrói pequenos enigmas, que não são sucesso em parte alguma". Já Herberto "tenta unir o cotidiano e promove um choque de linguagem coloquial". Sobre Roberto Piva, afirma ser um iconoclasta por excelência. "Ele se aproxima do elemento onírico e flerta com o erotismo através de uma escrita aleatória". E acredita que Campos de Carvalho é vanguardista; "O coloco como o terceiro maior prosador da segunda metade do século 20, após Clarice e Guimarães".
Com relação às vozes femininas, declara que Maura relata de forma crua seus surtos esquizofrênicos em um livro de memórias, Hospício é Deus. "Para mim, tem o mesmo valor que Clarice, pois é confessional e contemporânea". Por fim, fala da prosa onírica de Hilda, que "trata da vida e da morte com escatologia e é desbravadora, inventiva e contundente".
Nelson concluiu com seu ponto de vista sobre o ato de escrever. "Escrever prosa ou poesia é redentor, um momento transcedente que se duplica quando há leitura. A literatura não promete respostas e a criação é honesta até quando mente".
Herberto Helder é simplesmente o maior poeta vivo. Um exemplo é o que ele faz com o soneto de Camões, que apanha um verso e transforma tudo com apenas uma supressão: "Transforma-se o amador na coisa amada" e Helder diz "Transforma-se o amador". Fora o grandioso livro de contos.