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Sexta-feira,
11/1/2008
Kubrick, 80 anos
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Lá pelos idos de 1987, quando eu tinha sete anos de idade, já era fã incondicional de Ludwig van Beethoven. Certa noite estava sem sono e comecei a "zapear" os canais. Parei num filme que me chamou a atenção por ter como trilha sonora as sinfonias do grande mestre alemão. Fiquei encantada, mas logo percebi que não se tratava de um filme normal ou mesmo suave. Era um filme forte, tenso e dinâmico, assim como as músicas de Beethoven, entretanto a violência era explícita. Laranja Mecânica, de 1971, muito tempo antes de eu pensar em nascer, foi-me apresentado dessa forma, assim como o diretor americano Stanley Kubrick.
O filme é espetacular, violento, provocativo, polêmico, beethoveniano, e nos leva a refletir sobre o sistema em que vivemos e como ele trata jovens delinqüentes. A trama é futurista e, para demonstrar o mundo moderno, fala-se uma língua quase própria, algo como "gírias futuristas". Nesse sentido, o livro A clockwork orange (título original), de Anthony Burgess, é mais envolvente. A linguagem das primeiras páginas parece coisa de maluco, nada se compreende, mas com o decorrer da leitura, gírias como "ultraviolência", "druguis" (os amigos Pete, Georgie e Dim) e "o velho entra e sai" (referindo-se a sexo) tornam-se parte do nosso vocabulário e passamos a utilizá-lo em nosso dia-a-dia. Claro que, quem o fizer, passará por louco. De qualquer forma, os agressivos jovens do filme estupram, espancam e, para "eliminar" esse instinto violento, um deles é preso e passa por uma lavagem cerebral tão violenta quanto suas ações.
Outros filmes tão polêmicos estão sendo exibidos no Centro Cultural São Paulo para homenagear a carreira de Stanley Kubrick, que em 26 de julho deste ano completaria 80 anos de idade. Sua ampla obra pode ser vista, gratuitamente, até dia 13 de janeiro, mas, para quem perder, corra à locadora mais próxima e faça da sua casa um cinema com filmes de qualidade. O Centro Cultural exibirá filmes clássicos, famosos, e outros nem tão famosos assim. O público terá a oportunidade de rever ótimos filmes, como Laranja Mecânica, Lolita, O Iluminado, Barry Lyndon, Dr. Fantástico, 2001: Uma odisséia no espaço, Nascido para matar, e alguns dos mais recentes, como De olhos bem fechados, seu último filme; isso para não citar outros tantos.
Kubrick é considerado um excelente cineasta, com várias obras-primas, como as citadas acima; entretanto, há que se dizer que muitos de seus longas são tão lentos que beiram a sonolência. Explico: 2001: Uma odisséia no espaço, de 1968, uma epifania espacial, é classificado como uma de suas grandes obras, e é realmente, para muitos, a melhor ficção científica já produzida. Tal filme inaugurou uma era, foi totalmente original, e Kubrick conseguiu uma eficácia singular em passar o sentido de sua mensagem quando construiu a subjetividade da cena com imagem e música. A contagiante Also sprach Zarathustra, obra de Richard Strauss ― que era para ser provisória ― foi imortalizada nas telas de cinema, trazendo força, intensidade e, de certa forma, personalidade ao filme.
A história da tripulação de uma espaçonave, que é enviada para investigar o aparecimento de um monolito na órbita do planeta Júpiter, mas que possui um computador de bordo que revela tendências psicóticas e decide atacar os astronautas, é definitivamente interessante e possui imagens revolucionárias para a época. Entretanto, é um filme mais para se admirar do que qualquer outra coisa. Para muitos, pode ser chato e tedioso o fato de o primeiro diálogo aparecer somente 20 minutos após o início da película, mas tal fato chama a atenção para o mundo ali apresentado. Realmente, algumas pessoas podem achar o filme tão lento, que terão que ter muita paciência e café para conseguir assistir até o final. Kubrick gostava de assuntos futuristas, estava sempre de olhos bem abertos para o futuro.
Falando nisso, seu último filme De olhos bem fechados, de 1999 ― último filme também de Nicole Kidman e Tom Cruise juntos, pouco antes da separação do casal após 10 anos casados ―, é polêmico e confuso ao mesmo tempo. Como em muitos filmes de Kubrick, há violência, morte, sensualidade e nudismo. Apesar de pouco dinâmico, o filme é envolvente e perturbador. O casal Kidman e Cruise, que viviam uma crise conjugal durante as filmagens, interpreta outro casal também em crise. Depois que sua esposa admite ter desejos sexuais por outra pessoa, o médico William Harford é jogado numa aventura erótica que ameaça seu casamento e que o envolve em um misterioso caso de assassinato. Polêmico sim, mas definitivamente instigante.
Muitas histórias sobre guerra também povoam os filmes de Stanley Kubrick. Glória feita de sangue, de 1957, com o belíssimo Kirk Douglas, passa-se durante a Primeira Guerra Mundial, e tem como trama principal a traição em nome da manutenção do poder. Indo mais a frente na História, mais precisamente à Guerra do Vietnã, temos Nascido para matar, de 1987, em que jovens têm que combater os horrores de tal guerra.
Outro filme polêmico e aterrorizador é O Iluminado, de 1980, que tem como protagonista ninguém menos que Jack Nicholson. Baseado no romance de Stephen King, Kubrick conta a história do escritor que aceita um emprego para tomar conta, junto com a família, de um hotel isolado nas montanhas e passa a ter alucinações. Apesar de receber críticas ferrenhas, O Iluminado sem dúvida é um dos filmes de terror psicológico mais assustadores de Kubrick.
É impossível falar de toda obra de Stanley Kubrick aqui. Vale a pena conferir o festival em sua homenagem ou mesmo alugar os DVDs, para que se conheça a obra desse polêmico cineasta que faleceu em Londres, em março de 1999, logo após finalizar seu último filme.
Para ir além
Kubrick, 80 anos
Postado por Tatiana Cavalcanti
Em
11/1/2008 às 02h23
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