No meio desse turbilhão de lançamentos na mídia e nas rádios de novas bandas de rock e cantoras de MPB, é difícil encontrar algo que chame a atenção pela qualidade, originalidade e irreverência. Um dos lançamentos dessa semana me chamou a atenção justamente pela tentativa ― acredito que bem sucedida ― de misturar "mais-do-mesmo" com modernidade. O jovem compositor Jorge Sampaio, conhecido e auto-denominado como Tupiniquin, estréia no cenário musical hoje com seu álbum Made in São Paulo (lançado pela gravadora Curve Music) apostando em um som de qualidade que resulta num caldeirão cheio de boas referências.
O trabalho inteiramente autoral tem pitadas de rockà la Los Hermanos, samba, pop e muito suingue. As melodias de suas canções me lembraram muito as da banda Berimbrown, mas diferente da proposta dos mineiros, Tupiniquin não pretende levantar a bandeira do orgulho black: ele apenas levanta a bandeira do sincretismo musical, característica forte da música brasileira, que originou um pop descolado. As canções falam de amor, cotidiano e até de música. Estrangeirismos nas letras deixam à mostra uma grande influência do movimento tropicalista. Os arranjos são muito bons, bem variados e originais. Na interpretação, creio que ainda deixa a desejar um pouco, mas tendo em vista que o disco foi composto e produzido inteiramente pelo artista, já merece respeito.
Tenho a impressão que o nível das idéias e os apetites intelectuais/culturais definem os ciclos no jonalismo cultural, que podem ser áureos ou medíocres. Neste momento, contenta-se com o muito pouco e com o mesmo. Não há hoje, por exemplo, lugar para um caderno com as ambições do Fim de Semana da Gazenta na era Daniel Piza. A falta de continuidade, o excesso de juveniilismo, como dizia Pepe Escobar, tem algo a ver com isso. É tudo uma pena, mas o tempo não vai parar, não é?