Eu gosto de viver em São Paulo, mas não no seu ritmo. Conquistei o que hoje muitos conquistam que é poder trabalhar em casa. Eu não agüento o trânsito daqui, eu nunca ando a passos ágeis e rápidos, saio pouco e só quando quero ou realmente preciso. Mal faço uso dessa tal internet. Sou quase alérgico a ela.
Foi muito boa a experiência de dividir meus dias neste blog. Foi muito gratificante ler vossos comentários, mas aqui eu vivo em outro ritmo.
Aqui eu amo a minha solidão e o silêncio é muitas vezes o meu idioma. Onde fermento palavras. Aqui eu posso calar em português, minha língua.
Aqui, internet para mim é uma coisa chata. É como pegar trânsito ou ter que andar rápido. Moro em São Paulo, mas vivo em minha casa. Faço de tudo para evitar o estresse, a mania da pressa, quem me conhece sabe que chego sempre uma hora antes da hora marcada. Não toco, espero. Há quase sempre um café, sempre um livro nas mãos ou em processo na minha cabeça. Eu espero com calma. Não faço parte de nenhum grupo. Não leio jornal, quase não assisto TV. Não torço pra nada.
A Lu, minha namorada-esposa, é quem responde meus e-mails e recorta pequenas notas ou matérias que ela sabe que podem me interessar.
Nunca ouço rádio porque amo a musica e por isso sempre sei o que quero ouvir. Tenho um amigo importador que consegue tudo o que é mais improvável em CD e eu escuto como quem ora.
Tudo isso para dizer que, aqui, infelizmente o blog para mim não funciona.
Aqui há minha escrivaninha, que é o meu laboratório, os livros que estudo, todas as musicas que eu quiser ouvir e café sempre fresco que eu mesmo faço.
É cruel, mas sincero o que digo.
Sei que pode parecer ingrato, e já falamos aqui sobre gratidão.
É quase tão cruel quanto dizer: aqui, eu não preciso de vocês. Mas a verdade é que aqui eu não posso precisar de vocês.
Porque assim é São Paulo.
E aqui nasci e fui mal criado.
E de qualquer forma eu os tenho comigo e vocês me guardam. O respeito e o carinho, que vocês tem por mim, é recíproco.
Honestamente, adoraria tomar um café com cada um de vocês e talvez isso aconteça. Somos um grupo pequeno. Se me virem em uma palestra ou evento, não tenham vergonha: digam que foram desta nossa irmandade. Desta nossa pequena sociedade quase secreta chamada... blog.
Minha mais profunda gratidão e até um próximo café.
Lourenco Mutarelli, no seu blog, que acabou no ano passado.
Não conhecia quase nada sobre Lourenço Mutarelli. Já tinha feito um contato com você, através do filme: "O Cheiro do Ralo". Não me surpreendi, pois a solidão do personagem me lembra muito o tom que você usa para descrever sua vida. Tudo isso é muito triste, me parece que você está se escondendo da vida. A vida tem que ser compartilhada, esse é o maior desafio que o Criador nos deixou. O desafio nosso de cada dia é atravessar essas muralhas todas de concreto e tocar, sentir, compartilhar... Até onde sei, a única oportunidade que temos é esta vida. É agora que temos que criar os laços que irão nos servir de passaporte para a eternidade. Tem que ser hoje. Vá ver o sol, as estrelas, está difícil, eu sei, mas é possível. É preciso. Fale com seu vizinho, saiba quem ele é, o que ele deseja. Torça pelo seu time, por sua cidade, por seu País, pela humanidade. Volte, isso vai te fazer chorar, sentir raiva, mas vai trazer muitos risos e afeto. Vai dar mais cor a sua vida. Vai te deixar mais humano.