Também mediada por Samuel Titan Jr., a mesa "Estética do Frio" foi a mais lúcida até aqui. Martín Kohan, Nathan Englader e Vitor Ramil, por ordem de importância, estiveram soberbos e definitivos. O argentino Martín Kohan, autor do livro Ciências Morais, apontou o propósito de sua obra de forma essencialmente clara, a saber: interessa ao autor descobrir qual é o mecanismo que estimula a obediência. "Por que as pessoas obedecem? Muitas agem assim porque desejam obedecer." Em Ciências Morais, Kohan mostra um pouco desse mecanismo aparentemente sem importância, mas, sem dúvida, essencial. De sua parte, Nathan Englander falou do escritor que deseja ser outro. O deslocamento em sua trajetória, conforme suas próprias palavras, é fundamental, pois dos lugares em que viveu ele conseguiu extrair matéria-prima para sua literatura, ou sobre "como as histórias afetam as cidades". Já Vitor Ramil, insistentemente questionado sobre a relação entre escrita e fotografia, acabou por confessar que sua formação é mais imagética do que livresca. Num daqueles momentos únicos da Flip, um convidado assumiu que a televisão teve um papel fundamental em seu projeto literário.
David Sedaris, o último convidado do dia, foi saudado e celebrado como um dos principais humoristas norte-americanos. O tom da palestra foi sempre irônico, sarcástico até. Sobre o fato de ter sido escolhido humorista do ano pela revista Time, Sedaris riu de si mesmo: "Fui indicado no dia 10 de setembro de 2001. Três dias depois, a revista já tinha outra capa, pelos motivos que todos já devem saber". O jornalista Matthew Shirts, que teve a incumbência de apresentar Sedaris, não teve dúvida em assumir sua postura como parte da platéia. Também, pudera: as sacadas do autor, que considera seus escritos como não-ficção "com algum espaço", tiravam risos até dos tradutores. Piadas à parte, acerca do seu processo criativo, Sedaris esbanjou sinceridade ao afirmar que escrever, para ele, é fazer contas sobre quais palavras ele deve usar quando elabora suas histórias. E a platéia, claro, aplaudiu...
A expectativa para este sábado é, sem dúvida, Neil Gaiman, a despeito de Contardo Calligaris e Alessandro Baricco, cujo lirismo promete encantar os presentes na Flip. Cees Notebom e Fernando Valejo, com bastante polêmica, questionam o consenso na mesa "Paraíso Perdido". Por fim, Tom Stoppard com o rock do Shakespeare. A conferir.
Este ano a diversidade temática e o diálogo com outros sistemas significativos só vem enriquecendo a versão da Flip que homenageia nosso querido Machado de Assis. Estou curiosa por demais com os autores italianos. Abraço!