Para mim, a Flip 2008 foi norteada pela palavra verdade. Não sei se foi intencional ou não, mas foi essa palavra que prevaleceu nas entrelinhas das histórias contadas pelos autores.
A primeira triste verdade é que ninguém se importa muito com Machado de Assis. O objetivo da festa era homenageá-lo, mas, infelizmente, ele não foi muito lembrado.
A segunda verdade é que ninguém agüenta mais os autores lendo parte de sua obra durante a mesa, é insuportável. Espero que na próxima Flip isso acabe, ou pelo menos diminua.
Mas, a maior verdade de todas estava no plano metafísico. Aprendi que ser verdadeiro é mais do que questão de ética, é fundamental para sobreviver em alguns lugares. Explico:
David Sedaris, um dos maiores humoristas norte-americanos, contou que suas crônicas são classificadas pela revista New Yorker como não-ficção. Dessa forma, todas as referências feitas pelos seus textos, das maiores às mais insignificantes, são checadas para garantir que mesmo a piada deve ser 100% verídica. Paradoxal, né?
Duas horas antes, Guilherme Fiúza e Misha Glenny comentaram que a visão ocidental sobre drogas deveria mudar. É antiga e retrograda! Fiúza explicou que o discurso de "não compre drogas porque você está sustentando o narcotráfico" não possui força retórica para conscientizar 95% da população. Glenny arrematou quase que fazendo uma prece: "por favor, vamos ter uma conversa adulta sobre drogas".
Para mim, o que ambos pediam era que colocássemos a hipocrisia de lado e discutíssemos nossos assuntos pautados na verdade e não em mitos sociológicos ininteligíveis.
Na verdade, os dois jornalistas acima pregaram o mesmo que David Sedaris e sua New Yorker: que o mundo seria melhor caso a verdade prevalecesse.
Talvez isso a cultura norte-americana possa nos ensinar: a quinta emenda, da Constituição Federal americana, permite ao Réu não falar, mas, caso fale, presumir-se-á que estará falando a verdade, sob pena de perjúrio.
David Sedaris dá outro exemplo: nos EUA não é vergonha ser rico e ser sincero. Não é falta de educação perguntar quanto você ganha ou quanto custa seu relógio.
Pare um pouco e pense. Imagine um mundo onde a verdade sempre dominasse. Talvez isso eliminasse o tão famigerado jeitinho brasileiro, mas com certeza dormiríamos mais tranqüilos. A prioridade seria pautada pela verdade mais chocante, pela real urgência.
Nesse sentido e considerando a utopia que escrevo acima, com os dedos cruzados para poder mentir que prego: conte você também piadas 100% verdadeiras!
Daniel, não acho que a verdade seja a resposta para tudo, afinal, uma mentirinha é o que faz a nossa vida social ser suportável. Imagina que todos dissessem tudo o que pensam uma das outras? Não teríamos como andar na rua! "Essa blusa é horrorosa, vc engordou, esse sapato não combina com a roupa, seu cabelo está com um corte péssimo, essa não é sua esposa e eu vou contar para ela..." Frases que é melhor guardar para si mesmo!