O crescente interesse do mercado editorial brasileiro pelo chamado jornalismo literário continua rendendo boas edições. A última delas é uma compilação de textos publicados na imprensa internacional ― principalmente Inglaterra e Estados Unidos ― em diferentes períodos dos séculos XIX, XX e XXI. Além do nome pomposo, O grande livro do jornalismo (José Olympio, 2008, 378 págs.) chama a atenção pelo caráter histórico e pela qualidade literária dos 55 textos curtos, escritos por gente do quilate de John Steinbeck e George Orwell. Muito antes da turma de Capote e Gay Talese reivindicar a paternidade do jornalismo literário, escritores consagrados ― ou apenas iniciantes à época ― já colocavam a boa prosa a serviço do jornalismo factual. Daí que a união de elementos literários com temas jornalísticos teve o seu debute muito antes do new journalism norte-americano, que foi, talvez, o período de maior visibilidade do jornalismo com requintes literários.
Os registros de guerra certamente fazem parte do começo desse flerte entre literatura e jornalismo. De John Hersey, com seu famoso registro pós-bomba atômica (Hiroshima), a Robert Fisk, que cobriu conflitos no Oriente Médio para jornais ingleses, os temas bélicos povoam grande parte de O grande livro do jornalismo. Mas há espaço para perfis fabulosos, como o escrito por John Gunther, que analisa em detalhes a personalidade de um Hitler ainda em plena atividade, e fatos históricos, como o assassinato de John Kennedy e o julgamento de nazistas em Nuremberg. E como para a boa literatura não existe tema ruim, não surpreende o emocionante relato em primeira pessoa do ― ainda ― correspondente de guerra Winston Churchill, sobre a sua fuga de uma prisão da África do Sul, em 1900. Mais do que pautas assinadas por escritores que ganhavam a vida como jornalistas, os relatos do livro são verdadeiras peças literárias, que, por conta do talento de seus autores, transcendem ao relato frio e preguiçoso das pautas dos jornais diários. Textos que trafegam na tênue linha entre o ficcional e o factual e que mostram como o jornalismo diário pode ser inteligente e saboroso.
Ótimo lançamento, e ótimo texto! Só faço uma ressalva ao "basta talento..." Podia ter terminado sem essa frase, afinal, alguns dos autores presentes no livro bem diriam que não há talento, mas muito esforço. E só mesmo com muito suor para escrever com detalhamento e rigor literário, desafiando o prazo curto do jornalismo e seu imediatismo. Eis uma qualidade invejável do new journalism: obrigar o jornalista e o leitor a pararem por um instante para reviver o que poderia ter passado, se tratado de outra forma, como mera informação. Foi um desafio a uma ordem. Não foi talento, né? ;-)
Abs!