Demorei para escrever para este Especial sobre as Olimpíadas porque queria falar de algo mais do que superar limites físicos, mentais, pressões familiares e (UFA!!) ainda da mídia.
Gostaria, na verdade, de escrever aos sobre-humanos. A quem o que descrevi acima é verdade, faz parte, mas não é tudo e, para isso, precisei esperar o fim das Olimpíadas: presenciei e acompanhei o que mais me emocionou, me dando prazer e satisfação: as paraolimpíadas.
Parabéns para a China! Parabéns para os E.U.A.! E um parabéns especial para a Grã-Bretanha!
O primeiro país provou que ter mais de 1,1 bilhões de pessoas importa: foi o primeiro colocado tanto nas Olimpíadas, quanto nas paraolimpíadas.
O segundo demonstrou que os números podem e devem ser analisados de acordo com a geopolítica. Para tanto, sua imprensa afirmou que o que vale em uma competição não é a quantidade de medalhas de ouro, e sim a quantidade total de medalhas conquistadas (raciocínio que concordo em parte, não posso mentir).
Já a Grã-Bretanha, como havia dito, merece um parabéns especial. Um país pequeno, que não usou de artifícios para reler os números como os E.U.A., ficou na segunda posição dos jogos paraolímpicos. Não seria isto uma demonstração de cidadania, a oportunidade de todos se desenvolverem?
Notemos alguns fatos, que, se não têm tanto a ver com o artigo, pelo menos são importantes para a cultura geral (inútil, quem sabe):
As paraolimpíadas foram muito pouco noticiadas, não obstante a força de vontade, a superação e a luta diária contra os mais desconhecidos medos e desafios de seus integrantes.
Enquanto nas olimpíadas os homens querem virar máquinas, nas paraolimpíadas os homens querem virar, simplesmente, homens.
Mesmo um escândalo, que contarei abaixo, não foi capaz de retirar das paraolimpíadas os deficientes mentais. Acompanhe os primeiros e bonitos passos da criação dessa competição:
A primeira paraolimpíada foi realizada em 1960, na cidade dos gladiadores (nada mais emblemático), Roma. Mas sua história é um pouco anterior: o neurologista Sir. Ludwig "Poppa" Guttman realizou uma competição com veteranos da II Guerra Mundial, que haviam sofrido lesões na medula. O enorme sucesso da competição culminou nas paraolimpíadas.
Mas mesmo onde deveria reinar esplendor pela idéia, e a celebração no convívio entre os seres humanos, sem preconceitos ou hostilidades, existe a gana por vencer. Os espanhóis, nas paraolimpíadas de 1980, escalaram no seu time de basquete atletas sem deficiência mental. Pelo menos não foi desta vez que uma atitude isolada e de má-fé prejudicou a festividade, mas na época se pensou tirar a oportunidade dos deficientes mentais de participar da competição pela dificuldade de medição do grau de deficiência. Retomando a linha mestra do artigo, o pouco caso dedicado às paraolimpíadas representa o descaso da sociedade com os deficientes e a pouca sensibilidade que nos rodeia.
A nossa cidadania pára nas vagas preferenciais oferecidas em shopping centers e farmácias, sempre com muita reclamação e desrespeito por parte dos "cidadãos".
Onde está nossa consciência?
Queria viver em um mundo com mais homens e menos máquinas...
Prezado Daniel, boa noite. A sua opinião acerca das paraolimpíadas foi muito bem estruturada, pois são estes homens que realmente representam a superação e a força de vontade dos seres humanos.
Abraços, Isabel
Caro Daniel, numa sociedade justa, nenhum homem precisa esforçar-se para fazer as vezes de herói. Ao contrário, uma sociedade justa implica o deleite de apenas ser.