Com o atual aquecimento e expansão do mercado editorial brasileiro e o surgimento de Prêmios Literários como o recém-criado Prêmio São Paulo de Literatura (idealizado pela Secretaria de Estado da Cultura, cujo prêmio é o maior do Brasil: R$ 200 mil), chegamos a um curioso quadro de formação de cartel literário ― obviamente no sentido figurado do termo jurídico ― que acaba por empobrecer a fauna da criação literária brasileira.
No dia 28 de agosto, o júri do famigerado prêmio de literatura brasileiro que comemora seus 50 anos de existência, o quelônio literário Jabuti, confirmou entre seus 10 finalistas da categoria Romance os seguintes livros: O filho eterno, de Cristovão Tezza; O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho; e Antonio, de Beatriz Bracher.
No dia 3 de setembro, foi a vez do júri do Prêmio Portugal Telecom divulgar as 10 obras ― são diversos gêneros que concorrem a um prêmio único ― de seu concurso. Entre elas, estavam: O filho eterno, de Cristovão Tezza; O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho; e Antonio, de Beatriz Bracher.
O 23 de setembro foi marcado pela "agitação" da divulgação dos vencedores do Jabuti 2008. O resultado final, coincidência ou não, foi (na ordem de premiação): O filho eterno, de Cristovão Tezza; O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho; e Antonio, de Beatriz Bracher.
E finalmente, no último dia 16 de outubro, o polpudo Prêmio São Paulo de Literatura fez seu solene anúncio de finalistas de melhor romance. Pela força da repetição, vou repetir os nomes aqui, mesmo já tendo se tornado óbvio para o leitor a lista: O filho eterno, de Cristovão Tezza; O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho; e Antonio, de Beatriz Bracher.
[...]Certamente eu não estou contestando o valor literário das obras finalistas. Que esta constatação seja vista sob a ótica do fluxo de mercado editorial, sem pretender fazer, sob hipótese nenhuma, juízo de valor em relação aos autores e suas respectivas obras...
Pois é. Não sei se é um cartel, mas talvez haja uma dificuldade de olhar para a obra em si. Nosso tempo é de imagens e ícones menores, quando nomes surgem e voam na cabeça de pessoas que não fazem o que deveriam, ou seja, perceber obras sem querer saber do currículo de beltrano, mesmo porque podem ignorar um futuro Nobel. Saramago foi serralheiro, sem formação, eis um prêmio legítimo. Mas não podemos evitar o marketing, esse dragão indiferente que cospe fogo e as pessoas saem correndo para ver. É corporativismo, é coisa de bando, matilha. Tudo depende do marketing. "O filho eterno" morreria em segundos sem o marketing e boca fácil do povo. Abraço.