O fim dos jornais não só vem sendo muito alardeado, como me lembra muito o podcasting, sendo que o último, por sinal, já foi tema de especial aqui do Digestivo. E ambos me lembram muito o mito da caverna de Platão.
Os jornais são um meio de comunicação que, através de seus Editores (ou controladores), elegem uma vertente cultural, da política ao futebol, para que seus jornalistas, em tese, a sigam. A partir disso é que se cria o rótulo (sem tom pejorativo) de jornais de esquerda, direita ou centro.
Na verdade, não ter um direcionamento, mesmo que pequeno, seria, parafraseando a propaganda do Estadão, ficar em cima do muro, o que levaria o periódico ao descrédito e, provavelmente, à falência, já que não haveria identificação com nenhum grupo consumidor.
O problema surge com a decrescente demanda pelos jornais em papel, tendência acelerada após o advento da Internet 2.0. Os leitores/consumidores querem se informar na Web, rapidamente e de graça, se possível.
A questão é que isso gera um fenômeno descrito por Nicholas Negroponte, do Massachussets Institute of Techlogy (MIT), de cada um ser, diariamente, seu próprio editor. Ele nomeou isso de "The Daily Me" ("O Eu Diário").
Nicholas D. Cristof, do The New York Times, por sua vez, diz que "essas notícias selecionadas por nós mesmos atuam como narcóticos". Eu complemento: colocando-nos em uma redoma utópica, onde as nossas ideias mais medíocres poderão ser avalizadas por milhares de pseudogênios.
Nos podcastings a mesma coisa pode acontecer. A idolatria por um crítico ou jornalista pode fazê-lo esquecer que existem outros tão bons ou melhores do que ele.
Chegamos, desta forma, à "caverna" descrita por Platão. Você se isola em uma posição, todas as fontes reforçam essa mesma posição dando argumentos cada vez mais "inteligentes" e você nunca vai sair dali.
As sombras do outro ponto de vista lhe darão medo e você achará que a luz do sol lhe cegará!
Não quero ser pessimista, mas Estados totalitários e radicais possuem um único meio de comunicação. O fim do jornal em papel, somado aos podcastings, será a perfeita definição do "O Eu Diário".
Bem-vindo a um mundo de extremistas, que nós sabemos muito bem do que são capazes...
Não acredito que o jornal vá acabar, assim como não acreditava que o livro fosse acabar com a invenção da internet. Tem público para todos. Pegar o papel na mão não tem comparação com ler na internet.