Olá! Sou aluna de Jornalismo da Cásper Líbero/SP e para o meu trabalho da disciplina Jornalismo Especializado escolhi o site Digestivo. A atividade consiste na elaboração de um texto analítico, e entro em contato para que possamos conversar um pouco mais sobre a publicação. Vi que vocês já possuem muuuitas informações no site, então gostaria de saber coisas mais informais, como por exemplo: ambiente na redação, relacionamento, escolha, e um pouco de informações mais específicas (como escolhem as pautas, como se dão as reuniões com os correspondentes de outros estados)...
1. Antes de lançar o Digestivo, você fez outro site. Poderia falar um pouco sobre ele (se era na mesma linha de cultura, possuía funcionários?)
Era um site pessoal, mas na linha das "homepages" de antes, ainda esta' no ar (dentro do proprio Digestivo).
Não era jornalistico como o Digestivo é. Eu estava descobrindo a publicação na internet (através de newsletters). Então era mais para distribuir meus textos e armazená-los. Durou de 1999 a 2000 (quando comecei o Digestivo).
2. Quais foram as maiores mudanças quando surgiu o Digestivo?
O Digestivo sempre quis ser uma revista, com mais vozes, além da minha. O Digestivo tinha a ambição de ser um veículo, enquanto meu site era apenas um espaço pessoal mesmo.
3. De onde veio o nome da publicação?
Eu sempre gostei muito de cultura e queria que as pessoas se interessassem mais pelo assunto. Logo, quis fazer da cultura um tema mais "digerível", digamos assim, mais "digestivo" mesmo. Daí o nome. No começo eram apenas as minhas notas, então o Digestivo era uma forma de a pessoa se atualizar, sobre o que estava acontecendo culturalmente, e se aprofundar se quisesse (através dos links).
4. E de onde vieram os colaboradores para o Digestivo?
No início, eram pessoas que eu conhecia e que escreviam como eu, sem ter onde publicar livremente (o Digestivo surgiu antes dos blogs e das ferramentas de autopublicação). As dez pessoas iniciais foram chamando outras e o proprio site foi atraindo novos colaboradores ao longo dos anos. Hoje os colaboradores atuais quase não têm mais relação com aquelas dez pessoas do início...
É virtual, porque as pessoas se relacionam através do e-mail. Aqui, no escritório, fico apenas eu (o Editor). Nem meu Editor-assistente fica aqui mais. Já tive um Editor-assistente aqui e uma estagiária, mas conseguimos automatizar os processos a ponto de fazer praticamente tudo pelo e-mail agora. E pelo site, é claro.
Cada colaborador cadastra suas matérias diretamente. O Editor-assistente revisa e agenda a publicação. O site se atualiza sozinho: quando muda a data, ele muda a capa automaticamente. Também, assim, seguem as newsletters, as atualizações dos feeds e, ainda, do Twitter. Conversamos praticamente todos os dias por e-mail. E temos grupos, tambem de e-mail, de acordo com o interesse (para distribuir os releases que chegam das assessorias de imprensa): literatura, musica, cinema etc.
6. Que características você aponta como mais importantes dos textos do site?
Um registro entre o jornalismo tradicional e a linguagem mais solta dos blogs. Digo que nos inspiramos nas publicações impressas de antes da internet mas que os blogs nos revelaram novos formatos e novas maneiras de trabalhar. Pessoalmente, acho que a sustentação, dos veículos do futuro, vai passar pelas experiências que os blogueiros estão fazendo hoje...
7. Já recebeu muitos textos que não foram publicados?
Já, claro. Na verdade, a seleção é mais da pessoa do que do texto. Lemos os textos primeiro, obviamente, mas, se a pessoa combina com o site (é publicada com frequência), acabamos dando-lhe um voto de confiança e ela pode publicar, livremente, o que quiser (vira Colunista).
8. E a nova ortografia? Como estão lidando com isso?
Estamos seguindo. O Rafael, nosso Editor-assistente, fez essa lição de casa melhor do que eu. Estudou as mudanças e vai revisando os textos dos Colaboradores, de acordo com as novas regras, e sugerindo alterações. Ele tambem me deu um dicionário (com a ortografia atualizada), de presente de aniversário; deixo-o aqui na minha frente. Consulto frequentemente e procuro absorver as mudanças.
9. Qual o perfil do leitor do Digestivo?
É um leitor jovem, mas não muito jovem, de nível universitário pra cima, porque tem de gostar de ler (os textos são longos para o "padrão" da internet). Há, tambem, uma geração acima da nossa, de meia-idade pra frente, mas que costuma se irritar quando lembramos que os meios físicos, que eles tanto prezam, vão acabar etc. Há, ainda, uma geração mais jovem que a de universitários, que chega através das discussões que travamos sobre o futuro da internet (Twitter etc.).
10. Como funcionam as reuniões de pauta para o site? E como é o contato com os colaboradores que moram em outros estados?
Não há reuniões de pauta. Uma vez que a pessoa se torna Colaboradora, ela é livre para enviar/cadastrar seus textos. Como eu disse, é mais uma questão de escolher a pessoa do que de escolher os textos. Confiamos muito nos nossos Colaboradores.
Também redistribuímos os releases que recebemos, como já contei, mas ninguem tem a obrigação de escrever textos a partir deles. Funcionam mais como uma sugestão. Se alguém quiser seguir, bem ― se não, continua valendo.
Talvez seja importante frisar que a nossa redação não é 100% de jornalistas, portanto existem pessoas, que publicam no Digestivo Cultural, que não estão acostumadas a seguir pautas (e que provavelmente nem querem ― como os blogueiros)...
A única pauta sugerida, por nós, é a dos Especiais, que acontecem mensalmente (mas são, novamente, sugestões, nunca são pautas obrigatórias...).
11. Por que mídia apenas on-line e não impressa?
Por "n" razões... Chegamos a estudar uma versão impressa (anos atrás) e até chegamos a fazer um encarte, com a FGV (dentro de uma revista deles). Mas as principais razões são (ou foram) os custos proibitivos dos impressos (que, com a queda da publicidade, e das vendas de exemplares, estão minando-os definitivamente). Fora que temos um alcance que seria impossível em papel. E, se tivéssemos começado em papel, provavelmente teríamos "entrado para a história", como tantas publicações culturais brasileiras...
12. Vi que você é engenheiro e rumou para a área digital, porém usando-a como base para a cultura. Você sempre teve interesse na área? E hoje ainda atua em Engenharia?
Sim, eu sempre tive interesse por cultura. Era leitor do Paulo Francis. Do Nélson Rodrigues. E do Rubem Fonseca. E escrevia desde a época do vestibular, fui redação nota dez da Fuvest.
Sempre tive interesse por tecnologia também. Ganhei meu primeiro computador aos 11 anos. Um Apple II+. E, com um livro de Basic, aprendi a programá-lo sozinho. A engenharia foi metade influência do meu pai (também engenheiro), metade desejo que continuar mexendo com tecnologia (fiz Engenharia de Computação).
Digamos que nunca exerci a Engenharia diretamente, embora tenha sempre trabalhado com tecnologia, e com programação. Trabalhei primeiro em bancos; com o pessoal da mesa de operações e, depois, com o pessoal da controladoria (que consolida os resultados). E, no Digestivo, sigo usando a "engenharia", digamos assim, porque toda a programação do site (que não acaba nunca) é minha...
13. No seu Twitter você fala muito sobre mídias sociais. Qual a importância delas para você e para o seu trabalho?
As mídias sociais são a vedete do momento. Na verdade, se voce está na internet (e todo mundo vai estar, não tem jeito), você tem de estar por dentro do que está acontecendo. Não vamos mais ter uma mídia que dure um século sem quase nenhuma alteração (como os jornais). A internet é muito fluida e se você não acompanhar o que está acontecendo, fica para trás. Hoje, graças a essa atenção que dou às midias sociais, digamos assim, o Twitter já é a nossa terceira fonte visitação, depois do Google e depois da "visitação direta" (que vem espontaneamente). Felizmente, tenho prazer em acompanhar os avanços da internet, então quase não é trabalho para mim...!
Conheci o Digestivo em 2003/04 cursando Jornalismo, quando fiz uma entrevista para uma rádio com o Julio, e desde lá sou assídua leitora deste site. Obrigada, Julio, pelo seu empreendedorismo que conquistou um público amplo que precisava de um canal como este.