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Segunda-feira,
17/8/2009
Budapeste, o filme
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Budapeste (2009) é, antes, um filme sobre palavras, que se conformam em língua, linguagem, literatura. Depois, é um filme sobre uma vida agonizante que encontra no improvável algum sentido. E por último, fora estas questões mais literárias que nos interessam, Budapeste oscila entre o filme de arte e aquele ziguezagueante, inapto a se comunicar facilmente.
Com direção de Walter Carvalho e roteiro baseado no livro homônimo de Chico Buarque, o ghost-writer José Costa (Leonardo Medeiros) aceita inserir-se numa nova lógica, a partir do momento em que mergulha no aprendizado de uma língua, o húngaro. Lembra-nos do enigma que é uma língua ao se perguntar, "quando começa uma palavra e termina outra?".
As palavras estão em todos os lugares, ainda que em diferentes níveis. Até mesmo entre as duas mulheres entre as quais está dividido: sua esposa Vanda (Giovanna Antonelli) e Kriszta (Gabriella Hámori), jovem húngara que conhece em uma escala em Budapeste, depois de um encontro de ghost-writers. Vanda, ainda que apaticamente, lida diariamente com as palavras, pois é apresentadora de um telejornal, enquanto uma cena mostra Kriszta lendo para pacientes de uma clínica psiquiátrica. Além de que é ela quem será a mentora de Costa em Budapeste.
Será Kriszta quem irá inseri-lo nesta nova lógica. Nela, ele não é mais José Costa, mas Zsoze Kósta. O encontro é primoroso: numa livraria, Costa tenta ler algumas palavras em húngaro, quando uma mulher lhe entrega um livro. Desesperado em continuar o encontro, corre atrás dela, depois correm juntos, ela de patins, travando uma conversa deliciosa e inteligível. Talvez este frescor pudesse ter sido mais recorrente no filme, cujo tom é demasiado sombrio.
Muito do longa se deve à atuação atormentada e intensa de Leonardo Medeiros, enquanto Kriszta traz a doçura que contrabalanceia o clima obscuro. Já Giovanna Antonelli parece não ter muita consistência em sua atuação, embora sua personagem não tenha intensidade dramática, nem seja bem desenvolvida ― segue numa apatia cuja ambição gira em torno apenas do telejornal da noite.
Se a lógica muda, o registro também. Qual não é minha surpresa ao ver que, tendo menosprezado a poesia enquanto vivia no Rio de Janeiro, é a mesma que de início passa a ser a ferramenta de Costa ao escrever em húngaro. Budapeste, em sua busca por sentidos e identidade, me faz lembrar o tipógrafo e poeta Robert Bringhurst ao dizer, em A forma sólida da linguagem, que "alcançar o significado das palavras não é agarrar as ondas por elas originadas, mas sim perceber as interações entre essas ondulações. Isto é o que significa escutar, o que significa ler; algo incrivelmente complexo, embora os seres humanos o pratiquem no dia-a-dia".
Postado por Elisa Andrade Buzzo
Em
17/8/2009 às 15h57
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