No dia 11 de janeiro de 1985 as portas se abriam na "Cidade do Rock". As chuvas, que castigaram a capital fluminense, transformaram o enorme terreno de várzea (arrendado ao lado do autódromo de Jacarepaguá) num pântano. O boato que circulava na época, antes do evento começar, é que, segundo uma profecia de Nostradamus, um festival na América do Sul acabaria em tragédia. Nem chuva, nem lama, nem Nostradamus. Nada foi capaz de conter o maremoto de sons, cores e atitudes que varreriam a cidade e o país. Era o Rock in Rio. Há 25 anos, o festival que, para muitos, é o Woodstock brasileiro, mudaria conceitos, quebraria paradigmas e colocaria definitivamente o Brasil na rota dos grandes shows internacionais. Era o marco zero do rock no Brasil.
Antes disso, poderíamos contar nos dedos as atrações internacionais que já haviam passado por aqui: Santana (1971 e 1973), Alice Cooper (1974), Genesis (1977), Queen (1981), The Police (1982), Van Halen e Kiss (1983). Esta primeira ― e, até hoje, melhor ― de todas as edições do Rock in Rio trazia bandas como Yes, AC/DC, Queen, Scorpions, Iron Maiden, B-52's e Whitesnake, além de artistas solo como Ozzy Osbourne, Rod Stewart e George Benson. Todos no auge. E James Taylor, que chegou ao Rio em frangalhos, teve sua carreira reabilitada no palco. O festival também trazia atrações nacionais, como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Pepeu Gomes, Lulu Santos, Kid Abelha e Blitz, o que culminaria na explosão da cena roqueira nacional (o BRock). O Rock in Rio ainda voltaria em 1991 e 2001 ― e viraria franquia, sendo exportado para Portugal e Espanha ―, mas foi em 1985 que as comportas foram abertas. Até ali não havia publicações especializadas sobre música no Brasil, a divulgação era sofrível, as informações eram desencontradas e a infraestrutura para shows era ainda mais precária do que a que temos hoje. Com o sucesso do festival, todo um mercado relacionado à música pop e rock foi finalmente descoberto.
Roberto Medina penou como nunca para idealizar o Rock in Rio. Até ali, ele estava mais familiarizado com artistas como Barry White, Julio Iglesias e Frank Sinatra ― e sofreu para lidar com as bizarrices dos roqueiros. O caso mais conhecido foi o de Ozzy Osbourne, que naquela época já era conhecido pelo fatídico episódio em que mordeu um morcego vivo no palco. Pelo seu contrato, ele estava proibido de abocanhar qualquer animal vivo durante o show e foi fiscalizado por membros da sociedade protetora dos animais. Outro problema foi o sino de uma tonelada que o AC/DC usava na música "Hell's Bells". Se fosse usado, a estrutura do palco cederia. A banda bateu o pé: sem sino, não há show. Tiveram que produzir uma réplica de gesso do sino, e as badaladas foram acionadas eletronicamente.
Era uma época de muita curiosidade, de efervescência e de transição ― política e comportamental. Entre goles da cerveja Malt 90 (também conhecida como "Malt Nojenta"), gírias como "chocante" e a estranha moda "New Wave", a imprensa (não especializada) ainda sofria para encontrar a melhor cobertura para o evento. Os roqueiros, que ficaram conhecidos pelas alcunhas de "metaleiros", "agressivos" e "barulhentos", mostraram a sua cara e uma nova geração ali se desenhava. Dez dias, 1,38 milhão de espectadores e muitas toneladas de lixo depois, o Yes encerrava o último show do Rock in Rio. E o rock no Brasil nunca mais seria o mesmo a partir dali.
Tinha seis anos quando aconteceu e pode parecer mentira, mas lembro dos jornais (TV) falando sobre o assunto e mencionando o espetacular público. Ali aprendi a amar o rock'n'roll e admirar bandas como Queen e Iron Maiden. É uma pena que não interesse aos empresários realizar um novo evento. Simplesmente demais.
O primeiro LP que comprei? "Rock in Rio" (não ao vivo, mas uma coletânea de bandas que viriam ao Brasil). Minha primeira aventura com uma fita de vídeo-cassete? Gravar os shows do Rock in Rio. Os primeiros textos de rock/pop que li? Revistas sobre o Rock in Rio. E por aí vai... Me dá vontade até de chorar, tamanha a importância que estes tempos tiveram sobre minha vida. E, claro, sobre a de milhões de garotos. Obrigado por me dar esta boa lembrança, amigo Diogo!
Cara, lembrei de quando estava em Santa Catarina de férias e implorei à minha mãe para ver o AC/DC e o Iron Maiden, tive que arrumar meu quarto e lavar a louça para obter o "alvará" e poder ficar até mais tarde para assistir aos shows! Tinha 8 anos também. E foi meu começo no mundo do Rock and Roll. Abraços, Luiz