Musica erudita e os bibelôs | Digestivo Cultural

busca | avançada
66131 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Obra Social Santa Edwiges e CAT Móvel
>>> As mentiras que contam para você: um convite à reflexão sobre a autoilusão
>>> Iniciativa de Mila Nascimento, clubes literários promovem debate sobre violência doméstica
>>> EBS e Compactor Store promovem oficina de customização de shapes de skate no Shopping Vila Olímpia
>>> Ribeirão Preto recebe o BRAVI.LAB: um encontro de oportunidades no audiovisual
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
Colunistas
Últimos Posts
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
>>> Piano Day (2025)
>>> Martin Escobari no Market Makers (2025)
>>> Val (2021)
>>> O MCP da Anthropic
>>> Lygia Maria sobre a liberdade de expressão (2025)
>>> Brasil atualmente é espécie de experimento social
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Paradoxos da modernidade
>>> Build a Fort, Set That on Fire
>>> Saudosismo
>>> Lembrando a Tribo
>>> Bate-papo com Ruy Castro
>>> Um nu “escandaloso” de Eduardo Sívori
>>> Um Paulo Francis ainda desconhecido
>>> A vida mais ou menos
>>> Tirando o Cavalinho da Chuva
>>> Um autor novo
Mais Recentes
>>> O Sol É Para Todos de Harper Lee pela José Olympio (2020)
>>> Livro Amor Como Estilo De Vida de Gary Chapman; Couto pela Sextante (2009)
>>> Livro Contos Góticos Russos de Nikolai Gogol, traduzido por Oleg Almeida pela Martin Claret (2020)
>>> Ver De Novo. História Sobre O Meio Ambiente de Alberto Caeiro e Outros pela Ática (2013)
>>> Livro Coleção Travessias A Viuvinha de Jose De Alencar pela Moderna (1993)
>>> Frente Al Espejo de Liani Moraes pela Moderna (2005)
>>> Livro Poliana Coleção Clássicos Para Todos de Eleanor H. Porter; Silveira pela Nova Fronteira (2016)
>>> Comprometida: Uma História De Amor (edição De Bolso) de Elizabeth Gilbert pela Objetiva (2011)
>>> Livro O Trompete de Jackie Kay; Campello pela Record (2002)
>>> As Sete Leis Espirituais Para Os Pais de Deepak Chopra pela Rocco (1998)
>>> Livro Coleção Escolha A Sua Aventura A Gruta Do Tempo Volume 1 de Edward Packard; Granger pela Ediouro (1985)
>>> The Little Prince de Antoine De Saint-exupery pela Egmont Childrens Books (2009)
>>> Livro Regimentos Internos Como Fonte de Normas Processuais de Paulo Mendes de Oliveira, pregácio de Fredie Didier Jr. pela Jus Podivm (2020)
>>> Os Operarios Com Dentes De Leite. Historias Sobre O Trabalho Infantil de Sigrid Baffert pela Sm (2006)
>>> Livro La Passionnante Histoire Des Jeux Olympiques de Dominique Georges E Outros pela Cle Internat (1996)
>>> De Repente Nas Profundezas Do Bosque - Portugues Brasil de Amós Oz pela Seguinte (2007)
>>> Serões da Provincia de Julio Diniz pela J Rodrigues; Livraria Chardron (1927)
>>> Livro El Manual de Los Inquisidores Coleccion Documentos de Nicolás Eymeric, traduzido por Amanda Forns de Gioia pela Rodolfo Afonso Editor (1972)
>>> O Visconde Partido Ao Meio de Italo Calvino pela Companhia Das Letras (1996)
>>> Desafios De Cordel de Cesar Obeid pela Ftd (2009)
>>> O Contractador dos Diamantes (autografado) de Affonso Arinos pela Livraria Francisco Alves (1917)
>>> Livro Coleção Aventura De Ler As Aventuras De Tibicuera de Erico Verissimo; Brandão pela Globo (1993)
>>> Livro O Deus e o Imperador de Sam Meekings, traduzido por Heloísa Mourão pela Argumento (2012)
>>> Livro Coleção Série Bom Livro Helena de Machado de Assis E Outros pela Editora Atica (1992)
>>> Sangue Fresco de Joao Carlos Marinho pela Global (2003)
BLOG >>> Posts

Sexta-feira, 3/9/2010
Musica erudita e os bibelôs
+ de 2400 Acessos

É atribuída a Antonio Lizárraga (1924-2009), artista plástico argentino radicado no Brasil, a afirmação de que a arte não tem que ser bonita: quem desejar coisas bonitinhas deve procurar bibelôs na esquina. A advertência poderia ter sido afixada à entrada do auditório do SESC Pinheiros, na noite de 25 de agosto de 2010, quando a apresentação do conjunto Percorso Ensemble serviu de fecho à programação dedicada à música erudita, levada a cabo ao longo dos meses de julho e agosto deste ano.

O Percorso Ensemble é uma formação camerística criada em 2002, voltada para a interpretação do repertório erudito dos séculos XX e XXI. Integrado por três percussionistas (Márcia Fernandes, Herivelto Brandino e Ricardo Bologna, seu fundador), além de um violoncelista, Douglas Kier, a audição no SESC Pinheiros concentrou-se na execução de peças de diferentes compositores, reunidas sob o instigante rótulo de teatro musical. Afinal, a ópera Otelo, de Verdi (1813-1901), por exemplo, baseada na obra homônima de Shakespeare (1564-1616) para teatro não deixa, de certo modo, de ser acolhida dentro dessa mesma rubrica (como todo gênero operístico, por sinal). No caso particular do Percorso Ensemble, o que ocorreu no palco revelou-se como algo muito próximo das conhecidas performances.

O espetáculo foi precedido das palavras do grande violonista Fábio Zanon, curador do evento, que didaticamente sintetizou sua proposta. Em primeiro lugar, ele observou que as peças a serem executadas tinham sua âncora no questionamento dos limites da arte ― aqui compreendidas as fronteiras da tela, do texto, do palco e da partitura ―, iniciado na passagem do século XIX para o século XX e que chegou ao clímax no pós Segunda Guerra Mundial.

No campo musical, segundo Zanon, a música, além de ater-se a seus elementos tradicionais (melodia, harmonia e ritmo), passou a levar em conta outros aspectos como o gesto, a textura sonora, o visual e, remetendo-se a John Cage (1912-1992), o próprio silêncio.

Depois de recordar que, de uma certa forma, essas considerações já haviam sido tecidas na Renascença, época em que veio à luz, entre os séculos XVI e XVII, o gênero operístico, em uma ruptura dos limites ditados pelas polifonias medievais, Fábio Zanon discorreu sobre cada uma das peças do programa: Bravo, de autoria do brasileiro Tim Rescala (1961- ); Siegrifiedp, de Mauricio Kagel (1931-2008); Les guetteurs de sons, de Georges Aperghis (1945- ); Vous avez du feu? e Musique de table, respectivamente sob as assinaturas de Emmanuel Séjourné (1961- ) e Thierry de Mey (1956- ).

O espetáculo traduziu-se em um desafio a ser encarado com humor e por ouvidos bem informados, daí a pertinência das explicações de Fábio Zanon.

Em Bravo, os quatro intérpretes mimetizaram uma plateia, tirando sonoridades das palmas, dos brados de "Bravo", dos pedidos de "Bis" e de outros ruídos que habitam, com os fantasmas, as salas de concerto: o papel da bala desembrulhada, a tosse irritante e o espirro inconveniente.

No único solo da noite, o violoncelista Douglas Kier interpretou Siegfriedp, aproximadamente cento e vinte variações criadas por Kagel, compositor argentino-alemão, sobre o anagrama musical formado pelas letras do nome do cellista Siegfried Palm. A partitura ― uma tabela montada nas seis faces de um cubo ― apareceu desdobrada sobre a estante do músico e integrou a performance. A interpretação, além das cordas dos instrumentos, incluiu tanto a respiração como a voz do intérprete.

Por seu turno, Les Guetteurs de sons ("Os espreitadores" ou "vigilantes" ― como quis Fabio Zanon ― "de sons") revelou-se como um estudo sobre o gesto do músico ao tocar seu instrumento. Os três percussionistas, de forma dramática, assumiram cada qual o seu tambor, soltando frases sobre a escuta do silêncio e a música que provém da natureza, não apenas da água que corre como das entranhas das conchas do mar.

Em Vous avez du feu? ("Você tem fogo?"), diante da plateia deixada às escuras, o Percorso Ensemble, com os integrantes vestidos de negro, acendeu e apagou repetidas vezes oito isqueiros, criando a ilusão de pequenas estrelas luziluzindo no palco.

Finalmente, a última peça da noite foi Musique de tables ("Música de mesas"), em uma alusão ao gênero praticado nos séculos XVII e XVIII, de composições escritas para acompanhar banquetes. Para interpretá-la, os mesmos percussionistas postaram-se diante de mesas e delas tiraram sons dos mais diversos, desde a passagem ritmada da ponta dos dedos e das palmas das mãos até o batuque.

Da mesma forma que grande parte do público tem dificuldade em aceitar como expressão artística certa parcela da produção visual contemporânea (considerando contemporâneos artistas já tidos pelo olhar especializado como canônicos, a exemplo de Jackson Pollock, 1912-1956), parte expressiva dos frequentadores das salas de concerto são refratários à música erudita atual.

Se, no quesito artes visuais, o desdenhoso espectador médio, afirma que "qualquer criança pode fazer aquilo" ou que "um pincel molhado em tinta e amarrado no rabo de um burro pode produzir algo semelhante a aquilo", a desqualificação, na música, chega por meio de observações de que a criação é barulho.

Sim, naquela noite nenhum dos presentes saiu do auditório do SESC Pinheiros cantarolando, ainda que mentalmente, trecho de uma das peças interpretadas, como contrariamente aconteceria ao fim de um concerto de Rachmaninoff (1873-1943). Mas, por outro lado, a música daquela noite, apesar de cerebrina ao excesso, exigindo a companhia de explicações prévias, à guisa de bula indicativa de seu modo de uso, é a canção de nosso tempo. Dissonante, agressiva, por vezes capaz de despertar discreto riso, porém, no todo patética, como um míope conduzido por um cego, à procura de redenção em um labirinto escuro.

Parafraseando Oscar Wilde (1854-1900), no prefácio do romance O retrato de Dorian Gray, a música do Percorso Ensemble pode ter instigado na plateia os complexos sentimentos de Caliban ao olhar para o espelho do palco e, ao mesmo tempo, reconhecer-se e não se reconhecer.

Nota do Editor
Eugenia Zerbini venceu o Prêmio SESC Literatura 2004 na categoria romance, com o livro As netas da Ema. Tem contos publicados no jornal Rascunho, revista Cult e no blog do caderno "Prosa e Verso" de O Globo.


Postado por Eugenia Zerbini
Em 3/9/2010 à 00h16

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Correção e transgressão de Ana Elisa Ribeiro
02. The Charles C. Leary de Julio Daio Borges
03. Molloy, de Beckett de Marília Almeida
04. Rufo, 80 IV de Julio Daio Borges


Mais Eugenia Zerbini no Blog
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Língua Portuguesa - 9ª Ano - Panoramas
Cristina Mülle e Outro
Ftd
(2019)



O Foco das Coisas e Outras Histórias
Ana Cecilia Carvalho
Quixote
(2024)



Iniciação á Temática Ambiental
Genebaldo Freire Dias
Gaia
(2002)



O Rei do Ferro Vol. 1
Maurice Druon
Bertrand Brasil
(2014)



Kil Dong - Crônicas de um Guerreiro - Nº 3
Oh Se Kwon
Panini / Planet Manga
(2007)



Fé em Deus e Pé na Tábua
Roberto DaMatta
Rocco
(2010)



Caminho policial Magdalen Nabb - 4 livros
Magdalen Nabb
Editorial Caminho
(1985)



Gestão de Projetos
Luís César de Moura Menezes
Atlas
(2009)



Listo Español A Traves De Textos parte A
Esther Maria Milani
Moderna



Disparos do Front da Cultura Pop
Tony Parsons
Barracuda
(2005)





busca | avançada
66131 visitas/dia
2,5 milhões/mês