Devia ser uma experiência impressionante ler Grande Sertão: Veredas sem saber o verdadeiro sexo de Diadorim. Depois que colocaram Bruna Lombardi para viver a personagem ― naquele seriado da Globo ―, estragaram completamente o pedido de Guimarães Rosa, ao final do livro, para que o leitor não revelasse essa informação ao sugerir sua leitura aos amigos. (E cá estou eu estragando-o de novo ― mas nem tanto quanto a Globo...) O drama central do romance é a convulsão interior de um jagunço (macho pra caralho) apaixonado pelo colega ― o qual sabia os nomes dos passarinhos, das árvores e que costumava chamá-lo para assistir ao lindo pôr-do-sol, essas "frescuras" ― e os caras anunciam a Bruna? Sacanagem. Rosa deve ter dito do lado de lá: "O menino aqui tá muito puto, muito puto!" (Hilda Hilst me contou que, após ler Grande Sertão, telefonou ao Rosa para elogiar o livro e ele respondeu: "O menino aqui é muito bom, o menino é muito bom".)
Ok, o livro se sustenta perfeitamente, mesmo com o conhecimento prévio desse dado. As peripécias, os inúmeros dramas e principalmente a linguagem empregada são de primeiríssima linha. Mas, hoje em dia, lê-lo é como assistir ao filme O Sexto Sentido sabendo de antemão que o cara está morto desde a primeira sequência. São duas leituras completamente diferentes: em uma o cara é um gay enrustido, um homem lutando contra o que julga ser um desvio da ordem natural; noutra, ele é apenas um joguete da ironia do destino. E ambas são extremamente únicas e válidas.
Pena que Riobaldo ― assim como Mark Twain e Monteiro Lobato, ambos por suposto racismo ― será preso após a aprovação de uma lei anti-homofobia. Quem leu o livro sabe como ele passou a tratar mal Diadorim, conforme seu sentimento tornava-se mais intenso.
'Pena que Riobaldo - assim como Mark Twain e Monteiro Lobato, ambos por suposto racismo - será preso após a aprovação de uma lei anti-homofobia...' - Lobato era racista. E Riobaldo seria preso por não querer ser gay? Texto com ideia interessante e péssimo final.
Olá, Duanne. O comentário sobre a "homofobia" de Riobaldo é bastante claro para quem leu o livro e ainda se lembra de como ele tratou Diadorim quando o sentimento tornou-se muito forte. Percebo que você não o leu, uma pena. Abraço!