"A força de dominação da cultura anglófona é assunto que pervade tudo. Ninguém mais esmagado por essa força do que o próprio Francis. Ficava no Rio sonhando que conversava no Algonquin. Fez esforço para desprovincianizar o ambiente cultural brasileiro. Tema também meu. Desde sempre. Mas eu não tive oportunidade de bater cabeça para ele. Simplesmente não calhou, no ritmo de sucessão de gerações, de termos um encontro amigável. Glauber, que o arrasou na Bahia, cooptou-o aqui. O Algoquinho carioca grilou com o surgimento de minha geração: Millôr contra Chico, Pasquim contra 'baihunos'. Zé Agrippino, em 1968, achava Francis um atraso de vida. Seus esforços de aggiornamento me atingiram em Santo Amaro, em 1959, na revista Senhor. Devo muito a Francis.
"Passou parte da juventude em Nova York: natural que visse em mim o tabaréu. Ele percebia que entendo mal o inglês falado. Algo da crítica seria utilizável. Até por mim. Mas o que há de bebop ou cool em 'Tropicália', 'É proibido proibir' ou 'Nine out of ten'? E ele me descreve talvez com imagens já então velhas da paródia de grupo que foi Doces Bárbaros. Depois da entrevista, Marina Schiano fez um jantar para mim, com Mick, Bianca, Jerry Hall, Warhol. Este me perguntou se eu não o queria para fazer a capa do meu novo disco. Era Uns. Respondi que já tinha capa (de Oscar Ramos), em que apareço de cabelo curto e terno. Mick Jagger nunca teve cabelo curto. O fato de ele ser inglês encandeia Francis. Jovens paulistanos com veleidades de gênios da crítica o seguiriam como cães alemães."
Escolhi o trecho acima de um post maior pela seguinte frase "Devo muito a Francis" e, também, pela frase "Jovens paulistanos com veleidades de gênios da crítica o seguiriam como cães alemães" ― que ele dirige a alguém entre o Daniel Piza e a geração da internet, que passou pelo Digestivo (critiquei ele na época em que usou uma expressão parecida ― se for eu, Waaal, que honra)...