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Quinta-feira,
14/4/2005
Faroeste Caboclo
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(...) num momento (...) ficou claro para mim que aquilo que eu chamava de poesia era, na verdade, prosa. Imagine: meus poemas tinham personagens e até mesmo tramas. A prosa era a minha praia. Tanto que cheguei a transformar um poema (...) num conto (...) Parei de vez com a poesia. Parei por respeito à poesia e aos poetas que respeito. De vez em quando, alguns de meus contos acabam se desenhando, do ponto de vista da forma, quase como poemas. Mas não é poesia. É prosa. Tudo isso, porém, não me impede de continuar a dar atenção especial, como leitor, à poesia. Acho que qualquer prosador que se preze precisa ir à poesia. É lá a oficina onde se gesta a linguagem.
* * *
A literatura, assim como toda forma de arte, é a grande esperança contra a barbárie. A arte, que deve sempre causar algum tipo de desconforto, serve pra que não nos esqueçamos nunca de que somos humanos. Se, ao escrever, eu olhasse para a realidade sem nenhum tipo de filtro, certamente não estaria fazendo literatura, mas jornalismo. E isso não iria me interessar. Acho que também está ligado ao meu processo de criação. Veja: nunca sei muita coisa sobre o que vou contar no momento em que começo a escrever. Investigo, avanço, e vou "me contando" aquela história.
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Este nem é o pior momento do jornalismo cultural brasileiro, embora espaços importantes continuem a ser fechados (...) Há, é claro, o problema crônico do número de leitores no Brasil - é só pensar nas tiragens dos livros em relação ao contingente populacional. Lê-se muito no Brasil, mas quase nunca literatura. Outro dia, conversando com o Fernando Paixão, (...) falamos sobre a perda da importância social que se abateu sobre a literatura. É assustador. (...) há uma série de outros apelos muito mais sedutores para corações e mentes do que o livro. (...) No que acredito: vão sempre existir leitores e profissionais de mídia, não sei em que quantidade, que devotarão um amor absoluto à literatura e aos livros. Talvez vire uma espécie de seita, não sei. (...) É com essa gente que nós, escritores, vamos dialogar.
Marçal Aquino, num entrevista velha que encontrei só hoje.
Postado por Julio Daio Borges
Em
14/4/2005 às 17h20
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