Anualmente, encerrado o Festival de Inverno de Campos do Jordão (SP), tem início a tradicional Festa da Cerejeira promovida pela colônia japonesa local. Trata-sede evento em que os descendentes dão continuidade à tradição de comemorar a florada destas árvores.
Lamentavelmente, uma chuva de granizo fez cair boa parte dos botões e das primeiras flores. Entretanto, mesmo prejudicadas as árvores têm muito que mostrar. O suave cor-de-rosa das flores causa-nos a impressão de que nosso sentido da visão é insuficiente para conter tanta beleza. Há algo de espiritual que exige certo silêncio interno. Um rosário de pássaros vem alimentar-se do néctar das flores, das próprias flores, ou sob as árvores. São saíras, saís, sanhaços, tico-ticos, periquitos, sabiás-laranjeiras e beija-flores que satisfazem qualquer observador. Deitar-se sob a sombra destas árvores repousando a cabeça no colo amado e ouvindo a música tradicional tocada ao longe é um prazer cujo efeito repousante estende-se no tempo.
Acreditamos que a cultura japonesa seja de riqueza extraordinária. Há muito a conhecer de sua música, dança, teatro, jardinagem e culinária. Assim, a organização do evento poderia esmerar-se na apresentação da prata da casa, como sabe muito bem fazer. Permitir certa intromissão cultural empobrece a festa e nada prova ou acrescenta.
Dos três finais de semana dedicados à Festa, dois já se passaram. Quem quiser perambular em meio ao jardim das cerejeiras poderá fazê-lo nos dias quatro e cinco de agosto. Não há ingresso.
Flores de Cerejeira, de Onitsura (1660-1738)
Olho para as flores,
Olho e as flores espalham-se
Olho e as flores...
Crescem as flores
Crescem e depois caem,
Caem e depois...
Lindo mesmo. Florescem, é um deslumbramento, perfeitas, delicadas, a cor sutil, parecem feitas de sonho. Daí a pouco, o primeiro vento as leva. Impermanência e beleza. É como V. disse, há algo espiritual nelas que exige um certo silêncio interno.
Que bom que a colonia japonesa trouxe cerejeiras para Campos do Jordão!