De todas as pessoas criativas que encontrei, Cristóbal Balenciaga (1895-1972) foi a mais dedicada à criação de coisas belas. (...)
Entre os mestres da moda parisiense provenientes de outros países, Balenciaga era o maior. Na verdade, muitos o consideram o costureiro mais original e criativo da história. E era um verdadeiro costureiro, não apenas designer de moda: ou seja, criava o modelo, cortava, costurava, provava e fazia o acabamento das roupas, e alguns de seus melhores vestidos eram feitos inteiramente por ele. (...)
Nunca comentou o trabalho de outros costureiros. (...)
Ele considerava a costura uma vocação, como o sacerdócio, bem como um ato de devoção. Sentia que adornar a forma feminina, que Deus fizera tão bela, era uma maneira de adorar a Deus. Sua abordagem era reverencial, na verdade sacerdotal. (...)
A Maison Balanciaga era como uma igreja, na verdade um monastério. Marie-Louise Bousquet disse: "Era como entrar num convento de freiras saídas da aristocracia". Courrèges, que trabalhou lá, descreveu a atmosfera como "monástica tanto no sentido arquitetônico quanto no sentido espiritual". (...) todas as entradas eram guardadas por mulheres fortes. (...)
Não fazia questão de usar artifícios para conquistar a popularidade. Nunca concedeu entrevistas (exceto uma, ao Times de Londres, ao decidir se aposentar.) Não frequentava a sociedade. (...) Tinha as maneiras de um antigo cardeal do Papa Pio XII. (...) Jamais elevou a voz. Na verdade, o silêncio era a sua norma. Ungaro disse: "Havia nele algo de nobre". (...) Dizia-se que ele não gostava de mulheres, mas não há sinais de que gostasse delas menos do que gostava dos homens. Via-as como cavalos de corrida: "Devemos vestir apenas as puro-sangue". Costumava citar Salvador Dalí: "Uma mulher verdadeiramente distinta muitas vezes tem um ar desagradável".
No entanto, costurava para mulheres. Seu princípio fundamental como costureiro era fazer as mulheres felizes. "Ele gostava de fazer uma duquesa de 60 anos parecer ter 40, e a esposa de um comerciante milionário parecer uma duquesa." (...)
Balenciaga acreditava que suas roupas, quando usadas adequadamente (e era raro uma cliente não seguir suas regras), levavam suas portadoras a uma supercultura sem classes, celestial e infinita, na qual o corpo da mulher, ainda que velho ou com alguns defeitos, estabelecia o que ele chamava de "casamento místico" com suas roupas. (...)
Mas em 1968 (...) ele vinha se tornando uma figura cada vez mais desiludida e melancólica. Os acontecimentos de 1968 - a revolta dos estudantes que a todos parecia um novo começo - foram considerados por ele como uma exibição de selvageria, um ataque à civilização, visão que compartilhava com o perceptivo filósofo Raymond Aron e que demonstrou estar certa. (...)
Mas seu coração já não estava mais ali e ele acabou chegando à conclusão de que as novas políticas fiscais e trabalhistas tornavam a administração de seu negócio cada vez mais desagradável. Abruptamente, como de Gaulle, aposentou-se, fechou a maison de Paris (não havia sucessor possível) e voltou para a Espanha. Morreu em 1972, triste e solitário, um grande artista derrubado pelos anos, uma das muitas baixas da insensatez da década de 1960 - junto com instituições como a Sociedade de Jesus, a universidade de eruditos e cavalheiros à moda antiga, as regras tradicionais de decoro sexual, a reticência artística e muito mais.