A Associação Nacional de Livrarias está mostrando que é tão inteligente e visionária quanto os organizadores e participantes da famigerada (e estúpida) Passeata Contra a Guitarra Elétrica, nos idos dos anos 60. Claro, não se trata de mera burrice, mas de covardia e esperteza do pior tipo. Sempre que empreendedores recorrem ao Estado para se defender da justa concorrência e, neste caso, da inovação, quem sai perdendo é o consumidor. Segundo afirma o Estadão:
Bicho-papão digital
Enquanto Amazon e Companhia das Letras fechavam contrato - o anúncio foi feito ontem -, a Associação Nacional de Livrarias, que representa as independentes, já se articulava para mandar carta em que expõe alguns receios com relação ao livro digital para Dilma Rousseff, Marta Suplicy e entidades do livro. Fará isso na próxima semana. Entre as sugestões, a de que a diferença de preço entre e-book e livro físico seja de até 30%. E no caso da editora que vende diretamente ao consumidor, que o desconto não exceda 5%.
O primeiro passo deveria ser, o quanto antes, adotar uma nova postura. É melhor encarar de frente a mudança tecnológica e se adaptar o mais rápido possível. Esse deveria ser o foco. Uma abordagem prática, para buscar soluções que não dependam dos outros, especialmente do governo. Sem pensar que o "novo" é sinônimo de "problema". Há exemplos de outras associações de livreiros. que encararam o mercado digital com objetividade e procuraram se inserir de algum modo. Por que a ANL não se inspira na American Booksellers Association, que fez acordo com a Kobo, nos EUA, quase nos mesmos moldes que a Livraria Cultura, para inúmeras livrarias independentes? Ou, ainda, como fez a Australian Publishers Association, com o mesmo objetivo, na parceria com a The Copia?
Pessoalmente, só posso me sentir pessimista frente à possível reação do governo diante dessa proposta da Associação Nacional de Livrarias. O "Partido" já mostrou diversas vezes sua cara. Espero que ela, a proposta, se perca nas entranhas burocráticas de Brasília.
Olhaí os sacanas numa matéria do jornal O Globo: http://oglobo.globo.com/tecnologia/livrarias-pedem-protecao-contra-grandes-redes-de-books-6959633 O curioso é que pedem proteção para si mas não emitem uma palavra sequer que beneficie autores - que sempre ganharam cerca de 10% do preço de capa (quando conseguem publicar) - e leitores, que, graças aos ebooks, poderão adquirir mais livros com menos dinheiro. Ora, com ebooks os escritores podem ganhar de 35% a 70% do preço de capa! E os leitores poderão se arriscar a comprar um título desconhecido sem, mais tarde, caso não goste dele, sem se arrepender depois por haver comprado um tijolo de papel. Como disse no post acima, isso parece a Passeata contra a Guitarra Elétrica. E eu estou martelando nesse assunto desde 2000!! Tenho ebooks até hoje na eBooksBrasil. Se as livrarias estavam dormindo nos últimos 14 anos (O Rocket eBook é de 1998), o problema agora é apenas delas.
Gustavo, os ebooks só têm o mesmo preço dos livros impressos em países idiotas como o Brasil. Quem manda o preço dos ebooks lá para as alturas ainda não compreendeu o espírito da coisa: comprar um livro impresso é uma homenagem que se faz ao autor - é luxo; comprar um ebook é experimentar uma nova escrita - é praticidade. Se esses caras entendessem de economia, perceberiam que é melhor vender 1000 ebooks a R$1,00 cada do que 100 livros a R$10,00 cada. E por que seria assim se o lucro seria o mesmo? Ora, porque serão 900 leitores a mais!