(...)A tese básica de Sartre é que a consciência humana consiste em sua percepção das coisas fora de si mesma: o ser do para-si [consciência humana] consiste em sua relação com o em-si [o mundo das coisas inanimadas], usando o jargão sartreano. Para introduzir um outro termo técnico (...), a consciência é essencialmente constituída por sua "intencionalidade".
O conceito de intencionalidade não tem nada a ver em particular com a pretensão de realizar algo; é um termo técnico para a capacidade da mente de ter consciência de várias coisas. Se vejo um copo de água ou penso num copo de água ou desejo beber um copo de água, isso significa que a mente está apresentando intencionalidade em relação a copos de água: o copo de água é o "objeto intencional" dos meus diversos estados mentais, o objeto para o qual a minha mente está "direcionada".
Sartre sustenta a tese de que cada ato de consciência envolve intencionalidade, de modo que sua essência é estar voltada para o que ela não é - "ela é o que não é" -, como ele polemicamente expõe. Mas então, ele argumenta, a essência da consciência deve ser o nada, já que nada resta quando os objetos intencionais são suprimidos da consciência. A consciência é puramente direcionada a objetos, sem natureza interna própria, sem uma essência intrínseca. Então é isso o que fundamentalmente somos como centros de consciência - nada. E é esse nada que se encontra na raiz da nossa liberdade: sendo a consciência nada, não temos natureza; somos apenas o livre desempenho da consciência sobre o mundo - uma consciência espetada, por assim dizer.
Existe sempre uma distância entre consciência e aquilo de que ela está consciente, já que a consciência não se reduz inteiramente aos seus objetos, e nessa distância repousa a nossa liberdade. Daí o lema existencialista: "A existência precede a essência". Somos antes de tudo liberdade bruta e somente adquirimos uma natureza como resultado das nossas escolhas. A personalidade é escolhida.(...)
Colin McGinn, na melhor definição que já li do existencialismo (porque eu não li Sartre...).